Viagens pelo Ceará LXIV

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

LIMOEIRO

Confesso com alegria e sem traumas que na minha infância não fui influenciado por tentações visuais de televisão, eletro doméstico que vi pela primeira vez em casa dos outros, quando eu estava na cidade e contava doze anos ou mais. Lá onde nasci, não havia vizinhos com brinquedos ou objetos que me despertassem cobiça, inveja. O meu mundo era minha mãe, meu pai, minha irmã mais velha, meus os tios e avós. O que havia lá em casa era um rádio canarinho de quatro faixas e a natureza ao redor da casinha com cantigas de passarinhos, grilos, sapos, aves noturnas e madrugadeiras; um luar límpido como é natural na fase gorda da lua; nas noites de breu eu vislumbrava vaga-lumes voando e piscando seus faróiszinhos. O que um menino do campo do meu tempo podia ter como brinquedo! era roladeira de lata de leite, baladeira, berimbau, cavalo de talo de carnaúba, vara com anzol pra cará, fôjo pra preá, arapuca pra bicho de pena. Por eu nunca ter ouvido em outros lugares, graúnas selvagens trinarem iguais às da minha região, estou convicto de que o poeta Gonçalves Dias tinha suas razões ao notar que as aves variavam seus gorjeios de região para região. Do riacho onde eu pescava, ouvia cantigas de jaçanãs e carões. Nas águas bem rasas das margens do córrego, cansei de ver piabinhas de uns três a quatro centímetros que eu matava com um corte rápido de faca dentro da água, para servirem de iscas para peixes maiores”.

Aquela altura, o homem parecia fugir do assunto musical e eu aproveitei para perguntar sobre o que ele achava dos que fazem sucesso com música na grande mídia. E ele respondeu rapidamente que isso de fazer sucesso com arte e especialmente com música, ele, Manfredo tinha umas ideias. Primeiro que o artista devia aproveitar o bom tempo, a onda, a moda, a juventude...

“ Explico melhor, é que cada pessoa é única e tem seu tempo, e que não dá pra assobiar e chupar cana. A fama acontece pra aquele que está no local e no momento certo, e o artista não pode deixar passar a oportunidade, pois noutro momento tudo já mudou. Não esquecendo que isso também depende do interesse dos empresários, dos canais de televisão que fazem novelas e dos outros meios de comunicação que estão interessados em empurrar e massificar algo que lhe dê retorno imediato. Falando de épocas e de artistas na mídia observe: Nelson Gonçalves teve seu tempo, Roberto Carlos já veio noutra década e foi se adaptando às novas propostas de audição, e é desse jeito, uma coisa dinâmica. Já conversei com artistas famosos da música que tiveram muito êxito noutros tempos, hoje uns poucos continuam se apresentando. Contudo aquele brilho da época em que se tornaram famosos já não é o mesmo para os ouvintes das novas gerações, sim, porque pra os antigos fãs daqueles artistas, a admiração continua, mesmo que um pouco pálida.

Mas Para falar das preferências das plateias e do público em geral, conto um caso: certa vez depois de uma apresentação do Fausto Nilo em Natal, ouvi dele frase que não mais esqueci. Disse-me que quem vai dizer se uma música pode fazer sucesso, é o público. Concordei, mas é sabido que muita coisa é imposta, é ditada ao público, e isso ele esqueceu de dizer. Em matéria de arte, raros são os que têm uma clara ideia do que realmente querem. Observei que o gosto das pessoas pode abranger vários campos. Logo, a canção pode dizer algo ridículo, bem-humorado, sex, pode ser um protesto, crítica e tudo o mais que desperte emoções no ser humano, pode até ser em língua estrangeira. Sem dúvida que a maioria do povo quer novidade, quer se divertir com ou sem arte. A massa adota bordões, cria gírias e escolhe o que lhe convém e isso é tão antigo quanto o próprio povo. Creio que isso é a própria cultura... mas afinal o que é mesmo fazer sucesso!

Vamos tomar mais uma pra responder melhor?! – aceitei o convite e ele continuou:

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 25/04/2013
Código do texto: T4258964
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