Viagens pelo Ceará XXIX
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
COISAS QUE OUVI NO SARAU RUSSANO
Em seguida chegou um outro poeta que pediu perdão pelo atraso se chamava Arauto do Tempo e recitou estrofes suas e do poeta Renato Caldas.
Para os eternos saudosistas
Alguém diz sentir saudade
E eu me ponho a pensar:
Só pode estar bem nutrido
Prá desse assunto falar;
Quem tem barriga vazia,
não tem o que recordar
Para uma bonitona orgulhosa
É! Ela nunca me olha
E eu a vejo da janela
Na minha admiração
Faço u´a prece por ela
Rogo a Deus que a abençoe
Só pela beleza dela
Para os amantes do chorôrô
Sou poeta da água doce
Hoje vivo sem tormento
Mas fui ao mar me salgar
Para a tristeza largar
E não ser lamuriento
Pra os que são a favor do controle de natalidade
Acho inadmissível
Celibato, solidão
Quando o Criador mandou
Crescer a população
Fez uma pausa para os aplausos e disse que em seguida recitaria versos bem conhecidos retirados do livro "Fulô do Mato" do potiguar de Açu Renato Caldas, eram estrofes avulsas que ele julgava espirituosas, e continuou:
Sêcas do sertão
Povo de chapéu de palha
Que luta vive e trabalha
Somente para comer
Povo que vive sofrendo
Na própria dor escondendo
A angústia do seu viver
Trabalhamos como bicho
Mas não sei porque capricho
A natureza é assim
Nossa vida é um aperreio
Nunca passamos do meio
É um principe sem fim
Sobre as enchentes
O rio sempre aumentando
Os destroços carregando
Para jogá-los no mar
Na água suja barrenta
Bem imunda e fedorenta
E a tristeza a boiar
Sobre a velhice
Amigo dotô Teixeira
A veíce é uma porqueira
Que não tem comparação
Além da falta de vista
Todo véio baixa a crista
E fica olhando pro chão
Milagre eu não espero
Porem francamente quero
Meu caro dotô Teixeira
Aumentar as minhas penas
Ao ver das lindas morenas
O rebolar das cadeira
Sobre saudade
O homem da minha idade
Que nunca sentiu saudade
Não pode ter salvação
Saudade....
É Deus assistindo
A criatura e sentindo
Tristeza e satisfação
A saudade é uma quenga
Que dentro de nós arenga
Sem dar proveito a ninguém
Alembrar tempo atrevido
Tiro o sono do indivíduo
E a vergonha também
Sobre o passado
Pra que andar choramingando
Amofinado pensando
No tempo que se passou?...
É como diz o ditado:
Quem quer viver no passado
Porque nele não ficou?
Sobre o sentimento do homem
Homem que vive se rindo
E diz que nunca chorou
Ou esse cão tá mentindo
Ou por outra, nunca amou!
Sobre a desocupação do homem
Homem que anda inlordado
Sem ter uma ocupação
No mundo só pode ser
Ou jogador ou ladrão
Sobre a mulher
Mulher é qui nem cachorro
Que pega a gente de furto
É cavalo comedor
Precisa cabresto curto
Se curvou, encerrando sua apresentação e saiu sob vaias bem-humoradas, aplausos e risos.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro