Viagens pelo Ceará XXXXII

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

OPINIÕES DE ADEJANTE E MANEZIM SOBRE O JOGO DE FUTEBOL E A SEPARAÇÃO DE CASAIS.

Este por sua vez não quer encerrar o caso por aí e ainda fala mais coisas, que o tal jogo só serve pra enriquecer os banqueiros que compram e vendem jogadores pra clubes estrangeiros por milhões, e que mulheres famosas, as marias-chuteiras querem mais é estar coladas com os aloprados só porque ganham muito...fugindo um pouco das razões do esporte com essas explicações periféricas.

Adejante diminui o tom da conversa dizendo pro companheiro que o futebol fascina o homem como a guerra, e que isso sempre existiu, isso do homem disputar, pra ver quem é o mais forte, o mais corajoso, o mais habilidoso e intrépido. Mesmo assim compreendia porque ele, na condição de poeta era tão revoltado com isso, sabia que o escritor Lima Barreto falava mal desse jogo, sabia que muitos já haviam morrido jogando e outros torcendo ou brigando com as torcidas rivais, sabia que o jogador não precisa ser culto pra correr e ter habilidade com uma bola, e que os grandes investidores querem ganhar mais, e que o público é quem paga pra se divertir, e que algumas mulheres desejam quem é bem remunerado, e que técnicos e comentaristas também fazem parte da engrenagem dos lucros e até que juízes podem se corromper por serem comprados e por aí vai, mas uma coisa é certa e isso é inegável, esse esporte é querido pela massa popular, e isso é coisa do bicho homem, que está atrelado ao seu passado remoto de guerreiro e caçador, isso é como um arquétipo de sua mente, deu pra entender poeta?

Claro! Diz ele, que não era tão ignorante pra não entender isso, mas o negócio é que o povo é sem cultura e prefere um jogo a um bom livro... então Adejante toma mais uma vez a palavra e diz, que a afirmação do poeta não condiz em todo com a realidade, que na Europa o povo é bem mais culto, mas mesmo assim gosta do futebol também, então não dá pra separar, já que tem gente de pouca cultura que admira e gente culta que também é fascinado pelos jogos.

Manezim ainda resmungou que não podia aceitar que um jogador pudesse ganhar mais do que um médico, ao que Adejante ainda disse que uma coisa é diversão e outra bem distinta é a saúde, "ninguém gosta de ficar doente, mas a maioria gosta de se divertir, seu Manué!" e aí já vem uma pitada de ironia.

- Poeta velho suado, tá pensando que todas as coisas teem que ser como você quer? O futebol é uma realidade porque a maioria quer, pelo menos em matéria de democracia é assim, é ou não é?

Mas Manezin não confirma nada e diz que se tratando de política o povo também se vende e não deixa prevalecer a sua vontade, ao que Adejante diz que se "a pessoa se vende foi essa a sua vontade, ora bolas e caçarolas! Nesse caso você está sendo meio contrário a si mesmo viu Manezim! Mas o velho mamute não gosta do comentário e diz já vermelho de raiva que não aceita isso, mesmo sendo assim aqui e na Europa e que um dia a coisa vai mudar com certeza, ao que Adejante aproveita pra ironizar mais ainda. O chama de profeta insatisfeito e diz que ele, com toda sua prosaica profecia, aceitando ou não, as coisas estão assim, foram assim e é muito provável que podiam continuar assim mesmo contra sua vontade e escalenos argumentos... não vê que as pessoas gostam de se divertir cada um a sua maneira, e se a maioria gosta do futebol e você não, qual é o problema? Por acaso você conhece alguém que está insatisfeito por você gostar de ler livros? Diga-me, algum torcedor de futebol já lhe convidou prá você ir torcer pelo time dele? E se isso aconteceu, você foi obrigado a ouvir sermão dele tentando convertê-lo? Então meu caro, porque se incomoda tanto com esses práticas comuns? Deixe o futebol pra quem gosta dele e vá ler seus livros e escrever seus poemas! Que tempo pra isso você tem bastante, deixa eu tomar minha cana e fala uma novidade aí bicho ramerrão!...

Notei que os ânimos estavam se esquentando e preferi tomar a frente e dizer que podíamos tratar de outro assunto, que tal algumas opiniões sobre as separações de casais que tanto acontecem hoje! Pedi outra rodada e tira gosto, e fiquei a observar os dois depois daquele duelo e das boas doses de cana.

O Manezim como ex-repentista, se não é uma figura de curta visão, ainda é do tipo que não se contenta com a sua carência de argumentação. Para ele, vencer é: melhor dizer; é mostrar maior conhecimento; é rebater se possível as idéias do oponente, mesmo às custas de desatinados gritos e torpes falácias. Não vi Adejante impaciente nem com incontinência compulsiva por falar, se manteve sereno, refletido e quase sempre risonho, como quem tem o controle das coisas. O barbudo fumante foi e é trabalhador, conhece outros horizontes e não está preocupado em melhor argumentar nada, ele é simplesmente calejado pela vivência, contatos e conversas com pessoas de outros estados e também porque é um sujeito dotado de boa dose de inteligência e despretensão.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 09/04/2013
Código do texto: T4231458
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