Viagens pelo Ceará LXX
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
Nisso um dos outros jogadores resolveu falar:
- O que dizem é que ele puxou ao pai e que o mal é de família. Já o tio dele, era um desordeiro de marca maior. O pai pelo menos parou de beber mas, o Jairo pegou dez anos de cadeia, mas só cumpriu sete, por ter matado um de tiro aqui. Foi beneficiado por ter bom comportamento, mas quando saiu da cadeia estava meio doido e vivia pelo meio da rua falando alto, porém durou pouco e morreu também.
O Chico voltou a falar:
- Não acho o Brucutu violento, ele não é de se meter em briga, ultimamente eu acho que nem bebe mais. Vive pelas estradas e pelas ruas falando coisas que até são verdades. Acho que ele mistura o que aprendeu e o que muito reprimiu pela criação que teve. Diz que um homem emocionado fica burro, demonstra muita raiva quando fala.
Se alguém intervém falando alguma coisa como que duvidando dos conhecimentos dele, então é aí que ele endoida.
- Perguntei se sabiam o que ele havia estudado na Faculdade.
Parecia que era sociologia.
- Perguntei se havia mais alguém na cidade que se comportasse como desajustado. Respondeu que ali havia um cidadão que vivia ébrio, havia desertado do exercito e descaradamente confessava que havia levado chifre lá em Fortaleza. Quando pegava em dinheiro se embriagava e dizia absurdos. Xingava os colegas de bebedeira e diz que sua ex-mulher é a terceira pessoa depois de ninguém. Se chamava Zé da dona Júlia é era boa praça quando sóbrio, mas quando bebia, o assunto era um só: os desenganos amorosos. Costumava dizer que toda mulher, casada ou não que olhava pra outro, estava avaliando os pros e os contras deste com os do marido, namorado ou pretendente delas. E que em matéria de casal, tem gosto pra tudo nesse mundo. Tem marido que gosta de ser corneado e tem mulher que gosta de levar peia. Fala sobre penalidades de outros países onde imperam mutilações, castigos corporais e até mortes como pena por traições.
O Zé da dona Júlia, está quase todo dia no bar do Tetê no mercado velho. O homem tem a cara da tristeza misturada com raiva, revolta e insatisfação. Está sempre olhando pras pessoas e coisas com um jeito de quem não gostou. É um sujeito amargo quando embebido no álcool. Teve bom estudo e fala coisas bem coerentes mesmo quando embriagado, mas como não existe forte que leve sempre vantagem pra cachaça, ele aos poucos vai perdendo a dignidade e mesmo com menos de quarenta anos já mostra fortes traços de desgaste. Tem sempre uma frase dura para consertar os que ele acha errados. Diz coisas sem nexo sobre a história do passado em suas conversas de delírio pois, depois que muito bebe, sai pelas ruas se segurando nas paredes como um cego, e aí vai se arrastando e como que conversando com elas. Nessa caminhada que tanto faz ser numa rua com sombra ou com sol ele vai esbravejando pornografia, dizendo coisas escabrosas e indecentes e misturando tudo. Demonstra preferencia por conversar com as paredes, não se dirige à pessoa alguma pelas ruas, não retruca nem reage como o Brucutu, é tanto que ninguém perde tempo falando nada com ele.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro