Viagens pelo Ceará XI

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

A PEÇA TEATRAL parte VI

- Estou cada dia mais barbudo e não me disfarço nem por isso quero assustar ninguém. Uso meu chapéu de carnaúba, para proteger os miolos que me restam, trago sempre ao alcance da mão meu nobre bastão de jucá para afastar os que se atrevem a não manterem certa distancia e decência, seja quem for, aparição, bicho ou homem!

- Você mora no mato mas é livre e tem o seu direito de ir e vir!

- Passo a semana na minha cabana, na manufatura do barro, creio que quem gosta do artesanato como eu, é obstinado e não se prende a obedecer padrões e leis trabalhistas. Conheço bem e tenho amizade com inúmeros outros manufaturadores, tem uns que trabalham com o coco e fazem esculturas de macaco, estes se apresentam bebendo água de coco e falando ao celular, pois bem, eles pensam e agem igual a mim. De certa forma somos marginais, porém a minha satisfação é quase plena, para exercitar minha outra forma de expressão, não quero palco melhor do que a praça pública, com era na época dos Gregos.

- O apóstolo Paulo esteve pregando pra eles.

- Foi, contudo bem antes, ele em perseguição aos seguidores de Jesus, caiu do cavalo numa estrada, teve uma revelação e resolveu mudar de vida. Escreveu epístolas e mais epístolas. Numa delas repetiu coisas do grande livro, disse que o homem tem que ser a cabeça da família. E que as mulheres devem ser solícitas para com seus maridos, mas é isso que se ver hoje?

- É evidente que essa regra está caindo em desuso. Foi preciso a criação da Maria da Penha, pois o bicho homem é renitente, é duro na queda igual a Saulo antes de se tornar o santo Paulo, ahahahahaha.

- A maioria desses chamados santos tiveram seu lado negro, mas prefiro falar das fêmeas que vemos hoje, e que ninguém pense na santidade dos bichos de saia. É só se lembrar de dona Eva, madame Dalila e outras do mesmo time. O bicho humano mudou pouco, vejo com bons olhos o desembarque dos gringos por aqui.

- Estou acostumado a esses tipos desde a época do paz e amor dos bicho grilos, quando começou a liberdade sexual.

- A coisa tem novos formatos hoje, foi evoluindo nesse ramo quero dizer, ai de quem não respeitar homossexuais e lésbicas...

- É bem verdade, a época de Sodoma e Gomorra já vai tarde e água passadas vai se salgar no mar, peguei você ahahahahaha,

- Pois tudo passa, tudo passará e nada fica, nada ficará...

- Também fui testemunha da chegada do primeiro trio elétrico para o carnaval daqui.

- Ouvi as queixas do grande violonista e seresteiro Monteiro Roland, que também frequentou o Seminário, foi grande a insatisfação dele quando da chegada do Lazarão, aquele monstro fazendo um som dos diabos, afastando os tadicionais blocos do caveira, índios e malandros do morro. Mas fazer o que, não se consegue impedir certas intromissões do tempo...

- É...!, e se os gringos mesmo sem casarem, se acasalam com as nativas, tá tudo certo como dois e dois são cinco.

- Ahahahahah.

- Ahahahahah.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e quem sabe proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 22/03/2013
Reeditado em 08/04/2013
Código do texto: T4202319
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