Viagens pelo Ceará XXXII
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
COISAS QUE OUVI NO SARAU RUSSANO
Depois do sarau, cumprimentei aos poetas, aos músicos e ao cantador de viola, este foi o único que se mostrou disponível para prolongar a conversa no calçadão da praça. Se chamava Argemiro de Flores. Falei que eu gostava do som da viola e admirava os versos feitos de improviso e que eu possuía uma violinha caipira, diferente da viola nordestina. Isso foi bastante para o homem começar a falar do seu conhecimento sobre a vinda e o estabelecimento daquele instrumento dos matutos do Brasil. E foi dizendo:
“Tenho lido sobre a entrada da viola caipira no Brasil e isso se deu desde quando os portugueses começaram a explorá-lo. Era natural que os patrícios trouxessem seus instrumentos de trabalho e diversão para o novo mundo. A violinha em nova terra, foi passando de geração à geração de novos filhos da pátria. Hoje estão por aí e aqui, mais sofisticadas que antes, umas, e formando até orquestras, outras, de uma original rusticidade capaz de causar inveja ao melhor artesão da idade média, como é o caso da viola de cocho.
Dizem que o diabo é o maior tocador de viola que já existiu A viola é cercada de lendas até sobre as afinações. É dito que quem usa a afinação rio abaixo pode estar enfeitiçado pelo demo e com isso seduzir muita mulher. Quem usa a afinação cebolão, pode arrancar lágrimas dos ouvintes. Só é bom violeiro quem recebe o dom de Deus, caso isso não aconteça o tocador pode recorrer a outros recursos que é fazer oração no local onde está enterrado um bom violeiro numa sexta-feira da paixão, ou então ter parte com o diabo... é tradição também que o violeiro que tem pacto com diabo nunca vai pro inferno porque um violeiro quando morre é muito bem-vindo no céu. Pra se ter sorte nas cantorias o cantador deve trazer sempre um maracá de cascavel dentro do bojo da viola porque as coisas ruins nunca acontecem com ele.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro