Viagens pelo Ceará XXVIII
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
COISAS QUE OUVI NO SARAU RUSSANO
Foi ovacionado, mas continuou com o seu olhar triste, alguém disse que ele era o Augusto dos Anjos Russano. Depois disso um cantador de viola cantou uma canção cuja mote era: “seria bom, seria bom demais se eu voltasse a ser criança pra viver de esperança lá na casa dos meus pais”.
O poeta que veio em seguida, era um quarentão morador de Limoeiro do Norte e dizia ser o Trovão do Vale.
Recitou com a folha do poema à mão, dizendo os versos que sabia de corado e lendo os que não lembrava.
Cumprimentou o público e disse que ia mostrar de sua autoria:
OS MISTÉRIOS DA LETRA P
Uma velha pitonisa me veio uma noite em sonho
E ao consultar meus mistérios me falou da letra “P”
E eu na dúvida sem saber
Se ficava na estrada, porque no sonho a feiticeira
Ficou louca e se calou e não mais me disse nada
Acordei e então pensei no enigma do sono
Cuja letra me intriga.
P pode ser poder, também pode ser pecado
Ou algo ligado ao porvir ao presente ao passado?!
porém pensei em profissão e não em aptidão:
Padeiro, porteiro, pescador e professor,
Proletário, pedagogo, pedreiro, paleontólogo,
Psicólogo, produtor!
Quem sabe padre, pai, pastor, policial plantador?! Mas plantador de que?
De pinha? papoula?pitanga?! arre P prolíxo! a incerteza me zanga!
Podia ser pintor de prato, de paralelepípedo
Ou de pessoas peladas? ô P das xaradas!
E seu fosse pregador ou mesmo um palestrante
Mas de qual postulado ou de qual philosofia, e a dúvida ardia!
Ser dono de Pharmácia? me angustiou e angustia!
Eu podia ser piloto, perito, prefeito...
Presidente, profeta-vidente, picareta-polivalente...
Periquito, que é soldado que na guerra mata gente
Podia ser publicitário, mas pra propagar o que?
Produção de portas, porcelana, porco, porca, parafuso, pijama?
De panelas, de palitos, palitós ou pirulitos?
Ou pêzinho Benedito!
Aí é que são elas pô, é que em cada profissão há muita variação
Do enigmático P, e eu pra não enlouquecer
Já não paro pra pensar, hoje vivo pra viver!
E em tudo aquilo eu via a minha amada "poesia"
Poeta eu sou e era, e a pitonisa megera nem precisou dizer!
Foi bem aplaudido, se inclinou e se retirou. Depois disso não havia mais músico para tocar e o cantador resolveu cantar outra canção, cujo nome era: Conselho ao filho Adulto.
Nisso o Vate Natureza se apresentou para dizer mais um poema de sua autoria e recitou :
ODE À CARNAÚBA
Tua palha é um leque verde
Que transfiguras em amarelo-ouro quando secas
És espelho da esperança e da cor dos anjos
Teu cheiro é o dos ares invernosos da Mata
Teu nome afugenta a careta da morte
Fostes o ninho e o sustento dos meus avoengos
És carnaúba, carne da minha terra
Eu podia te engrandecer mais, bem mais
Mas paro pra escutar teu conversar com os ventos
E rogo que com teu abano benfazejo dissipes, os meus tormentos...
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro