Viagens pelo Ceará XXXVI

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

CASOS DE POLICIA CONTADOS POR PETRONIO E DITOS DO BARBEIRO ALDENOR SOBRE AS OPINIÕES DE MANEZIM

O dia seguinte era um sábado e eu resolvi fotografar algumas partes da cidade, monumentos, ruas e as pessoas no movimento em torno do mercado velho. Eu estava em Russas há quase uma semana e isso estava muito interessante. E como ainda não havia jogado xadrez com Adejante nem entrevistado Manezim achei que ficaria mais alguns dias por ali.

Saí da pousada antes das sete e a pé fui andando e fazendo fotos da cidade. Depois de ter fotografado vários casas e ruas, ainda conversei com uns moto-taxistas que estavam jogando dama na praça atrás da igreja matriz.

Já por volta das dez horas fiz um lanche e passei pela barbearia. Cumprimentei a todos quando cheguei, os quatro barbeiros estavam em ação e o sala de jogos vazia. Sentei-me na mesa onde estava o tabuleiro de xadrez e fiquei a brincar com as peças formando posições táticas. Não demorou muito chegou o policial Petronio, estava avermelhado e denotou que havia bebido algumas já àquela hora. Nos cumprimentamos e ele não estava tão sério como era seu jeito, estava com aquele bom humor que o álcool provoca certas vezes em alguns. Começamos a jogar e eu lhe falei que havia lido e achado muito bom o seu artigo, e era minha intenção publicá-lo nos meus relatos posteriores. Deu aprovação e disse que hoje, tudo o que podia produzir de bom pros outros lhe dava satisfação. Começamos a jogar e ele empolgado, começou a falar de notícias recentes e de coisas da época em que estava na polícia.

Relembrou a catástrofe do Carandirú acontecida há vinte anos, e depois muito falou sobre os prós e os contras nas providencias da polícia sob o comando do Ubiratan. Disse que nunca houve tantos policiais assassinados em São Paulo como agora, os bandidos já havia matado mais de oitenta só esse ano. Sem que eu comentasse nada pois me encontrava concentrado no jogo, ele entrou no caso do mensalão onde, segundo as notícias houve condenação de alguns dos tubarões envolvidos. Como uma notícia puxa outra, ele começou a falar de juízes e promotores do Ceará que estão sob de morte, devido a julgamentos de condenação depois de complexas investigações que descobriu esquema criminoso de desvio de verbas públicas de prefeituras no interior do estado. E relembrou que alguma coisa estava mudando no comportamento dos magistrados, que agora estava aparecendo uma nova turma que estava fazendo valer a lei. Depois falou da formação dos pistoleiros que cansou de saber em cidades próximas de Russas e citou Alto Santo, São João do Jaguaribe e Jaguaribe com sendo terras onde meninos desde cedo já se preparam para serem pistoleiros. Era rotina encontrar rapazotes com revólveres de cano curto praticando tiro em limões dentro de um balde de água “quando o limão boiava, eles tentavam furar com um tiro e o mais das vezes acertavam”. Falou que nessa região do vale, a cidade de Russas apresentava o povo mais ordeiro, calmo e pacífico, mas que por isso mesmo recebia muita coisa ruim vinda de outras regiões, até do Rio Grande do Norte. Já em Aracati, área de praia, quase não se ouvia falar de casos de pistolagens, mas era cidade de povo valente. E contou o caso de um linchamento, onde houve depredação e incêndio de carros da polícia pela população quando esta tomou conhecimento pela rádio sinal, que o estuprador assassino de uma criança estava no prédio antigo da delegacia. Foi um caso que repercutiu nacionalmente, até reforço policial foi deslocado de Russas para lá e ele estava entre estes e viu o resultado do estrago.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro