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IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MITICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
ARTIGO SOBRE O JOGO DE XADREZ parte II
Autor: policial Petronio
Os princípios de beleza são: o de verdade, base de toda beleza; o de harmonia de proporções; o de economia; de profundidade quanto ao objetivo visado; e o princípio de satisfação arrebatadora. Uma bela partida de xadrez demonstra domínio sobre princípios básicos, desenvolve harmonicamente todas as partes e fases, revela precisão na execução dos lances; atinge deleitável culminação e produz exaltação pessoal.
De início, há a ortodoxia do xadrez. Que é o correto e o verdadeiro padrão de processos prescritos nas leis, regras e regulamentos postos em vigor pela Federação Internacional de Xadrez.
No jogo de xadrez, os cálculos matemáticos demonstram entre outras coisas, a magnitude do número de lances possíveis em uma partida. Indica também a profundidade do estudo do xadrez e as oportunidades existentes para o desenvolvimento de novas aberturas e novas combinações. Foi calculado que o número que representa os diferentes caminhos para jogar os primeiros dez lances de cada lado no tabuleiro atinge o astronômico valor de 169.518.829.100.544.000.000.000.000.000. De tal cifra deduziu-se que, se cada homem, mulher e criança sobre a face da terra jogasse xadrez sem cessar à razão de um lance por minuto, levaria 217 bilhões de anos para serem esgotadas todas as combinações possíveis no jogo de Caíssa. Por aí se vê que o negócio não é pequeno.
A predisposição psicológica diante do xadrez, leva o jogador a expressar como sente o jogo. Uns vêem como uma luta entre dois seres humanos, mediante regras estabelecidas, para outros é a oportunidade para encontrar solução para um problema, outros dizem que o xadrez lhe proporciona uma válvula para demonstrar suas qualidades superiores, para outros é simples recreação. A atitude de um jogador perante o xadrez, determina em muitas vezes se conseguirá ou não enfrentar a derrota de boa mente. O estilo de jogo de um enxadrista é equivalente ao seu estilo de vida, a seu temperamento. Uma pessoa expansiva não se contenta com o domínio de apenas uma parte do tabuleiro, um destemido procura ataques mesmo se eles não existem, um egoísta pensa apenas nas suas possibilidades, um cauteloso nunca rechaça uma linha de empate. Pode-se de um modo geral dividir em dois os tipos de enxadristas: os racionais e os intuitivos. Os primeiros tomam suas decisões baseadas e um cálculo minucioso ou uma estratégia refinada. Trata-se de um estilo bem matemático, científico. Os intuitivos não se preocupam em calcular grande número de variantes, seguem seu instinto, seu coração. Há jogadores que executam lances técnicos e outros que jogam lances desagradáveis para combater os nervos do adversário, mas é necessário ter sempre algum plano e objetivo em vista, deve-se organizar cuidadosamente de modo a poder atingir o alvo com rapidez, ser cauteloso e estar alerta às complicações a enfrentar e, que podem surgir de um lapso do adversário, um erro, uma posição enfraquecida ou uma ação ameaçadora. Há planos a longo e curto prazo; um plano inteligente nos torna heróis e a ausência de um, covardes e néscios. A previsão é a habilidade de visualizar mentalmente o número de lances na frente e suas conseqüências antes que hajam sido executados no tabuleiro. Poderá ganhar, aquele que vê um pouco além de seu adversário. O bom mesmo é procurar se executar o melhor lance sempre, já que só se faz um de cada vez. A visualização do tabuleiro se dá na mente e quem se exercitar no jogo às cegas desenvolverá um agudo sentido de registro da imagem deste perante a consciência. É dito que a ameaça é mais forte que a execução! Para se jogar bem é necessário ter imaginação visual, paciência, autocontrole, capacidade de resolução, boa memória e raciocínio adequadamente associativo, previsão, concentração e esportividade. Quanto maior a idade do jogador, mais pode ser o cansaço que sente em uma partida. A cegueira enxadrística é a falha e o erro que freqüentemente é o resultado de fadiga mental e física causada por prolongada concentração.
