No casarão há uma mulher

No casarão amarelo há uma mulher

Com vestido de seda; tomando café.

A dama de preto sozinha na sala;

Entra a moça de óculos!

E nua a moça de óculos apaixonadamente;

Diz que pode gozar a qualquer momento

A moça de óculos com um beijo molhado

Deita e se desfaz!

Retira os óculos a moça de óculos,

Para não ver a imagem o seu horror

Do casarão amarelo no meio da noite!

É amarelo o casarão!

A sala se estende como sala

qualquer !

Com seus cantos e móveis!

Na sala uma placa e uma secretária

Onde mulheres amam umas as outras

Com língua comprida chupando sorvete

Deixando escorrer pelos lábios

Em cima dos dedos!

Boca de porcelana é um vaso!

Mulheres perdidas de amor

Suicidam-se diante do horror!

Como atrizes trágicas; batom florescente;

Fazem gestos obsenos

Nua; cena que o poema observa

Sem nenhuma contemplação

No casarão amarelo no meio da noite!

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 21/04/2013
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