"Beto da bike"
No centro de São Paulo, vivia o Sr Roberto, ou o "Beto da bike" como era conhecido pelo moradores da região. Ele vivia na rua, pois, com essas reviravoltas da vida ele acabara perdendo tudo (emprego, família, casa, etc e tal). Contudo, Beto adorava a sua bike e era a única coisa que este possuía, de fato.
Em uma noite chuvosa e fria de Sampa, Beto e sua bike escondido numa das marquises de um prédio, angustiado já com sua situação teve uma ideia ao ler um panfleto jogado ali no chão onde estava; ele sempre andou de bicicleta e apesar de toda as dificuldades era forte e saudável e pensou que poderia usar sua bike para ganhar algum dinheiro, competindo. No panfleto falava de um prêmio para ciclistas amadores caso os mesmos conseguissem fazer determinado percurso, enfim, uma competição onde o que de fato era importante era a resistência e não quem chegava primeiro, e resistência, pensou Beto, era algo que tinha de sobra.
Porém, era preciso os adereços de segurança que o mesmo não tinha e este então resolveu pedir para um amigo dele, dono de uma das lojas ali mesmo onde ele ficava, nas ruas do centro. Ele explicou suas intenções e o "amigo" então lhe disse:
- Ok, Beto, te dou os equipamentos de segurança, contudo, vejo que sua bike também é antiga e eu compro a sua bike e te dou outra nova e ainda lhe dou um emprego aqui na loja. O que achas?
Beto então, lhe explicou que a bike dele tinha mais que um valor material, tinha um valor afetivo, pois, fora algo que sempre gostou de fazer como lazer e que sempre lhe trouxe momentos bons com sua família, e que dela, ele não gostaria de se desfazer. Mas que aceitava de bom grado o emprego e os adereços.
O tal "amigo" ficou ofendido com a proposta de Beto, afinal ele queria ajudar dando-lhe uma bike nova e mesmo precisando de ajuda, na miséria, ainda impunha condições e simplesmente não ajudou Beto, naquele momento. E Beto acabou arrumando sim o que precisava, de segunda mão e ganhando seu dinheiro com sua velha e amada companheira, bike.
Como se encontra Beto hoje? Não sei, contudo fico aqui a pensar nessa tal liberdade, dignidade que tanto falamos, mas quando alguém que julgamos precisar de ajuda, coloca-se em liberdade de expressar o que sente e pensa, por acreditarmos sermos melhores e mais dignos que o outro que necessita, achamos que o outro não existe, não tem vontade própria, afetos, ou mesmo pensa e subjugamos o mesmo sem sequer percebermos e ainda acreditamos que estamos sendo solidários e que o outro é que é orgulhoso e egoísta. Será?
Pensemos nisso!
- Kátia Golau Cariad -