DIAS FELIZES DA MINHA INFÂNCIA
Tantos anos se passaram e ainda lembro como se fosse hoje dos dias mais felizes de minha infância. Dias esperados com ansiedade por mim, meus irmãos e primos que nas férias se encontravam para juntos usufruir da natureza e do ar puro do interior.
Era uma casa grande cheia de quartos, mas que pareciam ser poucos naquela época do ano devido à quantidade de pessoas que ali moravam somadas as outras que iam ali passar férias.
Nas primeiras noites sentíamos dificuldades em dormir cedo devido ao hábito adquirido na cidade de dormir mais tarde e ficávamos deitados com a candeeiro aceso conversando, até que meu avô gritava do seu quarto mandando apagar, ordem esse atendida prontamente.
Algumas noites nos permitiam dormir mais tarde, nos dias de debulhar feijão. Alguns vizinhos se reuniam ao redor de uma montanha de vagem que para nossa tristeza logo se transformava em uma montanha de feijão e nós que até então nos divertíamos no terreiro ao redor de uma fogueira tínhamos que entrar pra dormir.
A sala de jantar espaçosa com uma única mobília, uma mesa grande rodeada de muitas cadeiras que acolhia a todos nas horas das refeições.
Na sala de visitas muitas máquinas de bordar que em ritmo acelerado produziam belíssimos bordados chamados de rechilieu que eram trazidos da cidade já riscados e depois de bordados empacotados e levados de volta para venda. O barulho das máquinas até hoje ainda soa em meus ouvidos como uma bela canção que nunca vou esquecer ou deixar de sentir saudades.
Amava ver minhas tias executando aquele trabalho ficava horas sentada olhando o vai e vem dos bastidores e o cordãozinho que corria por entre seus dedos dando diferentes formas aos belos bordados.
Acordávamos cedinho e íamos logo pra cozinha. Lá um fogão a lenha onde todos disputavam um lugar em volta para se aquecer do frio e degustar o cafezinho gostoso e quentinho que minha tia Estela fazia questão de servir.
Amava ver as galinhas no enorme quintal sendo alimentadas por minha avó Maria. Elas corriam de um lado para outro, esbarravam umas nas outras e vez por outra se bicavam na disputa por um grão de milho.
Lembro-me do vô Tôin sentado no parapeito no alpendre da casa feliz da vida dando ordens aos piões e chamando minha avó de Maiá. Não era sempre que estava satisfeito, às vezes se aborrecia com os netos quando teimavamos em tomar banho no açude de onde era retirada a água pra beber. Tínhamos um rio para nos deliciar, mas mesmo assim de vez em quando às escondidas a gente acabava dando um mergulhinho.
Lembro-me do pé de Juazeiro próximo a casa de meu querido tio Cate, dava uma frutinha miúda e gostosa além da casca de seu caule que servia para lavar os cabelos. Um dia desses me disseram que ele resistiu há tantos anos e continua lá dando frutos na sua estação.
A casa grande não resistiu ao tempo e ao vento e hoje já não existe mais, apenas na minha memória. Memória de uma infância linda que não mais voltará, mas que só irá se apagar no dia em que meus pensamentos perecerem.
Obrigada a meus avós:
Antonio e Maria
Obrigada as minhas tias:
Fransquinha, Mariêta, Estela, Vera, Gelcy, Constância, Rosenir, Rita, Lucia, Julieta, Dulce.(Terezinha: Mãe)
Obrigada aos meus tios:
José, Raimundo, Manelito, João, Antonio Carlos.
Um beijo em vossos corações.
Candeeiro - Utensílio destinado a produzir luz, queimando óleo ou gás inflamável.
debulhar - Separar do casulo (grãos de cereais).
Rechilieu -Tipo de Bordado feito a máquina.