O Pivete
Eric do Vale
À medida que várias luzes refletiram nas minhas retinas, senti uma espetada no meu braço seguido de um apagão. Parecia que haviam injetado um litro de morfina em mim. Passado o efeito da anestesia, dei-me conta de que fui parar em um quarto de hospital devido a uma bala que se alojou no peito. Múcio apareceu, informando que todo mundo estava preocupado comigo:
- O pessoal tinha certeza de que sairia dessa, porque sabe que você tem o corpo fechado.
- Corpo fechado? Por pouco, a bala não afetou o coração.
- Vazo ruim não quebra. Cá pra nós, você vacilou feio! Nem mesmo um iniciante faria o que você fez!O que foi que te deu, Adelmo?
Voltávamos de uma diligencia, naquela manhã, e estacionamos em uma padaria a fim de tomarmos o nosso desjejum. Estranhei quando o Múcio comprou um maço de Carlton e indaguei:
- Você não disse que iria parar de fumar?
-Eu não sou igual a você que num dia cismou em não mais fumar e parou.
-Não parei de fumar do dia pra noite coisa nenhuma, foi todo um processo.
Um homem meio amorenado se aproximou do caixa e anunciou um assalto. Entramos em ação, mas ele não se intimidou e ameaçou atirar, conforme fomos aproximando dele. Mirei na sua testa e quando cheguei mais perto, olhei para os seus olhos e abaixei a minha arma...
Nem minha ex-mulher, que era um pé no saco, azucrinava o meu juízo como o chato do Múcio vinha fazendo agora:
- Se fosse um novato, tudo bem! Mas você, veterano Adelmo! Consegue imaginar a reação do pessoal?
- Você contou isso pra alguém?
-Claro que não. Acha que eu seria capaz de colocar a sua reputação em risco? Logo você, o nosso Charles Bronson!Ainda mais, sabendo que dentro em breve vai dependurar a cartucheira! Relatei ao nosso superior que no momento em que você foi ferido “cumprindo o seu dever”, fui obrigado a atirar no meliante que agora deve está comendo capim pela raiz.
-Você apagou aquele infeliz?
- Era ele ou eu? Estou te estranhando, Adelmo!
Recomendando melhoras, despediu-se de mim alegando que precisava voltar ao trabalho. Múcio estava coberto de razão em estranhar o meu comportamento. Não que eu fosse corrupto ou um policial sádico, nada disso. Sempre cumpri o dever com rigor e quando ingressei nessa carreira, rapidamente aprendi a ter sangue frio. Quem sabe não é a hora de pensar na aposentadoria? Pensar em casar de novo, por que não? A minha esposa se separou de mim por causa dessa vida e depois, não me prendi a mais ninguém. Não que eu esteja reclamando, mas esse serviço vem-me consumindo muito.
Mal coloquei os pés dentro de casa, a minha mulher começou:
- Pela sua cara, o dia não foi dos melhores. Também, ninguém merece essa vida que você leva!
Como se não bastasse um estafante dia no trabalho, ainda tive de engolir os desaforos do meu superior, um chato de galochas ao cubo. Agora, eu era obrigado a aturar as ladainhas da minha mulher:
-Por que me casei com um policial?
-Essa é a minha vida, não te prometi coisa nenhuma. Nunca escondi de você que eu era “tira” e que sempre gostei de correr atrás de bandido.
- Eu não aguento, Adelmo!A gente está há cinco anos nisso! É o cumulo!
Peguei o revólver, já carregando, e saí de casa. Ela ainda continuou reclamando:
- Isso, vai se divertir nos braços das suas vagabundas!Safado!
Entrei no carro disposto a extravasar com toda a adrenalina acumulada. Perto de um viaduto, avistei um pivete. Peguei o revólver e caminhei em sua direção. Percebi que estava apertando um baseado e ele ficou inerte quando me viu. Tomei o baseado da sua mão e encostei o cano da arma na testa dele. Dava para sentir o meu dedo puxando o gatilho quando lhe ofereci o revólver:
-Vai à luta, garoto.
Como se tivesse recebido um brinquedo ou um doce, ele saiu com o sorriso até as orelhas. Quanto a mim, entrei no carro, “dei um tapinha” e voltei para a casa na certeza de ter uma noite relaxante.
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