CADA DIA UM DIA CONTIGO SENHOR

Contos Evangélicos

Robério era um rapaz de classe média baixa. Robério viveu sua história com Deus nos anos 80. Sim, meu caro amigo; acredito que Deus existe. Não por causa da história que vou contar, mas, sobretudo por causa do que vi e ouvi nos sertões de Campos.

- Robério num vai para escola não! Nenhum som foi ouvido do quarto.

- Robério! Nada. Nenhuma evidência de que o moço havia dormido em casa. Sua mãe Anacleta era uma mulher evangélica que temia a Deus e respeitava os homens. “Onde está Robério?” Pensou a senhora cristã Pentecostal. Anacleta procurou o filho na Vila de Campos inteira. Não se conformando, a senhora decide ir a Aracaju. “Quem sabe ele esteja na casa de Maridalava”. Maridalava era uma senhora que fora casada com o irmão de Anacleta. Então, era tia de consideração como se diz aqui em Campos.

- Graças a Deus Maridalava!

- Amém Anacleta, mas, por que?

- Robério não está aqui não?

- Anacleta mulher, Robério nunca mais andou por essas bandas!

Coração de mãe sente as coisas como a terra seca do sertão sente quando a trovoada vai chegar. Anacleta sabia que algo estava errado com seu filho.

Robério era um moço franzino; de cabelo curto, pele branca e olhos claros. As feições do rapaz pareciam que seus ancestrais haviam vindo de algum país do leste europeu, exceto, pela testa curta – um traço bem típico do mestiço brasileiro – havia um negro na família. Pedro, o finado pai de Anacleto morreu de uma bicheira de porco. A ferida cresceu; cortaram um pedaço de sua perna, depois, não havia mais o que cortar. Desde então o jovem magricela Robério passou a frequentar a casa de Anubio, este era um cidadão dado a todo tipo de coisa que a imaginação humana pode alcançar. A moda era a cola, a famosa cola de sapateiro.

- Puxa aí, rapaz! Robério inalou o conteúdo do saco. A cada inalada seu coração acelerava e seu corpo se tornava possuído pelas substâncias do produto. Alguns meses depois Robério estava nas ruas de Salvador cheirando cola e praticando alguns furtos “para manter o vício”. Com o passar do implacável deus cronos os pulmões e nervos de Robério estavam afetados. Um grupo de assistência a moradores de rua achou o rapaz debaixo do viaduto perto da favela Bonocô. Levaram o rapaz para um abrigo. Procuraram uma forma de avisar a família, mas, Robério não se lembrava de nada, nem tinha documentos. O rapaz era, então, um morador de rua, viciado na cola e no crime.

Sua mãe pediu oração à igreja. O grupo de senhoras Trabalhadoras de Cristo foi acionado. Todas as quintas feiras havia oração específica pelo filho de Anacleta: “Senhor nosso Deus; Deus criador dos céus e da terra e de tudo que nela existe; tem misericórdia de Robério e o traz de volta para a família!” O grupo perseverou; a força que os movia era o amor e o exemplo da antiga igreja de Cristo que enquanto Pedro estava na prisão ela orava a Deus para que o libertasse. “Minhas irmãs, eu não desisto de meu filho!” “Robério voltará para casa e ainda mais; será um servo de Deus”. A congregação foi tomada por um êxtase tão grande que a irmã Isaura Martins berrava tão alto que vizinhança chamou a polícia. A polícia viu que se tratava de fé, e não atendeu a reclamação. Naquela mesma noite, uma irmã magrinha, muito alva, de cabelo amarrado em forma de um grande cocó profetizou o oráculo do Senhor: “O Senhor deixou as noventa e nove para buscar uma só que estava desgarrada; não se preocupe teu filho será salvo”.

Fazia três anos que mãe e filho não se viam. Até que o Pastor Selmo recebeu um convite para o aniversário da igreja do Bairro Uruguai, em salvador. A igreja do Uruguai era enorme. Muitos carros estacionavam na frente do templo que precisava de pessoas para vigiar os veículos e manobrar o transito para que tudo transcorresse em perfeita paz. Robério soube disso e foi ganhar uns trocados ou pegar um vacilão da vida. Havia um carro, mal conservado, dos anos 70, estacionado onde não podia. Robério chamou o proprietário do veículo, o homem veio ver o moço e pensou: “Mas parece com Robério”. Os dois caminharam juntos lado a lado uns dez metros, depois, Robério some e com ele foi à carteira do homem. “Hoje vou cheirar até morrer” Pensou Robério. Antes de sair da cena do crime, o jovem filho de Campos, olhou pela vidraça do templo e viu uma senhora que lhe dava muita paz. “Eu conheço essa dona de algum lugar”.

