Viagens pelo Ceará XXXVII
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
CASOS DE POLICIA CONTADOS POR PETRONIO E DITOS DO BARBEIRO ALDENOR SOBRE AS OPINIÕES DE MANEZIM
Demonstrei interesse pelo assunto e lhe disse que eu havia tomado conhecimento do caso. E ele continuou dizendo que não gostava muito de falar de casos dramáticos de morte e acontecidos comuns do mundo do crime, mas notei que parecia ser prazerosos para ele relembrar alguma coisa do seu antigo trabalho, talvez aquilo viesse mais fortemente ao seu pensamento quando ele bebia umas duas. Foi dizendo que havia feito diligencias e presenciado casos atípicos. Certa vez prendeu um ladrão em Quixadá que além de roubar os pertences de moças universitárias ainda exigia que elas o beijassem na boca, o sem vergonha aproveitava pra tirar um sarro.
Um outro caso , havia sido o de um músico que fôra morto a tiros quando cantava em um bar. Mas a coisa não parava aí, um mês depois de ser sepultado, o caixão do artista fôra violado por vândalos. O que lhe chamava a atenção em cada caso eram os detalhes extra-crime que os envolviam. O ladrão que exigia beijos, estava demonstrando que tinha algo de amante-romântico mesmo roubando beijos, e talvez ele nem fosse maníaco-tarado, seu objetivo maior parecia ser mesmo roubar os objetos de valor das vítimas e aí o ósculo aparecia como segunda intenção.
O caso do cantor executado como um inocente canarinho, pela ficha policial se via que o dito cujo estava mais pra gavião do que canário-belga, já era suspeito de assassinato, tentativa de homicídio e tráfico de drogas. Até aí, isso eram reviravoltas do submundo com suas inusitadas arbitrariedades. O que observava de mais desumano, era a grande maldade de se executar alguém, mesmo um criminoso, já que não se devia matar, enquanto ele exercia uma atividade tão sublime como era o ato de cantar. Parecia pieguice o que dizia, mesmo sendo ele um policial aposentado, mas isso não o fazia o desumano, vira muita coisa horrível... casos de gente presa injustamente, gente morta por bala perdida e nem queria lembrar mais, mas o certo é que amava a justiça.
Pois bem, mas este caso do músico se estendeu ainda por mais um mês. O túmulo dele fora violado e segundo o chefe de investigação, a intenção dos vândalos era maltratar ainda mais a família do morto. A família disse que o cantor havia sido sepultado com pulseiras e cordões de ouro, e nada disso foi encontrado pela perícia.
O Petronio parecia inspirado para falar de assuntos policiais, mas estávamos jogando, fez a jogada e continuou dizendo que sabia que no meio da bandidagem, o lado desumano se acentuava, e que talvez a intenção dos profanadores nem fosse roubar os pertences do morto, mas simplesmente provocar uma vingança póstuma para fazer sofrer os familiares, porém se encontraram objetos valiosos porque não levar? Ou quem sabe as duas coisas podiam estar na intenção dos ladrões, quem sabia?
Eu disse que os casos eram curiosos e procurei me concentrar no jogo e ele resolveu contar mais outro, enquanto jogava displicentemente. Falou de um policial que ferido pelo ciúme, atirara na própria mulher dentro do mercado de Russas e depois atirara contra si mesmo e se matara, enquanto a mulher sobrevivera.
Notei que por ele gostar dessas narrativas ia se esquecendo do jogo, ganhei a primeira. Em seguida disse que lia os casos de polícia diariamente no jornal. E resolveu contar um caso recente que se deu num cine pornô na capital. Segundo o vigia do cinema, um homem entrou acompanhado de outro para assistir à sessão, era um mais velho e outro mais moço. Até aí tudo bem, só que depois de algum tempo o mais novo deixa recinto e o outro é encontrado algum tempo depois agonizando e morre no local. Ligam pra polícia. O que levou à morte do homem, a perícia ia dizer depois, mas o que levou os dois àquela situação era naturalmente o interesse dos dois. O mais velho podia ter sofrido um ataque cardíaco, a perícia ia dizer. O que ele como policial podia dizer era que sem dúvida um estava à procura de prazer e o outro, tinha interesse noutra coisa, nesse mundo mercenário... e se concentrou na partida aí o barbeiro disse de lá:
- É o toma lá, dá cá! O que mais se vê hoje é uns cabra velhos desdentados com mocinhas por aí, será amor? Eu pergunto, é tudo um jogo de interesse. O idoso tem dinheiro e quer uma carne fresquinha e cheirosa, a mocinha quer um carro, conforto roupa nova aí é só juntar o ovo com a ova.
Ri da rima do Aldenor e joguei armando uma cilada.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro