O Sábio Lavrador
Certo dia um lavrador acordou antes mesmo de o sol nascer, chamou o filho mais velho que sempre se atrasa, tomaram café e foram trabalhar na lavoura de café, em época de colheita eles colhem café e ganham um bom dinheiro por sacas, mas fora de época trabalham na capina.
Cada qual com a sua enxada e o cachorro que os acompanhavam na ida e na volta, carpiam em volta de cada pé, olhando o sol forte percebiam que era hora do almoço e o estômago roncava de fome. Encostavam as ferramentas em um canto da árvore e almoçavam a marmita que já estava fria, dava os restos pro cachorro e ali mesmo descansavam na sombra fresca. Depois era hora de voltar ao trabalho...
O suor lhe escorria tanto que molhara a camisa xadrez de mangas compridas para não queimar a pele no sol que passava dos quarenta graus, o chapéu de peão protegia a cabeça e assim passava dia após dia, ambos têm muitos trabalhos pela frente, vários arqueiros de terra no cafezal os esperam.
Um belo dia filho do lavrador argumentou:
“Pai este cachorro que é feliz, só descansa e dorme o dia inteiro”.
E lá estava o cachorro debaixo da sombra fresquinha, fresquinha.
O rapaz sentiu inveja do cão, da suposta vida boa que o animal teria, de vez em quando dava uma paradinha para admirar a boa vida do cachorro mais uma vez...
O lavrador apenas balançou a cabeça em sinal de protesto, incorfomado.
À tarde andando em passos lentos de tanto cansaço, o pai pensava o tempo todo no que o filho lhe falara A noite deitado em sua rede descansando o velho lavrador tomou uma decisão.
No dia seguinte...
Acordou no horário de sempre, a sua companheira já havia preparado as marmitas e deixado a beira do fogão de lenha, o filho acordou atrasado como todos os dias, nem precisava chamar o cachorro que sabia direitinho a hora de ir, mas o velho o deixou preso e foram trabalhar, passavam pelo mesmo caminho, o velho falou para que ele ficasse debaixo da árvore descansando e que guardasse a sua enxada, ele não entendeu nada, mas gostou da idéia e obedeceu.
Um carpia, o outro só olhava, e de longe o filho perguntou:
_Pai, por que é que eu estou aqui parado sem fazer nada?
_Hoje vamos tirar a prova.
_ de que senhor meu pai?
_você terá um dia inteiro para viver como o cachorro, pode ficar por ai descansando.
O rapaz sorriu sozinho e se ajeitou nas raízes da árvore mais bonita em um dia de primavera e tirou um bom cochilo.
Talvez nunca tivesse reparado a beleza da árvore e do cafezal.
Teve sede e perguntou onde estava a moringa de água fresca, mas o pai não deu ouvido e continuou o seu trabalho que hoje era dobrado, a moringa estava em outro lugar.
Continuou o cochilo e na hora do almoço o senhor apanhou o embornal e se sentou na sombra fresca para comer, o filho perguntou onde estava a sua marmita, e o moço nada respondeu.
Assim que terminou, apanhou os restos e os ossos e colocou em um cantinho dizendo: Vem cá... Vem cá...
O rapaz se sentiu tão envergonhado e perguntou;
Nossa! Eu queria só um pouco de comida limpa, mas ficou muito triste com sede e fome, mas não questionou a ordem do pai. Na hora de irem embora não conversaram durante toda a caminhada.
Quando chegou ao rancho o velho foi recebido pela esposa com uma boa xícara de café, quando o rapaz ia colocar os pés dentro de casa para entrar, foi barrado e o velho falou:
“Cachorro dorme é do lado de fora, não precisa de banho quente nem de comida fresca, espere ai fora que assim que terminar o jantar se tiver algum resto certamente eu trago para você”.
.O rapaz ficou muito triste e chorou em silêncio até pegar no sono.
O pai teve pena, mas não poderia fazer nada para evitar, assim vive um cachorro no sertão.
Durante a noite um virava para lá e para cá e o outro dormiu todo espojado.
Foi à noite mais comprida e mais difícil tanto para o pai, quanto para o filho.
Amanheceu...
E o jovem rapaz acordou antes do pai e ficou esperando ele abrir a porta e pediu a benção coisa que ele já não fazia ao pensar que era adulto o suficiente.
O pai perguntou se hoje ele queria trabalhar com bom animo ou ter uma vida boa de cão. Ele não precisou de tempo para pensar em uma resposta;
“Desculpe-me meu pai, eu fui um tolo, deixando o senhor fazer a maior parte do trabalho e eu só reclamando, por favor, pode fazer a minha marmita, pois temos muito trabalho pela frente” Pai e filho se abraçaram como já não abraçavam há anos e foram juntos para a lida. Mais um dia de uma grande jornada.
No caminho foram papeando e sorrindo, e o filho falou:
“Trabalhamos, bebemos água fresca, almoçamos, descansamos, cansamos de novo, voltamos para casa para fazer tudo de novo”.
Mas o velho sábio completou dizendo:
E ainda temos dinheiro no bolso para sobrevivermos sem pedir nada e sem dever nada ninguém.
E isso é uma certeza, “o trabalho é a dignidade de um homem”, seja qual for à profissão.
“Tende bom ânimo”
Assim já dizia o profeta...