No Leito de Morte
No Leito de Morte
A ignorância é uma dádiva, maldito os que pensam que sabem. Eu na minha medíocre prepotência que só me isolou do mundo. Sou ranzinza, chato de poucos amigos, sinto perder os poucos que tenho, evitei o mundo, para que ele me evitasse e de fato ele me esqueceu.
Vivi provisoriamente, amei de forma superficial com medo da dor, pois pensei que o tormento assolava os entregues aos sentimentos, lutei para não ser fraco. Minha lagrimas, apenas em segredos derramadas.
Vivi sobre lemas códigos de honras, que ninguém mais conhece ou respeita. Já não tem importância.
Não admiti medo, sinto que fui covarde, pois me escondi dentro de cela chamada corpo que agora apodrece. Não contemplei pássaros, flores, por do sol, não brinquei com crianças, quase nunca sorri, apenas de deboche. Concentrei bens para não usufruir, estoquei alimento que estragaram, acumulei conhecimento e por vaidade, não passei a ninguém.
Aproveitei-me do mais fraco, subjuguei os indefesos, omiti culpas, engoli palavras, magoei e não pedi desculpas.
Temi catástrofes por isso vivi cárcere privado, na duvida fiquei calado para não parecer idiota. Discriminei por ser incapaz de compreender.
Preservei o orgulho de me achar melhor que os outros e hoje vejo que somos iguais. Que nada ganhei com a arrogância, exceto o isolamento, quando na verdade a inveja me corrói por dentro, odiei os felizes.
Agora o inevitável, o irremediável, que coloca a todos sobre a mesma condição me bate a porta, e o que fomos e somos? Não interessa, sem uma obra na terra. Há que memória serei revivido? Quanto tempo durará meu legado secreto de vasto conhecimento trancafiado?
Serei apenas uma foto envelhecida num tumulo qualquer, um nome e duas datas, na estrela e na cruz, e assim como os feriados Natal, Ano Novo, Dias dos Pais, o Dia de Finados também será solitário.