Se dá o nome de brilhante a uma série de lances capazes de originar um sentimento de profunda admiração para com a perícia e a capacidade intelectual de um enxadrista. Numa partida brilhante deve haver economia, sacrifícios espetaculares e surpreendentes. Para a maioria dos jogadores a partida perfeita ainda não foi jogada. Teoricamente, uma partida isenta de falhas deverá terminar empatada. O vencedor é o que faz o penúltimo erro. Uma partida é uma batalha em que se produzem falhas e imperfeições de ambos os lados. Não há enxadrista que não perca grande número de partidas, e é um absurdo não se encarar as derrotas com esportividade.
Aniquilamento é quando se ganha uma partida pelo extermínio de todas as forças do adversário, exceto o rei, é quando o rei é despojado de seu exército, tornando-se indefeso. Depois da idade média a vitória por xeque-mate é considerada mais meritória que por aniquilamento. No xadrez também aparecem os principiantes prodígios, que exibem extraordinária habilidade como jogador. Houve garotos que aprenderam o jogo aos 3, 4 anos e aos oito já apresentaram força de mestre. Alguns campeões mundiais foram jovens prodígios.
Especialistas em xadrez, fazem inúmeras referencias ás muitas razões por que são levados a considerar o xadrez como um dos mais importantes, senão o mais importante dos passatempos, que é o mais cosmopolita de todos os jogos e também o mais democrático. É uma forma de produção intelectual e uma das maiores alegrias, senão a maior da existência humana. Nem todas as pessoas podem escrever uma obra, fazer uma ponte, ou mesmo contar uma boa piada. No xadrez, qualquer um pode, e deve ser, intelectualmente produtivo, partilhando assim de seu particular encanto. Um grande mestre de xadrez falou que “sempre teve um delicado sentimento de piedade pelo homem que não conhece o xadrez, da mesma forma com quem permaneceu ignorante no amor”. Outro entusiasta disse que o xadrez tende a afastar o tédio, a aguçar os sentidos e exaltar o espírito. Pra outro, o jogo real traz ricos dividendos, mente aguda e alerta, superior apreciação de valores, senso de proporção e compreensão mais madura da própria vida e de nossos companheiros. Outro diz que aprendeu como ser paciente, como suportar as coisas, como compreender o ponto de vista dos outros, como persistir em caminhos não comprometedores e como tirar lições dos próprios erros.
A sociologia enxadrística lida com as relações humanas manifestadas através da atividade da atividade enxadrística. O sociólogo estuda o comportamento existente nos praticantes a fim de encontrar um padrão representativo de comportamento que se possa dizer característico de determinado grupo unificado de jogadores. Foi constatado que os jovens são mais ousados que os mais velhos.
Quanto à universalidade do jogo sabe-se que serve para qualquer idade, estação, sexo, clima, para tardes de verão e noites de inverno, em terra, no mar e no ar. É a própria água do Letes para penas ou desapontamentos, pois não há esquecimento mais profundo do que o que ele oferece para nosso alívio. O xadrez teve e tem seus patronos, são personalidades influentes, muito interessadas no jogo, a ponto de dar seu apoio moral e material para promover maior interesse e entusiasmo para essa prática.
Há registros de ocorrências estranhas que parecem inacreditáveis sobre o efeito do xadrez, uma delas é que em 1850, um cidadão considerado demente, depois de ter jogado de dez a doze horas seguida com um estudante pobre, este enlouqueceu, enquanto o louco se tornou são.
Em xadrez há também o analista que é o observador imparcial e aponta o que julga ser os melhores lances, tanto para as pretas como para as brancas. Mas, como a autópsia nunca poderá trazer um cadáver à vida, também a análise no xadrez por mais bela que se revele, jamais conseguirá anular as mortais palavras “xeque-mate” e “abandonam”.
Benjamim Franklin, tinha o xadrez como um dos passatempos preferidos, chegava a jogar doze horas seguidas e disse num ensaio que escreveu: o jogo de xadrez é tão interessante por si mesmo que não necessita da perspectiva do ganho para induzir a jogá-lo; e por isso nunca é jogado por dinheiro. Aqueles, pois que têm tempo para tal diversão, não poderão encontrar outra mais inocente...
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto que voce acaba de ler é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro