A festa
Tinha uma cama, e, paralela à cama, uma parede, dois metros se tanto. Sem nenhuma intenção de equidistância, uma mesa se intrometia em algum ponto que tolerasse seu volumezinho de cabeceira. Na parede, uma tomada 220. E um fio, metido a abstrato, saía dela feito cobra-cega e dava no ouvido do homem na cama.
O homem tinha olhos de ET e boca de tamanduá. Era estranho, mas de resto era todo gente composto de carne osso e dente. Nas paredes era fácil notar garrafas de cerveja vazias de coração, secas de conteúdo, descarnadas de substância. Sem nenhum miserável discurso em seus rótulos. Os restos de cigarro no cinzeiro de ouro pareciam as bruxas da inquisição santa, purificação. A cômoda era charmosa, da gaveta do meio às vezes uma lua cheia de nove-horas saltava e alumiava a vida. Debaixo da cama havia um mapinguari malévolo, famélico. Uns crucifixos pendiam do chão por barbantes de cobre e quase roçavam o teto, balançando serenamente, sem nenhuma gravidade.
Na prateleira de livros uma rosa vermelhíssima engolia o leviatã, o homem abriu os olhos.