Monalisa presa viva no quadro
Realização dos sonhos
Ele não fez nada e foi preso.
A vida é feita de sonhos e vida.
Os sonhos são vidas paralelas.
Quando em um momento da vida não estamos satisfeitos e aquele caminho tão desejado está fora do alcance, deixamos à vida, fugimos, mentimos, dormimos e vamos viver nos sonhos e lá aprendemos ou desaprendemos.
Sete presos e Ele é um deles, cada qual com seus crimes e sonhos: O Gordo, o Ruivo, o Deda, o Pêssego, o Damião, o Prego e Ele.
Ele, ali em seu primeiro dia de cela, assustado, nunca estivera em um lugar assim, limpo; de família limpa, inteligente, de um futuro promissor; alto, magro e a partir daquele momento desacreditado da vida. Fica em um canto, longe dos diálogos e percebe pelas conversas que todos são verdes no crime.
Está ali pela terceira vez, o que mais vez está. Eles riem da situação em
que estão. A naturalidade ali presente faz com que estejam tranqüilos.
Tiram sarros um do outro, fazendo com que isso os torne donos do momento e ficam distante do magro alto, têem medo do fato de nada saberem, do porque de estar também ali. E não sabem que seu crime foi não ter cometido nenhum crime, preso injustamente.
Vem à noite e o desgaste físico, eles são convidados a irem para a horizontal, fecham seus olhos e somem da realidade. Dormem, viajam em seus mundos, cada qual em seu sonho.
O Gordo, em seu sonho, é magro corre como nunca, é bom de bola, se vê em uma partida de futebol no campinho de baixo. Ao final do jogo é aplaudido pelos·lindo gols e jogadas, vê Janete no alto do morro, o amor de sua vida, parte para um abraço, um beijo.
O Ruivo sonha estar em sua mesa, com muito trabalho. Olha para a direita e, do alto do terceiro andar vê a praça muito arborizada semi-deserta. Um ônibus sobe a Rua São Jorge, deixando para traz muita fumaça. Um menino rouba uma mulher, e, ele lá de cima nada pode fazer, vira o rosto
imediatamente na necessidade de fugir daquela realidade e vê Ana aparecer ao final do corredor. Apenas vê, em pensamento sonha com ela, em seu sonho.
O Deda, em seu sono profundo, se vê em um barzinho cantando uma
música de sua autoria; tem um violão, está sentado. Todos bebem, todos escutam, alguns dançam. Ele canta, em sua música, fala de um amor impossível. Na letra, Deda torna o impossível possível e vivencia um amor.
O Pêssego sonha voltando no tempo. Volta à roça, vê sua mãe que a muito já morreu. Olha e a vê esperando na mesma porta da casa onde cresceu. Lá é feliz. Chega da escola abraça e a beija, senta, toma o café. Levanta, assiste TV, vai à janela e vê Solange. A imagem que tem dela é de quando ela era criança.
Sempre a quis, mas ali, nem em pensamento... Ali ela é criança, apenas a
admira.
Damião se vê em uma banca de jornal, ali é seu trabalho, lê revistas o dia
inteiro. A cada folha virada, levanta os olhos verdes, e vê as pessoas
descerem dos ônibus. Quando estão parados no ponto, deduz o que cada um faz da vida. Vive no mundo da lua. Abre alguns pacotinhos de figurinhas e se decepciona, pois não vem àquela chave que tanto espera para encher a última página, e não completa o álbum. Pensa nesta figurinha, e questiona a sua existência. Soraia lava o chão do bar que trabalha, e que fica em frente à banca, ele apenas olha.
O Prego se vê em uma sala de aula. Ensina tudo do que muito sabe aos poucos do que nada sabem e, disso nada cobra. Tem em mente o sofrimento daquele povo e vê em sua atitude a única forma de enxergar um futuro melhor aos que aprendem e a ele próprio que ensina. Pois se sente ocupado para os erros não caírem em sua mente. É gago e ao ensinar a letra “A” tem a palavra amor como exemplo, o “B” tem a letra bondade o “C” tem o carinho.
Mas sofre quando chega a vez do “F”, as outras letras ensina com
facilidade.
Ele, ele também sonha, e nos seus é o mais feroz de todos os criminosos.
mata sem dó. E a premeditação é o seu forte, planeja tudo milimetricamente.
