Maracajá
... fragmentos do conto.
"... e ao entrar no engenho, alarmou:
— Diacho!... que desgracera foi essa? Branca... ô Branca!... o que diacho foi isso aqui?!
Branca era a mulher do nêgo Júlia e que o coronel a criara. Assim era chamada, por fazer jus a sua cor. Magra e não tão alta, porém mais alta que o nêgo, tinha os cabelos escuros, lisos e longos. Os seios, grandes e levantados, eram proporcionais ao seu belo quadril. Viviam juntos há três anos e não tinham filhos.
O coronel gritou novamente:
— Branca?! O que foi que...
Descalça, Branca chega correndo, enxugando as mãos no avental.
— Sim... coroné!
— Cê chama o nêgo Júlia... ligero.
— Mas... ele foi atrás do sinhô!
— Ah... sim, foi mermo! É... ele deve de tá chegando.
— Tô aqui, patrão, pinototou o nêgo, passando pela cancela.
— Mas que diacho de home lerdo!... chega aqui nêgo!
E logo quis explicação.
— Eu num diche que era pro mode pará o fogo no sábado e só tocá na segunda?!
— Era muito barri de cardo de cana, coroné!...Esclarece o nêgo. Os tacho tudo ocupado, num ia dá conta, entonce... resorvi virá a nôte... pra num perder o cardo das cana que tavo moída.
— E pois... e agora!... Como fica as produção da rapadura?!... êches mel que tão nos tacho dos forno que desmoronaro... num dá mais rapadura, dá?
— É patrão... num dá, não. Tá perdido.
— Já pensô... nêgo?! O carregamento de rapadura que nóis is mandá no comboio de quintafera, tá compromitido. O O coroné Jorge Malta lá do Rio Novo, vai desfazê o nosso negoço, e óia... que já panhei parte do dieiro.
E olhando pro aflito empregado...
— Nêgo, te fiz incarregado pela experiença no ramo das rapadura que tu tem... mas a tua teimosia botô tudo a perdê.
— Discurpa, patrão!... eu sei que o sinhô vai mandá nóis simbora, mas...
— Tá... tá.... tá, cala a boca aí! E agora... o que eu faço com os trabaiador do engein! E tentando achar uma saída... Inda sobrô cardo e cana?
— Cardo, não. E as cana... só as brocada que é pra cortá pro gado.
— Já chega por hoje... vô pra fazenda. Amanhã eu resorvo o que faço com ocês.
Depois, falou aos forneiros:
— Ocês vão lá pra fazenda pra num perdere as diária de hoje. Vão arrancá mandioca e... Nêgo!... os outros pião que viere amãiã... leva eles lá pro prantio das cana.
— Cononé!... Indaga Branca. O sinhô num vai mandar nóis...
— Como eu já diche!... amaiã eu resorvo o que fazer com ocês... Trais meu cavalo, nêgo. E finalmente foi pra fazenda.
Ainda no sitio, Branca foi ter com o marido.
— Júia, seu teimoso!... eu num diche que os forno num ia agüentá?!
— Mas mia Branca, nóis ia perdê os cardo, tudim!
— Os cardo!... os cardo!... bom é agora que se perdero as rapadura toda do coroné!
— Eu acho mermo que ele vai mandá nóis simbora! Disse o nêgo.
— Vai mermo!... vai mermo! Inda bem que tu não fez o bruguelo que tanto tu quer!
— Num fiz, não!... tu é que é estera!
— Eu não!... só se é tu que é gorento!
— Pois tu vai vê, viu, mia Branca!... eu inda vô fazê um bacuri aí pro fora, só pra tu vê que eu sô intero!
— Óia, nêgo, num pensa que..."