Viagens pelo Ceará LX
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
E Manfredo falou de outra letra que diz: “entra meu amor fique a vontade e diz com sinceridade o que deseja de mim”... e no final diz: tu és a filha pródiga que volta procurando em minha porta o que o mundo não te deu... não te darei carinho nem afeto, mas pra te abrigar podes ocupar meu teto, pra te alimentar podes comer o meu pão. E ainda a famosa “último desejo”, em que um casal se enamora em uma festa de São João com bilhete, foguete luar e violão e algum tempo depois o romance se acaba. O marido nesse caso parece ter dependido mais da mulher do que ela dele. Ele contudo, diz que seu último desejo, ela não deve negar e é este: “se alguma pessoa amiga pedir que você diga se você me quer ou não, diga que você me adora que você lamenta e chora a nossa separação. E às pessoa que eu detesto diga sempre que eu não presto e que meu lar é um botequim, e que eu arruinei a sua vida e não mereço a comida que você pagou pra mim”.
Continuou dizendo: vejo que há sempre uma dignidade na postura do macho, mas citarei outro exemplo onde a mulher é quem dá o ultimato. Esta foi interpretada pela potiguara Núbia Lafaiete: “se eu quiser beber eu bebo, se eu quiser fumar eu fumo não interessa a ninguém... quem és tu! quem foste tu! não és nada se na vida fui errada tu foste errado também, não compreendeste o sacrifico sorriste do meu suplício me trocando por alguém, seu eu errei se pequei pouco importa, se aos teus olhos estou morta, pra mim morreste também.”
Postura mais original e racional pra época foi cantada por Roberto Carlos: “só vou gostar de quem gosta de mim”.
Bem, quero mesmo é falar de música mas é difícil não tocar nas letras quando se trata de música popular. Eu sei que todos esses são temas e posições diante do sentimento amoroso ou da paixão exacerbada, mas vamos adiante. Vindo para os dias de hoje, sei pelos noticiários e em alguns casos por ser eu mesmo testemunha ocular, e isso não é letra de música, é realidade mesmo que, se dão casos como os da letras de música que Nelson cantava. As chamadas traições amorosas sempre existiram em qualquer tempo por parte do homem e da mulher, mas as letras das canções de Nelson denotam que a mulher é na maioria das vezes a vilã, a traidora, a que se vai e depois que quebra a cara, volta e o homem é aquele no mais das vezes o forte, o que aguarda paciente a chegada do castigo para a sua bem-amada. Então qual um pai bondoso, a perdoa e a recebe como a uma filha desgarrada. Cá comigo imagino que esses temas tenham existido quase que somente só, nas músicas daquela época, e digo por quê, porque o homem era muito mais machista do que hoje, mas mesmo assim naquelas canções ele era colocado como vítima, mas não seria isso para se criar um clima de drama ou algo parecido? Sei lá, sabe lá, quem sabe? Não quero com isso dizer que todas as senhoras-damas daquele tempo formassem uma miríade de santas.
Continuando, ainda nos dias atuais, ouvimos os mesmos temas interpretados pelos chamados bregas, mas o homem de hoje já não é o mesmo passivo das letras de Nelson. Pode até ser que exista algum igual mais é coisa muito rara. A maioria hoje não está nem aí. A outra fatia, os que não aceitam o fim da novela e por estarem muito apegados, partem pra violência contra sua eleitas, e isso também é coisa bem remota, daí resultando grandes estragos para ambos os lados e até a criação da lei da penha.
É aí que proponho já bem animado - vamos tomar mais uma que a noite é uma criança. E ele aceita e continua:
“Há também outro segmento e parece ser menor que o anterior, são os que aceitam os desenlaces de forma bem carnavalesca e adotam os inúmeros nomes que se dão aos trocados, ou seja aos traídos. Alguns destes, se irmanam em associações voltadas para os chapéus de touro, e até parecem se orgulharem da sua condição. É aí que entra o humor cearense cujo ícone maior é o grandão Falcão e suas esculachadas e bem humoradas irreverências em música, que retratam a realidade dos amantes não correspondidos e que encaram o drama na esportiva e na galhofa”.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro