Viagens pelo Ceará XII
IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.
ITAIÇABA E JAGUARUANA
Julguei interessante esse diálogo e por isso o transcrevi. Estive após o ensaio da peça conversando com alguns atores na churrascaria da praça e foi muito agradável minha estada na velha e histórica terra do Dragão do Mar.
Eu poderia ter me demorado um pouco mais na cidade mas resolvi ir em busca do sertão no dia seguinte.
Saí depois das oito da manhã, a cerveja da noite anterior me deixou com uma leve dor de cabeça, mas me alegrava muito a lembranças das falas dos dois personagens da peça e a boa conversa que tive com os artistas.
Na estrada parei para fotografar uns viveiros de camarão um pouco antes da serra do Ereré. Resolvi entrar na cidade de Itaiçaba e ir até a barragem que represa o Jaguaribe.
Achei a passagem molhada bonita e majestosa, apesar da água não estar lavando a barragem. O balneário é aprazível e proporciona banhos de chuveirão e piscina com a água corrente da represa. O lugar era muito convidativo para um bom banho e bebericar uma aguardente, pois havia siri gordo pra tira-gosto. Almocei tilápia frito com baião de dois. Vi que a lua estava crescente e resolvi alugar espaço numa pousada ao lado da barragem e esperar a tarde e o anoitecer, certamente que encontraria alguém com alguma história diferente pra me contar. Dormi umas duas horas naquela tarde ao sabor dos ventos do leste.
Era minha intenção no dia seguinte ir até Jaguaruana, por lá eu ia procurar pelo Zé de São Bento, um vendedor de redes que conheci numa loja perto da catedral de Fortaleza. Ele havia me falado de que sua cidade era a que melhor produzia redes no estado e que ele criava uns cavalos de vaquejada pra vender. Demonstrei interesse em passar por Jaguaruana e ele disse que eu não me acanhasse quando chegasse por lá. Podia procurá-lo e se ele estivesse na cidade, eu estaria em casa.
Na pousada me informaram que naquela noite haveria uma seresta com um tecladista num restaurante da rua principal de Itaiçaba. Eram umas oito horas quando terminei de colocar em ordem minhas fotos e os contatos que mantenho pela internet. Saí a pé, a lua estava no meio do céu e o vento havia ficado mais forte. Numa praça alta com bastante degraus ainda conversei com algumas pessoas sobre as enchentes que alagavam aqueles pontos, mas não me demorei.
Cheguei ao local do restaurante onde havia um artista cantando canções antigas regravadas por Zezo, num ritmo só e muita gente comendo e bebendo, ninguém dançando. Para falar alguma coisa com o garçom era preciso gritar para que ele ouvisse e isso me deixa desconfortável. Me afastei o máximo que pude das caixas de som do seresteiro. Comi frango assado com baião de dois, bebi uma cerveja e voltei à pousada.
Dormi bem e fui acordado por cantigas de graúnas e bem-ti-vis.
Saí cedo e fotografei alguns pontos da paisagem. Cheguei antes das oito da manhã em Jaguaruana e me informei sobre o meu conhecido vendedor de redes. Possuía um galpão que lhe servia de casa e onde funcionava o seu tear, era ali que fabricava e vendia a produção. Quando cheguei ele estava no seu lugar de trabalho fazendo fardos de uns panos de redes, o tear estava parado. Fui muito bem recebido e ele fez questão de que eu ficasse em seu galpão, havia um reservado com ampla sala e quarto no lugar pra se dormir, só não havia silencio quando o tear estava funcionando. Ele não fazia comida ali mas, um rapaz vinha entregar quentinhas caseiras de primeira e que eu não me preocupasse de pagar pousada, falava assim porque na nossa conversa na capital, eu havia confessado gostar desse tipo de aventura. Aceitei a proposta com gratidão e falei que eu gostaria de visitar a igreja da cidade e se possível fazer uma cavalgada pela beira do rio. Acertamos pra sair nos cavalos depois das três da tarde e eu podia visitar a igreja à noite pois, esta ficava sempre aberta.
Durante a cavalgada levei a máquina digital e fiz registros fotográficos das margens do Jaguaribe no local que é conhecido por Serafim e foi tudo muito bom, mas o melhor eu ia ser a conversa que eu ia ouvir depois.
À noite saímos, visitei a igreja e pude ouvir bem o bonito som dos sinos, que me fizeram lembrar o homem do Aracati dizendo que os sons dos da igreja matriz de lá soavam como som de lata. Em seguida passamos pela praça em frente à prefeitura e ele resolveu me levar para conhecer um bom prosador, e riu. Perguntei qual o motivo do riso, e ele disse que eu me preparasse, bastava perguntar alguma coisa sobre política ou igreja de padre ao homem e deixar que ele ia falar bem muito sobre o tema e que, eu não me preocupasse em lhe perguntar mais nada que ele ia de assunto em assunto misturando suas ideias e pareceres. E foi tiro e queda, o homem estava lá no seu ponto, sentado em uma confortável cadeira de balanço em sua calçada ventilada esperando algum ouvido para lhe escutar.
Fui apresentado ao dito cujo, que se chamava Zé Arilo. Era um senhor alto e branco que parecia um ariano e muito falou comigo naquela noite, era tão ávido no falar quanto o cozinheiro A. Carlos do Fortim.
Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.
Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e quem sabe proveito. Atenciosamente
Agamenon violeiro