Viagens pelo Ceará XXV

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MITICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

COISAS QUE OUVI NO SARAU RUSSANO

Naquela tarde não fui á barbearia, aproveitei para colocar em ordem algumas coisa e esperei o sol esfriar para sair para a sessão de fotos. Dessa vez segui com o meu carro pela BR 116 em direção à Boqueirão do Cesário e fotografei a selva que beira a estrada, procurei destacar bem as árvores da caatinga e o pôr-do-sol.

Era sexta-feira. Lembrei que naquela noite haveria um sarau no centro cultural e eu não queria perder tal apresentação. Descansei um pouco na pousada, tomei um banho, troquei de roupa, saí e fiz um lanche na praça. Deixei pra jantar depois do evento, que era quando poderia conversar com algum poeta enquanto bebesse alguma coisa porque ninguém é de ferro.

Quando cheguei ao centro não havia quase ninguém, porém o local já estava arrumado, colocaram cadeiras em círculo no bem iluminado pátio. Sobre uma das cadeiras vi um exemplar do jornal quinzenal Correio de Russas que foi fundado por Matoso Filho há 71 anos. Além dessa manchete de comemoração trazia outras falando do vencedor do pleito eleitoral na cidade, também que um ônibus havia sido incendiado durante a campanha política em Jaguaruana e que aconteceria no início do mês de novembro o XIV Encontro Cultural Russano. Fiquei folheando o jornal enquanto o pessoal chegava e lembrei que o poeta Manezim assinava uma das colunas. Encontrei na página sete o seguinte artigo assinado por ele:

O BRASIL SEM CULTURA

Ser polido no Brasil paga um preço muito alto. O Brasil não admite um homem culto de maneira alguma. O nosso país gosta muito de ouvir, de dar amém a tudo e não ser contrariado. Tinha muita razão Lima Barreto em criticar o Brasil de maneira radical nesta questão da nossa educação manca que nós temos até hoje. Nunca um homem de letras neste país da bruzundanga teve valor nenhum, pois o nosso país não interessa o saber de ninguém. A cultura do Brasil é a cultura do futebol, ou a cultura da nudez, ou ainda a cultura da violência brutal. Os próprios mestres têm total desprezo, pelos bons escritores, pelos bons poetas, e os artistas de outras artes. Como podemos dar valor a arte se somos ignorantes com ela? Como podemos amar a um José de Alencar se não sabemos ler e muito menos interpretar aquilo que lemos? Só dá valor a cultura quem foi habilitado a ela desde criança, como eu e outros mais. No Brasil todo mundo quer ser doutor, porém sem nenhuma cultura verdadeira. O Brasil nunca será um país de grande cultura como muita gente pensa até hoje. Todo país de cultura, a sua primeira fonte é ler bastante e interpretar o que leu. No Brasil de Cabral lemos pouco e entendemos muito menos. Ler Castro Alves é dizer o que ele pensava do nosso país escravocrata e não decorá-lo sem entender coisa alguma do que leu. Quem lê pensando em decorar, nunca interpreta o que está escrito. No Brasil sempre o que aprendemos é decorado e não interpretado. A verdadeira cultura até hoje o Brasil não conheceu e nem vai aceitar de maneira alguma. A nossa maior cultura hoje está sendo a novela vulgar, ou a música de péssima qualidade, para quem tem boa percepção. O nosso Luiz Gonzaga hoje não tem mais vez neste Brasil desgovernado e anti-cultural. Nunca mais teremos: um Viriato Correia, um Olavo Bilac, um Humberto de Campos, um Machado de assis, um Monteiro Lobato, um José de Alencar, um Joaquim Nabuco, Patrocínio e tanto outros homens deste quilate que tiveram uma cultura salutar e que tanto fizeram por este Brasil derrotado pela política nefanda e pela falta de respeito de cada um de nós. A morte de uma nação começa pelo descaso do conhecimento da sua própria língua. O nosso português não faz inveja ao português de Provença na época medieval. Sentimos os maiores absurdos na língua de Camões, o maior cultor deste nosso idioma tão mal entendido neste Brasil selvagem.

Autor: Manuel poeta

Evito comentários pessoais sobre as ideias do texto e deixo com o leitor a interpretação do artigo assinado pelo poeta Manezim.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 28/03/2013
Código do texto: T4211587
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