A mente dos sonhos.

Ele olhava o teclado. Cada letra, cada espaço. Ele olhava seu reflexo na tela. Há quanto tempo não rolavam lágrimas em seu rosto? Há quanto tempo fingia a felicidade de uma expectativa do amanhã, que nunca chegou? Há quanto tempo frequentava programas culturais, peças? Há quanto tempo ouvia músicas, andando na cidade, sem saber a que horas choraria? O que há para se dizer sobre isso?

A loucura passou a ser uma opção avaliável. Não importaria o que ele fizesse, ele seria louco, não se entenderia. Ou não. Quem o julgasse louco talvez não se entendesse e a loucura fosse a realidade. Talvez a loucura fosse à realidade. Mas ainda não. Ele ainda não era digno do posto da loucura, era um lugar muito nobre para se estar. Ele admirava os esquizofrênicos, sempre pesquisara sobre. A realidade de criar uma loucura e trocar os papéis dos pensamentos. Não saber onde parar, nem onde começar. Simplesmente ser, ser louco, esta fora de sua própria mente e ao mesmo tempo estar no centro mais profundo de sua própria existência. E para isso não precisava abrir um olho sequer.

Os pixels da tv já não formavam imagem alguma, era questão de tempo para que até o computador não fizesse sentido. Enxergava agora cada átomo que passava em sua frente, ficou cego, não via mais a vida, via apenas... Ponto. Levantou-se, havia passado cinco vidas, mas o relógio indicava 5 minutos. Que sentido faria o tempo agora? Segundo, segundo, segundo, minuto, minuto, minuto, tempo, tempo, tempo. Repetiu até cada palavra não ter mais coerência. Assegurou-se de que o mundo, aquele, de fora do seu corpo também não fizesse mais sentido. Passou a ver a Mona Lisa em Guernica. Fora Pablo que cortara a orelha, ou foi ele mesmo que cortou toda a lógica um dia existente?

O choro por fim veio, e não teve vergonha alguma dele. Não era tristeza, não era felicidade. Talvez fosse esquizofrenia, para quem julga a loucura como loucura. Foi por fim a liberdade.