E os segundos que antecedem caem como gelo em sua cabeça, o tornando o mais frio de todos os sanguinários, e ao se saborear com o resultado, já começa a planejar o próximo crime. Não tem um amor em sua vida, neste seu sonho.
Os sonhos daquela noite acabam. Chega o dia, sem o cantar do galo. A cela fica em um prédio, no centro da cidade, no quarto andar, sem janela para pelo menos poder ver o sol nascer quadrado; para se saber quando é hora de dormir. Nos olhares carregados dos carcereiros, vêm os cafés. Vem o segundo dia, passam quatro horas e ele já está conversando com todos, o assunto que impera é o crime desorganizado. Cada qual com sua aptidão contam o porquê de estar ali, e amenizam os fatos se inocentando. Já Ele, ele não ameniza nada e em sua mente tem crimes para contar, e então mente, diz ter matado friamente, sem dó, sem remorso. Detalha passo a passo, e, percebe a atenção. Como é escutado, e cada vez mais aumenta a proporção dos crimes que nunca cometeu, transformando seus atos em quase uma realidade. Logo é venerado e respeitado por todos que ali estão. Quanto mais os dias passam, mais eles tentam se inocentar dos crimes cometidos e ele o inverso, mais e mais mente viajando em seus crimes. Vêm novas noites e novos sonhos, e é percebido que
o que contam são seus sonhos como realidade. O Gordo e seus lindos gols; O Deda com suas lindas músicas; o Ruivo recebendo uma promoção; o Damião encontrando a figurinha que faltava; o Prego vendo seus alunos lerem corretamente; o Pêssego vendo sua rua sendo asfaltada; e ele, ele
assaltando e matando impiedosamente todos os que cruzam seu caminho.
Acordam e não vivem o vertical, dormem, sonham e assim passam os seus dias.
Acordam, café da manhã, e mais uma vez suas histórias; e cada vez mais, ele é venerado naquele meio, já na mente deles pensam em apenas tentarem se acertarem, para poderem por em prática seus sonhos, os de voltar a viver como homens. Coisa que não puderam ter por suposta falta de uma instrução que seus pais não tiveram e nunca puderam lhes passar. Já ele, ele teve toda essa instrução, seus pais lhes deu toda cultura possível. Mas foram viajar, viajar e viajar, nunca estiveram presente. Faltaram em beijos, palavras e carinhos, e ao ser colocado ali se viu fraco em sentimentos e se entregou ao clima, pelo motivo de ser colocado ao lado daqueles que um dia crime cometeram. Estimulou sua mente para um novo mundo, azar dele de ser inteligente, criativo e fraco, pois nunca cometera sequer um crime.
Chegam às noites vem o sonho, e, neles os contrastes nos dizeres a que
caminho seguir. Chegam os dias vêm às realidades, mesmo sendo comprovado seus crimes eles insistiam em demonstrarem suas falsas inocências dizendo o por que dos seus motivos. Já Ele, ele assumira até um crime que não cometera, deixando solto aquele que um dia, com uma faca na mão matara.
Vêm às noites, vêm os sonhos, vêm os dias. Vem um dia, vem o dia da
liberdade.
Quatro anos, três meses e dois dias, Deda se despede de todos. Vai, chega
a sua vila e é bem recebido, compreendido e perdoado pelos crimes. Começa a freqüentar o barzinho, começa a cantar, é escutado e amado; maduro se acerta e se torna um homem de verdade.
Sete anos, cinco meses e dezoito dias, e, Ruivo se despede de todos. Ana está lá fora a sua espera, vão para sua cidade. Ao descer do ônibus percebe um menino furtando uma loja da rodoviária, o segue, e, pede que devolva o objeto. O menino assustado volta com ele para a loja, devolve e sai. Após alguns passos chama o menino, pede para ele pegar novamente o mesmo objeto, dá o dinheiro em sua mão, o leva ao caixa e fá-lo pagar. Saem, o menino entende a mensagem, nunca mais furtará. Será um homem, e ele, também se torna um.
Nove anos, um mês e cinco dias, Gordo se despede de todos e vai, chega a sua vila não é recebido por ninguém. Chega a sua casa e lá está seu pai, velho e doente. O campinho já não existe mais, e, Janete já se foi com um tiro dado pelas costas, deixou um filho de três anos e muito magro pela falta do que comer. Gordo, ainda gordo e lento pega o menino de Janete para criar. Leva para a escola, ensina segredos do futebol que prendeu em seus sonhos.
Dez anos, quatro meses e dois dias, Pêssego se despede e volta para seu
vilarejo e não o encontra. Encontra uma enorme represa que invadiu aquele lugar, que tanto adorou e agora sua casa fica a beira desta represa. Ao chegar encontra Solange na porta a sua espera, agora grande e uma linda mulher, ela que não viveu para ninguém, viveu apenas a espera, deste seu Pêssego, o homem dos seus sonhos.
Onze anos, nove meses e vinte e um dias, Damião se despede. Não volta para casa, se encontra com Soraia e viajam para o nordeste, onde não há ninguém que conheça. Tem medo do passado, de encontros errados. Vira pai e com o filho que chega, vira homem.
Doze anos, dois meses e três dias, Prego se despede e volta para a roça. No lugar encontra uma enorme cidade, seu vilarejo já não mais tem aquelas
mesmas pessoas que um dia teve. Ele não volta a viver com sua família, lá
aprende a ler e escrever, não tem dificuldades porque muita coisa aprendeu em seus sonhos. Não mais gagueja, não tem mais o “f” como inimigo.
Treze anos, sete meses e sete dias, Ele, ele se despede de todos. Todos que,
digo são velhos nesta nova cela. Ele sim, novo, nesta cela, na qual, o que menos crime cometeu matou dez. Mas ele, também, não fica mais para traz, matou também, os seus dez e ali ele quis se impor. E nele foi posto uma faca, calando-o, sendo ele o décimo primeiro morto da lista de um outro, se despede do mundo. Mundo de respeito e desrespeito; respeito por novas chances que são dadas, desrespeito por inocentes condenados.
Lá, o mundo de cada um deles era pequeno ou grande, de acordo com seus sonhos.
Fugiam da realidade, fugiam para seus sonhos a ponto de conseguir torná-los realidades. Lá tiveram a realização de seus sonhos.
Realização dos sonhos
Ele não fez nada e foi preso.
A vida é feita de sonhos e vida.
Os sonhos são vidas paralelas.
Quando em um momento da vida não estamos satisfeitos e aquele caminho tão desejado está fora do alcance, deixamos à vida, fugimos, mentimos, dormimos e vamos viver nos sonhos e lá aprendemos ou desaprendemos.
Sete presos e Ele é um deles, cada qual com seus crimes e sonhos: O Gordo, o Ruivo, o Deda, o Pêssego, o Damião, o Prego e Ele.
Ele, ali em seu primeiro dia de cela, assustado, nunca estivera em um lugar assim, limpo; de família limpa, inteligente, de um futuro promissor; alto, magro e a partir daquele momento desacreditado da vida. Fica em um canto, longe dos diálogos e percebe pelas conversas que todos são verdes no crime.
Está ali pela terceira vez, o que mais vez está. Eles riem da situação em
que estão. A naturalidade ali presente faz com que estejam tranqüilos.
Tiram sarros um do outro, fazendo com que isso os torne donos do momento e ficam distante do magro alto, têem medo do fato de nada saberem, do porque de estar também ali. E não sabem que seu crime foi não ter cometido nenhum crime, preso injustamente.
Vem à noite e o desgaste físico, eles são convidados a irem para a horizontal, fecham seus olhos e somem da realidade. Dormem, viajam em seus mundos, cada qual em seu sonho.
O Gordo, em seu sonho, é magro corre como nunca, é bom de bola, se vê em uma partida de futebol no campinho de baixo. Ao final do jogo é aplaudido pelos·lindo gols e jogadas, vê Janete no alto do morro, o amor de sua vida, parte para um abraço, um beijo.
O Ruivo sonha estar em sua mesa, com muito trabalho. Olha para a direita e, do alto do terceiro andar vê a praça muito arborizada semi-deserta. Um ônibus sobe a Rua São Jorge, deixando para traz muita fumaça. Um menino rouba uma mulher, e, ele lá de cima nada pode fazer, vira o rosto
imediatamente na necessidade de fugir daquela realidade e vê Ana aparecer ao final do corredor. Apenas vê, em pensamento sonha com ela, em seu sonho.
O Deda, em seu sono profundo, se vê em um barzinho cantando uma
música de sua autoria; tem um violão, está sentado. Todos bebem, todos escutam, alguns dançam. Ele canta, em sua música, fala de um amor impossível. Na letra, Deda torna o impossível possível e vivencia um amor.
O Pêssego sonha voltando no tempo. Volta à roça, vê sua mãe que a muito já morreu. Olha e a vê esperando na mesma porta da casa onde cresceu. Lá é feliz. Chega da escola abraça e a beija, senta, toma o café. Levanta, assiste TV, vai à janela e vê Solange. A imagem que tem dela é de quando ela era criança.
Sempre a quis, mas ali, nem em pensamento... Ali ela é criança, apenas a
admira.
Damião se vê em uma banca de jornal, ali é seu trabalho, lê revistas o dia
inteiro. A cada folha virada, levanta os olhos verdes, e vê as pessoas
descerem dos ônibus. Quando estão parados no ponto, deduz o que cada um faz da vida. Vive no mundo da lua. Abre alguns pacotinhos de figurinhas e se decepciona, pois não vem àquela chave que tanto espera para encher a última página, e não completa o álbum. Pensa nesta figurinha, e questiona a sua existência. Soraia lava o chão do bar que trabalha, e que fica em frente à banca, ele apenas olha.
O Prego se vê em uma sala de aula. Ensina tudo do que muito sabe aos poucos do que nada sabem e, disso nada cobra. Tem em mente o sofrimento daquele povo e vê em sua atitude a única forma de enxergar um futuro melhor aos que aprendem e a ele próprio que ensina. Pois se sente ocupado para os erros não caírem em sua mente. É gago e ao ensinar a letra “A” tem a palavra amor como exemplo, o “B” tem a letra bondade o “C” tem o carinho.
Mas sofre quando chega a vez do “F”, as outras letras ensina com
facilidade.
Ele, ele também sonha, e nos seus é o mais feroz de todos os criminosos.
mata sem dó. E a premeditação é o seu forte, planeja tudo milimetricamente.
E os segundos que antecedem caem como gelo em sua cabeça, o tornando o mais frio de todos os sanguinários, e ao se saborear com o resultado, já começa a planejar o próximo crime. Não tem um amor em sua vida, neste seu sonho.
Os sonhos daquela noite acabam. Chega o dia, sem o cantar do galo. A cela fica em um prédio, no centro da cidade, no quarto andar, sem janela para pelo menos poder ver o sol nascer quadrado; para se saber quando é hora de dormir. Nos olhares carregados dos carcereiros, vêm os cafés. Vem o segundo dia, passam quatro horas e ele já está conversando com todos, o assunto que impera é o crime desorganizado. Cada qual com sua aptidão contam o porquê de estar ali, e amenizam os fatos se inocentando. Já Ele, ele não ameniza nada e em sua mente tem crimes para contar, e então mente, diz ter matado friamente, sem dó, sem remorso. Detalha passo a passo, e, percebe a atenção. Como é escutado, e cada vez mais aumenta a proporção dos crimes que nunca cometeu, transformando seus atos em quase uma realidade. Logo é venerado e respeitado por todos que ali estão. Quanto mais os dias passam, mais eles tentam se inocentar dos crimes cometidos e ele o inverso, mais e mais mente viajando em seus crimes. Vêm novas noites e novos sonhos, e é percebido que
o que contam são seus sonhos como realidade. O Gordo e seus lindos gols; O Deda com suas lindas músicas; o Ruivo recebendo uma promoção; o Damião encontrando a figurinha que faltava; o Prego vendo seus alunos lerem corretamente; o Pêssego vendo sua rua sendo asfaltada; e ele, ele
assaltando e matando impiedosamente todos os que cruzam seu caminho.
Acordam e não vivem o vertical, dormem, sonham e assim passam os seus dias.
Acordam, café da manhã, e mais uma vez suas histórias; e cada vez mais, ele é venerado naquele meio, já na mente deles pensam em apenas tentarem se acertarem, para poderem por em prática seus sonhos, os de voltar a viver como homens. Coisa que não puderam ter por suposta falta de uma instrução que seus pais não tiveram e nunca puderam lhes passar. Já ele, ele teve toda essa instrução, seus pais lhes deu toda cultura possível. Mas foram viajar, viajar e viajar, nunca estiveram presente. Faltaram em beijos, palavras e carinhos, e ao ser colocado ali se viu fraco em sentimentos e se entregou ao clima, pelo motivo de ser colocado ao lado daqueles que um dia crime cometeram. Estimulou sua mente para um novo mundo, azar dele de ser inteligente, criativo e fraco, pois nunca cometera sequer um crime.
Chegam às noites vem o sonho, e, neles os contrastes nos dizeres a que
caminho seguir. Chegam os dias vêm às realidades, mesmo sendo comprovado seus crimes eles insistiam em demonstrarem suas falsas inocências dizendo o por que dos seus motivos. Já Ele, ele assumira até um crime que não cometera, deixando solto aquele que um dia, com uma faca na mão matara.
Vêm às noites, vêm os sonhos, vêm os dias. Vem um dia, vem o dia da
liberdade.
Quatro anos, três meses e dois dias, Deda se despede de todos. Vai, chega
a sua vila e é bem recebido, compreendido e perdoado pelos crimes. Começa a freqüentar o barzinho, começa a cantar, é escutado e amado; maduro se acerta e se torna um homem de verdade.
Sete anos, cinco meses e dezoito dias, e, Ruivo se despede de todos. Ana está lá fora a sua espera, vão para sua cidade. Ao descer do ônibus percebe um menino furtando uma loja da rodoviária, o segue, e, pede que devolva o objeto. O menino assustado volta com ele para a loja, devolve e sai. Após alguns passos chama o menino, pede para ele pegar novamente o mesmo objeto, dá o dinheiro em sua mão, o leva ao caixa e fá-lo pagar. Saem, o menino entende a mensagem, nunca mais furtará. Será um homem, e ele, também se torna um.
Nove anos, um mês e cinco dias, Gordo se despede de todos e vai, chega a sua vila não é recebido por ninguém. Chega a sua casa e lá está seu pai, velho e doente. O campinho já não existe mais, e, Janete já se foi com um tiro dado pelas costas, deixou um filho de três anos e muito magro pela falta do que comer. Gordo, ainda gordo e lento pega o menino de Janete para criar. Leva para a escola, ensina segredos do futebol que prendeu em seus sonhos.
Dez anos, quatro meses e dois dias, Pêssego se despede e volta para seu
vilarejo e não o encontra. Encontra uma enorme represa que invadiu aquele lugar, que tanto adorou e agora sua casa fica a beira desta represa. Ao chegar encontra Solange na porta a sua espera, agora grande e uma linda mulher, ela que não viveu para ninguém, viveu apenas a espera, deste seu Pêssego, o homem dos seus sonhos.
Onze anos, nove meses e vinte e um dias, Damião se despede. Não volta para casa, se encontra com Soraia e viajam para o nordeste, onde não há ninguém que conheça. Tem medo do passado, de encontros errados. Vira pai e com o filho que chega, vira homem.
Doze anos, dois meses e três dias, Prego se despede e volta para a roça. No lugar encontra uma enorme cidade, seu vilarejo já não mais tem aquelas
mesmas pessoas que um dia teve. Ele não volta a viver com sua família, lá
aprende a ler e escrever, não tem dificuldades porque muita coisa aprendeu em seus sonhos. Não mais gagueja, não tem mais o “f” como inimigo.
Treze anos, sete meses e sete dias, Ele, ele se despede de todos. Todos que,
digo são velhos nesta nova cela. Ele sim, novo, nesta cela, na qual, o que menos crime cometeu matou dez. Mas ele, também, não fica mais para traz, matou também, os seus dez e ali ele quis se impor. E nele foi posto uma faca, calando-o, sendo ele o décimo primeiro morto da lista de um outro, se despede do mundo. Mundo de respeito e desrespeito; respeito por novas chances que são dadas, desrespeito por inocentes condenados.
Lá, o mundo de cada um deles era pequeno ou grande, de acordo com seus sonhos.
Fugiam da realidade, fugiam para seus sonhos a ponto de conseguir torná-los realidades. Lá tiveram a realização de seus sonhos.