Durante os três dias de festa, Robério fez o mesmo. Bateu carteira, fingiu ser flanelinha, e finalmente, roubou o primeiro carro, o dito carro da igreja. “Quem rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Pensou ele.

A polícia encontrou o carro desmanchado uma semana depois. Prenderam Robério e seu amigo Naldo. Os dois foram apresentados à mídia local. O sinal de tevê chegava a Campos; Anacleta vê seu filho depois de muito tempo. “É Robério!” “É ele!” A alegria de sua mãe durou pouco, pois, seu filho foi para a Penitenciária pagar seus débitos. O jovem tobiense havia virado inimigo da sociedade – um bandido.

- Robério, tem uma mulher aí na visita; ela quer te ver. Por um instante o jovem tobiense, agora lúcido por força da cadeia se recordava dos passeios à tarde ao Missionário. Ele e sua mãe comiam pipocas, e falavam sobre os animais: “Robério olha a capivara”. “Mãe, esse bicho nasce onde?” “Sei não; mas deve ser pelas bandas do sul”. Mãe e filho tinham um vínculo invisível, porém, mais forte que a morte. Robério chega à sala de visitas e encontra sua mãe.

- Robério! Não se lembra de mim?

- Lembro! Responde o moço com indiferença.

- Olha, eu venho morar em Salvador para ficar perto de você.

- Carece não dona Anacleta. Eu agora sou bandido. Eu caí nas mãos dos homens, quando eu sair daqui eu não vou ter como pagar o que devo e eles vão me matar. É assim, virou bandido, já era. Você acha que aqui num tem pena de morte não? A polícia executa, depois, pergunta, e o cadáver se cala para sempre.

- Meu filho, então se jogue nas mãos de Deus. Você se lembra de quando nós íamos ao Missionário ver os bichos? Eu te falava do Deus que criou a cada um, pois, Ele estará contigo nessa cadeia e vai te dar um novo nome.

- Que nada mãe! Ao dizer a palavra ‘mãe’, Rogério engasga a voz e chora diante de sua genitora. O Rapaz sentiu o amor mais parecido com o divino – o amor de uma mãe.

Robério passou um ano e meio em regime fechado e o resto da pena ele somente precisava dormir na cadeia. Robério foi ser crente Protestante como sua mãe. Ele disse para si mesmo no dia de sua conversão: “Cada dia, um dia contigo Senhor”. Logo ele se integrou ao grupo e passou a orar como sua mãe três vezes por dia. No emprego ele orava no banheiro, ou de manhã ou de tarde e a noite, quando estava em casa orava em seu quarto. Agora Robério era um rapaz de Deus.

O sol de Salvador amanheceu irado; o calor era insuportável, os ônibus mal cuidados e sempre lotados. Robério ia para o trabalho às sete da manhã. Dentro do transporte estava um ex - detento que tinha uma rixa com ele por causa de droga. O rapaz puxou do bolso uma faca de caça e ameaçava ao jovem crente em Cristo. “Agora que minha vida está se ajeitando, surge esse fantasma do passado”. “Meu Deus me guarde”. Essa foi a última oração de Robério na terra. A lâmina afiada cortou-lhe a artéria. O sangramento foi tão rápido que o jovem crente disse só uma palavra – Jesus!

O enterro do jovem crente foi muito assediado no bairro Bonocô em Salvador. Toda a comunidade que na sua maioria são descendentes de escravos cantavam louvores a Deus pela vida do jovem de Campos. As igrejas da comunidade se uniram e foram prestar homenagem a um vencedor, pois, o rapaz, havia vencido o vício do narco. “Quero dizer a todos que Jesus liberta”. Essas foram as palavras do pastor Rivaldo candidato a vereador. “Se o filho vos libertar verdadeiramente sereis livres”. Essas foram as palavras do pastor J.J Justiniano deputado estadual e fazendeiro em Mato Grosso. “Onde abundou o pecado superabundou a graça”. Essas foram as palavras da cantora gospel Rita Ricarda, aquela que canta rodando como se tivesse um caboclo montado nela. “Não se preocupem, Deus levou porque era a hora”. Essas foram as palavras do pastor Calvinista, empresário e dono de uma revendedora de carros – “aqui tem e você pode”.

Robério é recebido no céu. Um senhor de cabelo branco com um cajado de pastor na mão direita o saúda: “Venha meu filho, eu estava com tanta saudade de você”.

Roosevelt leite
Enviado por Roosevelt leite em 29/04/2013
Código do texto: T4265108
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.