Viagens pelo Ceará XXXXI

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

OPINIÕES DE ADEJANTE E MANEZIM SOBRE O JOGO DE FUTEBOL E A SEPARAÇÃO DE CASAIS.

Na tarde daquele sábado resolvi alugar um filme e fiquei na pousada até a noite, coloquei em ordem as fotos e os escritos, mantive contato com os amigos pela net, só saí à noite pra jantar numa churrascaria. No domingo fui até a ilhota onde nadei bastante nas águas límpidas do Jaguaribe e comi pitu frito no almoço, claro que tomei umas duas aguardentes pra não perder o costume. O resto da tarde e noite fiquei bisbilhotando notícias pela internet e conversando com conhecidos online.

Quanto à fotografias eu já me dava por satisfeito em Russas, queria mesmo era encontrar com Adejante e Manezim lá pelo bar do Antonio e ver como os dois conversavam seus assuntos. Quando isso acontecesse era minha intenção seguir viagem pra Quixeré ou Limoeiro, finalmente tive sorte naquela segunda, encontrei os dois no dito local. Ao chegar por lá cumprimentei os dois e disse que eu pagaria o almoço e a bebida mas queria conversar com os dois até meio dia, aceitaram de bom grado e nos dirigimos para a mesa mais silenciosa do recinto.

Agora posso dizer por mim mesmo o que pude presenciar e sentir:

Adejante tem estrada, Manezin pelo que me disseram, andou pouco mas isso não inibe seu lado crítico e opina sempre que pode sobre acontecidos da política mas, é logo rebatido, porque Adejante não deseja levar adiante coisas corriqueiras e descarta a conversa do parceiro por julgar que o negócio é sem importância. O barbudo não vê graça nisso de comentar escândalos, improbidade administrativa, corrupção, crimes de pistolagem, cassação de mandato e tudo o mais que é muito corriqueiro nos noticiários.

Mas eu estava com dois tipos de assuntos que julguei interessante perguntar pros dois e depois de pedir aguardente pra mim também e tira-gosto de panelada, propus aos dois que falassem sobre o esporte futebol, já que é um esporte que empolga os torcedores desse meu Brasil varonil, e fui dizendo que como é sabido de todos, existem jogadores que são muito bem pagos por serem destaques nos seus times. O Manezim por ser um grande defensor das idéias de Lima Barreto é um grande detrator do esporte mais popular do mundo, e ele começou com pequenos toques o assunto, e pergunta se a gente não viu um jogador de topete (se referindo ao Neimar) que é famoso sendo entrevistado num domingo desses na televisão, pois achou a apresentação uma pouca vergonha, “pra início de conversa aquele é um esporte muito violento e de gente desocupada, já morreu muita gente jogando bola”, e vai falando que é negócio tão sem futuro que o cidadão jogador, depois de certa idade é deixado de lado, ou seja, “o macabro espetáculo requer mesmo do praticante mais é a força bruta quase que somente”... porém, o diabo do jogo exerce um fascínio e apaixona até grandes escritores como José Lins do Rego...contudo, com outros artistas como era o caso do Villa Lobos a coisa era vista com outros olhos. Prá o grande músico, esse esporte das multidões era um negócio inferior. Faz uma pausa e continuou: não se sabe de nenhum médico no mundo que ganhe igual a um desses ditos craques fenômenos, que diga-se de passagem é muitas vezes até analfabeto, mas o povo sem cultura desse nosso país é quem é culpado disso acontecer, se ninguém pagasse pra ir vê-los jogando, aí o negócio era outro! Era bem outro! Se esses malandros dependessem só de mim, com certeza morreriam todos de fome!

Adejante que em momentos assim gosta é de ouvir o sujeito dizer mais, escuta e aguarda, mas fica claro que o que Manezim quer, é ouvir alguém concordando com a sua opinião, e por conta disso há um intervalo de silêncio. Adejante vai iniciar o seu falar, mas ainda toma mais uma aguardente e diz: - E o que você acha dos comentaristas de esporte que fazem programas de rádio, escrevem pra jornais e revistas e se exibem em televisão e internet, e o que você diz dos técnicos? Com isso Manezin pensa ter encontrado um cúmplice no comentário e mais falante ainda diz que são um bando de bestas, e mais otários ainda são quem os ouve ou lê, e muito do sem-vergonha também é quem contrata técnico prá treinar gente, melhor se fosse pra treinar cavalos, adestrar cachorros... e eleva a voz para acentuar sua verdade e nem supõe o que vem por aí. Adejante sem se alterar diz tranquilamente que o gôsto da maioria pode e deve ser questionado, mas não deve ser refutado, e que se o futebol foi adotado e se tornou cada vez mais querido por aqui e pelo mundo, alguns bons motivos houve e hão. E se cala, prá ouvir mais, e o Manezim morde a isca, não pra apontar mais coisas negativas mas sim pra questionar agora o calejado Adejante e diz: Pois me diga pelo menos um bom motivo se é que há, já que você diz que houve e hão! Nisso já noto que ele está se alterando e mostrando irritação e ironia, mas Adejante não é de se impressionar muito com isso e diz na maior tranquilidade: - esporte é esporte e faz bem pro corpo! passa-tempo é passa-tempo e isso diverte muita gente que trabalha!... e faz pausa, nisso noto que o olhar do Adejante se fixa bem no companheiro que é um inimigo ferrenho do labor, e se cala novamente, como a provocar a ira do poeta desocupado.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 08/04/2013
Código do texto: T4229497
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