Viagens pelo Ceará XXXXVI
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
CONVERSA DE ADEJANTE E MANEZIM E E AS OPINIÕES SOBRE HITLER E OS PEIXES DE NUVENS, SUGUNDO O BARBEIRO ALDENOR
Nisso o Adejante resolve jogar a pergunta na direção de outros que estavam nas outras mesa e ninguém soube dizer nada mais e ninguém quis dizer que duvidava do que diziam os mais velhos. Ele porém, fez uma outra pergunta que intrigou mais ainda o caso: - “mas todo mundo aqui já se molhou na chuva, não já"? E ficou olhando bem nos olhos dos presentes e se rindo com aquele sua barba de Papai Noel, continuou depois: - "e quando foi que alguém viu um peixe cair na cabeça de quem está tomando banho de chuva? Ou quando foi que alguém encontrou um peixe vivo pulando em cima de um telhado depois de um temporal?” Isso chamou a minha atenção e a de todos, é tanto que houve um silencio geral pra ele completar: o negócio é o seguinte: não tem peixe de nuvem nada, tem o peixe dos barreiros que depois que a lagoa seca, ele deixa as ovas, em seguida morre, então quando volta a chover de novo os peixes nascem das ovas que ficaram no barro esperando até por mais de um ano para nascer. Mas os matutos que nem eu, não sabem disso e eu só sei porque me disseram, não sou nem cientista! A risada foi geral.
O Adejante é assim, rápido, claro e direto, com ele não há evasivas, os seus casos de viajante são novidades pra os moradores daqui e ele é querido pela maioria dos freqüentadores do bar. Estes aos poucos vão conhecendo suas idéias e ditos. Mas nesses momentos o poeta Manezim parece que se sente perdendo terreno, demonstra não gostar por ter ficado no meio da ralé, sem uma resposta melhor, e logo ele o homem que mais tem leitura e que mais tem livros na cidade, se encontrar no meio daquele bando de cachaceiros analfabetos! É uma vergonha, ora sebo! Não gosta, demonstra contrariedade, saiu perdendo mais uma vez pro barbudo pau d’agua! Cacete!
Ri das palavras e do curioso caso dos peixes e com um abraço me despedi do Aldenor, deixando lembranças para o Petronio e levando comigo saudade da estadia em São Bernardos das Éguas Russas.
QUIXERÉ
Saí de Russas antes das cinco e cheguei à pequena Quixeré quarenta minutos depois. Resolvi ir pela estrada de barro, beirando a BR116. Na estrada se vê casas antigas com pés de ficus-benjamim e algumas com grandes tamarindos na frente. É sertão e se vê carnaúbas, juazeiros e mandacarus destacando-se no grande baixio que forma o vale. Passei por duas passagens molhadas, a primeira cruza o fio de água do riacho Banabuiú e a segunda que é a do Jaguaribe, esta está a menos de um quilômetro de Quixeré.
Durante o transcurso desse trecho fiquei pensando em tudo que ouvi nas outras cidades e concluí que estava sendo muito interessante. Resolvi então não só procurar saber sobre a cultura popular praticada pelas pessoas mas e principalmente conversar com pessoas comuns de preferencia com as mais idosas.
Achei a cidade aconchegante, e vi que tinha como em toda cidade do interior cearense uma igreja matriz e uma praça na frente. Num outro quarteirão onde fica o mercado, parei o carro e pedi informações a uns quatro moto-taxistas que faziam ponto ali em frente. Procurei saber onde havia uma pousada e falei que eu estava fotografando e como um repórter queria saber de curiosidades sobre a cidade e sobre pessoas, tipo caçadores, contadores de casos, tocadores ou fabricantes de rabeca, gente que gostasse de contar estórias de assombração ou coisa parecida. Os taxistas riram e como que pensassem ao mesmo tempo num só nome e me disseram existia velho Aprígio, antigo cortador de palha que também foi caçador e agora era rezador e gostava de contar casos de visagens e assombração. Pedi pra um deles me levar até a casa do homem e disse que eu pagaria a corrida e assim foi feito. Passamos em frente a pousada e reservei uma vaga, depois segui o moto-taxista.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro