E fogões de lenha não há mais!
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Depois, o espetáculo do grande fogão de lenha que havia na imensa cozinha da casa, com boa parte da vida da família girando em torno dele, que boca de fogão é balda de mineiro. (E fogões de lenha não há mais!)
Cheiros: o aroma da casca de laranja defumada, as essências das toras, os temperos, os odores da boia quentinha, a fumaça entrando pelo nariz e lagrimando as vistas.
Ruídos: os gravetos e sabugos de milho crepitando para incendiar as lenhas, os estalidos das brasas dos tições agitados para espertar o fogo, os caldeirões de água fervente, a chaleira chiando, o mijinho do café escorrendo pelo coador de pano.
Cores: o preto das panelas de ferro, o cinza do borralho, o verde do musgo das achas, o marrom do bule de ágate, o esmaltado das canecas, o prateado dos trens areados, o dourado das canecas de latas (Pedro Bento era o famoso latoeiro da Vila Nova), o azul colonial patinado do guarda-comida, o brilho do tampo da mesa lavada de velho, o amarronzado do chão atijolado, o colorido desbotado dos adornos de papel de embrulho nas prateleiras, o negro brilhoso da fuligem nas paredes, dos picumãs do teto, da imagem de São Benedito que velava pela fartura da cozinha.
Espaços: os buracos da chapa, a porta do forno, a coluna de tijolos com a chaminé, o suspiro e os canos da serpentina, os disputados cantinhos de ficar encolhido, quentando pé, quentando mão, nos tempos de frio.
Do fogão, tomava-se, ainda, a munição do ferro de passar roupa, da lata de assar broas e do braseiro, que nas noites dos longos invernos aquecia os pés da família em roda, conversando, contando e recontando histórias, botando a prosa em dia, com todos falando de tudo.
Não sai pra rua já, espera um pouco que tá muito frio e o menino pode estuporar, vó dizia, antes de retornarmos para casa.
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(*) Este trecho de narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
(*) Ilustração - fonte: http://paneladebarroefogodelenha.blogspot.com.br
Cheiros: o aroma da casca de laranja defumada, as essências das toras, os temperos, os odores da boia quentinha, a fumaça entrando pelo nariz e lagrimando as vistas.
Ruídos: os gravetos e sabugos de milho crepitando para incendiar as lenhas, os estalidos das brasas dos tições agitados para espertar o fogo, os caldeirões de água fervente, a chaleira chiando, o mijinho do café escorrendo pelo coador de pano.
Cores: o preto das panelas de ferro, o cinza do borralho, o verde do musgo das achas, o marrom do bule de ágate, o esmaltado das canecas, o prateado dos trens areados, o dourado das canecas de latas (Pedro Bento era o famoso latoeiro da Vila Nova), o azul colonial patinado do guarda-comida, o brilho do tampo da mesa lavada de velho, o amarronzado do chão atijolado, o colorido desbotado dos adornos de papel de embrulho nas prateleiras, o negro brilhoso da fuligem nas paredes, dos picumãs do teto, da imagem de São Benedito que velava pela fartura da cozinha.
Espaços: os buracos da chapa, a porta do forno, a coluna de tijolos com a chaminé, o suspiro e os canos da serpentina, os disputados cantinhos de ficar encolhido, quentando pé, quentando mão, nos tempos de frio.
Do fogão, tomava-se, ainda, a munição do ferro de passar roupa, da lata de assar broas e do braseiro, que nas noites dos longos invernos aquecia os pés da família em roda, conversando, contando e recontando histórias, botando a prosa em dia, com todos falando de tudo.
Não sai pra rua já, espera um pouco que tá muito frio e o menino pode estuporar, vó dizia, antes de retornarmos para casa.
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(*) Este trecho de narrativa faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
(*) Ilustração - fonte: http://paneladebarroefogodelenha.blogspot.com.br