Viagens pelo Ceará V

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

ARACATI

Saí do Fortim umas cinco e meia da tarde. A vegetação era a mesma do semi-árido. O terreno bem asfaltado oferecia alguns altos e baixos, quem passa por ali está margeando o Jaguaribe.

Em menos de vinte minutos, naquele início de noite eu estava avistando as luzes da velha cidade à minha esquerda. Antes de chegar à ponte, vê-se a entrada à direita para o aeroporto recém inaugurado que tem o nome de Dragão do Mar, em homenagem ao Francisco José do Nascimento, um personagem da história que foi pioneiro a impedir o tráfego de escravos no Ceará.

Cheguei em Aracati na hora da Ave-Maria. Encontrei boa pousada perto da rua central onde existem os casarões. Estive a conversar com o rapaz da recepção sobre curiosidades da cidade. Disse-me que havia muitas igrejas e casas antigas para eu fotografar, além de muitos quilômetros de praia. Perguntei sobre eventos culturais e ele me informou que a festa da padroeira Nossa Senhora do Rosário estava acontecendo naqueles dias. Na cidade havia um grupo de teatro que fazia seus ensaios no solar da Clotilde, havia um bom grupo de pagode e alguns seresteiros. E que eu podia me informar melhor sobre capoeira e outras artes com a direção do museu jaguaribano. Descansei um pouco e depois fui a uma pizzaria na praça onde há a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres. De lá, me dirigi ao solar e perguntei se havia alguém do grupo de teatro com quem eu pudesse conversar. Havia sim e fui muito bem recebido pela pessoa da diretora.

Disse a ela o que eu pretendia com aquela minha passagem pelas cidades. No caso do Aracati eu estava muito interessado em saber sobre algumas curiosidades históricas. Falei que eu sabia por superficial informação que a cidade tivera uma mulher que apelidava as pessoas há algumas décadas e ela confirmou. Falou-me que o Aracati possuía um passado histórico invejável, foi cidade bem desenvolvida devido à sua geografia aquática numa época anterior às estradas asfaltadas e aos caminhões. “Aracati chegou a receber navios vindo direto da Europa para cá, por aí dava prá eu ter uma ideia da importância que a ela tivera em seu passado de glórias”. Mas voltando a botar os pés na realidade, disse-me que o grupo de teatro era quem no momento mais se preocupava em resgatar e despertar no povo local, quão importante havia sido a esquecida Aracati do momento. Havia gente nova fazendo pesquisas, historiadores escrevendo livros sobre a cidade, enfim a coisa não estava de todo parada. Como num estalo de admiração disse que eu poderia assistir ao ensaio da peça que estavam preparando. Que eu podia fotografar os personagens e ouvir suas falas. Havia uma diálogo de dois personagens, que podia ser interessante para mim. Um mendigo com ares de filósofo e um profeta com jeito de poeta, entabulavam conversa de quase meia hora, incluindo fatos históricos em suas lúdicas recordações. O mendigo era um tipo engraçado de conselheiro e era contemporâneo do poeta... o poeta revolucionário era um conformado com o nosso tempo e dizia das transformações que vira acontecer por aqui nos últimos sessenta anos. Mas o ensaio seria somente na noite do dia seguinte. Se eu quisesse esperar!

Nem pensei muito, eu já estava decidido a fotografar as igrejas e casarões antigos no dia seguinte, podia ir à praia e depois à noite assistir ao ensaio, estava tudo certo. Perguntei-lhe se eu poderia gravar as falas dos personagens e ela disse que sim, me informei do local do ensaio e me despedi.

Naquela noite voltei à pousada e resolvi botar em ordem as fotos que eu havia feito. As transferi para o computador e entrei na internet para manter contato com alguns amigos.

No dia seguinte saí cedo em busca dos ângulos das igrejas e casas do Aracati. Fotografei as quatro igrejas brancas e uma menor. Na rua dos casarões fotografei a casa onde morou o escritor Adolfo Caminha, a casa onde se reuniram os revolucionários da Confederação do Equador e ainda visitei o museu Jaguaribano.

Estive conversando com moradores mais velhos na praça grande em frente ao mercado, onde existe um colégio Marista. Fiz perguntas sobre as cheias, falaram e me mostraram nas paredes do mercado as marcas das águas de 1924, 1974 e 1985. Um senhor me disse que a velha Aracati estava cada dia mais desprezada pelo prefeito, e ironizou: “ mas há um contraste, mesmo esburacada está cheia de sinais de trânsito!” e que se esse ano tivesse havido bom inverno a buraqueira estaria ainda bem maior. Disse também que até os sinos da igreja matriz que possuíam bela sonoridade, foram trocados por uns de som de lata, uma vergonha!

Depois fui ao mercado do peixe onde fotografei cordas de caranguejo, sururús em bacias, comprei frutas na feira que havia atrás do mercado. Naquele dia, resolvi ir almoçar numa churrascaria e iria à praia dos gringos na parte da tarde para fotografar as dunas ao entardecer, e assim fiz. Estava ansioso pela noite quando ouviria o fala dos bizarros personagens.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Caso essa seja sua primeira leitura desses contos, sugiro que leia desde o primeiro capítulo para uma melhor compreensão e quem sabe proveito. Atenciosamente

Agamenon violeiro

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 18/03/2013
Reeditado em 08/04/2013
Código do texto: T4194781
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.