A ESTAÇÃO DE RIACHINHO
O centenário prédio da estação ferroviária de Riachinho, da antiga Estrada de Ferro Paulista, estampava, na sua parede frontal, a palavra ‘’MICTÓRIOS”, em chamativos caracteres e, portanto, plenamente visíveis aos passageiros das composições que, vindas da capital, rumavam ao norte do Estado, indicando que ali havia sanitários à disposição.
Isso era motivo de piadas pelos usuários da estrada de ferro, que já se referiam àquela parada não pelo nome real da cidade mas pelo “apelido” grafado na parede da estação.
As pilhérias a respeito alcançavam grande dimensão, a ponto de um gaiato qualquer haver colado na parede de um dos lavatórios do trem uma folha de papel com os dizeres: “ Amigo passageiro: tenha um pouco de paciência. Espere para aliviar-se quando chegar a Mictórios”.
Constrangida, a população da cidade constituiu comissão com o objetivo de colocar um fim naquela situação. Inicialmente , seus componentes foram ao gerente da estação, que alegou nada poder fazer, pois a estrada de ferro fora transferida para o governo do estado e só na capital alguém poderia tratar do assunto. Não seja por isso, disse o presidente da comissão. “Vamos ao Governador”. De nada adiantou, pois a estrada de ferro fora integrada,recentemente, ao patrimônio da União.
Já bastante agastado, bradou o presidente da comissão: “ Se é o Presidente da República quem manda, vamos já reclamar dele as necessárias providências para que nossa cidade deixe de ser motivo de tantas anedotas”. Na capital da república não foram autorizados a conversar com o Presidente: atendeu-os um assessor, que gentilmente esclareceu não ser possível apagar os dizeres da estação, porque se tratava de imóvel tombado pelo patrimônio histórico e cultural, de maneira que nenhum item integrante do modelo original poderia ser modificado. Sugeriu, entretanto, para que se resolvesse o caso, que se construíssem dois mastros metálicos, com pés de cimento e entre eles se prendesse uma faixa, com o nome da cidade, numa altura tal que ocultasse a palavra que tanto constrangimento causava. O assessor alertou, porém, que de algum modo os usuários deveriam ser avisados de que os sanitários permaneciam à disposição.
Plenamente satisfeitos com a sugestão dada pelo assessor presidencial, os membros da comissão conversaram com o Prefeito da cidade, que mandou fabricar os mastros e confeccionar a faixa.
Uma semana depois, orgulhosamente, os membros da comissão instalaram a faixa, onde se lia:
‘O NOME DESTA CIDADE É RIACHINHO. SE PRECISAR, PROCURE MICTÓRIOS ATRÁS DA FAIXA.”