Viagens pelo Ceará XXXXV
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
CONVERSA DE ADEJANTE E MANEZIM E E AS OPINIÕES SOBRE HITLER E OS PEIXES DE NUVENS, SUGUNDO O BARBEIRO ALDENOR
Naquela tarde dormi até as quatro horas, cheguei à conclusão que eu havia conseguido muito material interessante em Russas e pensei mesmo em viajar pra Quixeré antes do anoitecer. O moto-taxista que me conduziu para fazer as fotos nos primeiros dias, me informou e me mostrou a estrada de piçarra que sai da localidade Passagem de Russas e dá acesso a cidade distando apenas uns 25 quilômetros. Arrumei as coisas, levei pro carro depois fui à barbearia para me despedir do Aldenor e do Petronio.
Lá chegando, informei que estava com as malas prontas pra partir na direção de Quixeré e que eu havia almoçado com os dois conversadores naquele dia. O Aldenor sem clientes no momento, se encontrava degustando café com tapioca e me convidou para o lanche, aceitei apenas o café. Enquanto isso perguntei a ele se havia mais algum caso interessante sobre os dois que pudesse me contar. O homem estalou os dedos e disse que sim e se sentou na mesa do tabuleiro comigo e foi dizendo:
Certa vez Manezim, em conversa com Adejante disse que Hitler foi um dos maiores mentirosos e assassinos da história, foi quando em dia de bom humor Adejante bem tranquilo e lhe disse:
- fala uma novidade aí poeta!
Pois é, como você já observou, é desse jeito que um puxa conversa e o outro continua. Depois de alguns instantes e um bicada, o barbudo Adejante pergunta se ele sabia que Hitler era meio analfabeto. Foi aí que a conversa tomou outro tom quando o poeta Manezim disse já querendo se irritar, que não podia acreditar que um sujeito como aquele, um dos maiores líderes do mundo tivesse sido analfabeto...
- Eu falei meio analfabeto! pois é, já vi que isso é novidade pra você. Rebate no mesmo tom o tranquilo Adejante.
Mas em seguida diz que existiu um certo general Chausewitz que escreveu um grande trabalho sobre a guerra e que esse livrão esteve aberto na mesa de Hitler mas, por ele ser mesmo meio burro, se leu não entendeu pois, se tivesse entendido não teria caído no mesmo erro de Napoleão... e pergunta como quem não quer nada:
- Mas o erro de Bonaparte você sabe não é?
E se cala enquanto o outro fica murmurando com titubeio um é, sei, é... mas ninguém sabe se Manezim sabe mesmo ou se está simplesmente fingindo que sabe. Quando Adejante o trata com essas interrogativas é por não se achar disposto a muito blá blá blá, e o poeta fica naquele mastigado, sem jeito para continuar a mesma conversa. O silencio reina, entre os dois enquanto cada um deve estar pensando no que dizer depois.
Aconteceu que nesse mesmo dia no bar central, se deu o caso polêmico dos peixes. É, foi o curioso caso dos peixes de nuvens. A conversa teve inicio, porque apareceu por aqui um biólogo da capital perguntando aos mais velhos moradores da região, se já tinham ouvido falar dos peixes de nuvens. A resposta da maioria foi que sim, que esse peixe aparecia nas lagoas e barreiros das várzeas depois das grandes chuvas de começo de ano. O curioso era que as lagoas estavam no barro, sem uma gota de água há meses e estas não tinham ligação nenhuma com os riachos e córregos, mas quando chovia apareciam misteriosamente os tais peixes nadando nelas. Como o caso era confirmado por pessoas idosas, os mais novos não se achavam no direito de duvidar, e como ninguém tinha conhecimento dessa área da biologia, achavam que os peixes vinham mesmo das nuvens e o caso era dado por encerrado.
Porque o pesquisador queria estudar alguns desses estranhos peixes, indicaram a ele um morador da localidade Ingá, pescador de profissão que, poderia capturar os peixes quando desse uma boa chuva por lá. Tudo isso se deu no bar do Antonio. Depois que o biólogo se foi, aí a conversa continuou no tom do peixe tido por aéreo. O Adejante não era muito de fazer perguntas, preferia responder às que lhe faziam, mas dessa vez resolveu inquirir ao poeta que se achava calado, se este achava também que os peixes vinham das nuvens. O sujeito disse que nunca tinha visto tal bicho e que se os mais velhos diziam que o peixe era das nuvens não era ele que ia dizer que não. E continuou sua eloquência de repetitivo, ora, se ele nem tinha visto o tal peixe ainda, não era nem parente de São Tomé, por isso não ia duvidar de nada nem de seu ninguém!
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro