Juventude

O garoto, cansado da longa espera, foi atrás do famoso cafezinho do salão, depois que esvaziou sua xícara, ficou observando o formato que o pó e o açúcar criavam. Uma senhora de certo porte se aproximou do rapaz e perguntou:

-Ainda tem café para uma velha senhora?

-Claro- disse o menino um pouco desconfortável, ele não era bom com as palavras em frente a mulheres.

-Se importa de me servir uma xícara?

-Sem problemas.

-Você é um cavalheiro meu bom jovem, o que faz ainda aqui?

-Vim cortar a crin-o meu cabelo- o garoto se corrigiu antes de ser indelicado.

-Vejamos, já terminou o colegial?

-Estou no último ano.

-E quer exercer que profissão na vida?

-Ainda não sei...

-O que gostas de fazer? Talvez eu possa lhe ajudar- Disse a senhora se empolgando

-Escrever... Mas acho que não sou bom.

-Como você sabe se é bom ou não? Alguém já te disse que não és?

-Não, me disseram que eu morreria de fome se tentasse.

-Então talvez isso seja o seu sintoma de medo.

-Não sei, é?

O menino entregou a xícara a senhora e depois foi à procura de um lugar vago para sentar, a senhora apreciava sua xícara encarando o rapaz, descruzou suas pernas, deixou o café de lado e foi ao seu encontro, retirou uma imagem de sua bolsa com figuras e vultos estranhos.

-Meu rapaz, ajude essa pobre senhora que já não enxerga tanto, o que você vê nessa imagem?

-Bom... É bem estranho, mas me parece com um filhote de lobo solitário, acho que ele deve ter sido abandonado por seu bando... Vejo um caminho aqui- disse o garoto apontando a imagem- talvez o lobo tenha encontrado seu novo dono, talvez esse novo dono fosse filho de um fazendeiro rígido que proibiu a estadia do lobo em suas terras. Ao ver seu pequeno lobo expulso, o garoto escondeu-o sem seu pai saber, depois de alguns meses a criatura cresceu e ficou forte, o menino o alimentava escondido, ambos tinha um carinho pelo outro, um laço forte, mas certo dia seu irmão menor teve a perna dilacerada por um animal, quando o pai correu para socorrer o garotinho que gritava, encontrou o lobo próximo ao menino com sangue escorrendo de sua boca, o pai na mesma hora pegou a espingarda e matou o lobo, seu filho maior tentou impedir tarde demais, ele vinha correndo para contar que o seu lobo salvou o garotinho mordendo a barriga de uma pequena raposa que rondava suas terras, o pai se sentiu mal e depois de ajudar seu filho ferido foi atrás da raposa, encontrou-a alguns metros à frente morrendo, a mesma desmaiou da mordida que o lobo deu, o pai pegou o seu cutelo, e despedaçou toda a raposa para se sentir melhor.

-Nossa- Disse a senhora surpresa- E o final?

-Ainda não sei, só vi isso na imagem.

“Só isso”? Você tem um futuro, não desista dos seus sonhos por causa dos empecilhos, certo?

A senhora deixou o salão com o olhar triste, mas ao mesmo tempo feliz, ela mostrou aquela imagem para vários jovens, e a maioria respondeu que era um cachorro correndo. Ela estava feliz por orientar a juventude, no seu passado ela lecionava para jovens e crianças. Pensou em ser escritora, mas seu marido rico a proibiu de escrever e trabalhar, alegava que ela não precisava. Hoje viúva e emocionada, ela rabisca algumas coisas para si própria.