O reencontro
Esta história aconteceu há muito, muito tempo.
Ele segurava aquela caixa como quem guarda o mais precioso dos tesouros. Seu olhar perdido no infinito voltou no tempo e buscou no fundo de sua alma os mais belos momentos que tivera na vida.
Conforme as recordações iam chegando ao seu pensamento, um sorriso brotava de forma espontânea e verdadeira, configurando que aquelas lembranças eram as mais profundas e intensas de sua vida.
Lembrou-se da época em que eram crianças, das brincadeiras inocentes, dos beijos sem malícia, dos segredos divididos. Às vezes brincavam de namorados, sem entender direito o significado de namorar.
Gostavam da companhia um do outro, entendiam-se pelo olhar, conversavam durante horas. Havia uma harmonia e um magnetismo tão forte entre eles que contagiava a todos.
Eram parecidos em muitas coisas, diferentes em várias outras, mas o sentimento que os unia era forte o bastante para aproximá-los de forma definitiva.
O tempo passou. Veio a adolescência. O sentimento permanecia entre ambos. Não se preocupavam em dar nome àquele sentimento, bastava senti-lo.
Mas, as casas da rua onde moravam tiveram que ser derrubadas por causa do progresso. As famílias foram indenizadas e foram obrigadas a se mudar dali. Os dois não acreditavam naquilo...depois de tanto tempo teriam que se separar.
A família dele partiu primeiro.No dia da mudança, ela não quis vê-lo partir. Não se despediram. Na véspera, haviam prometido que um dia se reencontrariam e que o sentimento seria igual. Prometeram que trocariam correspondências diariamente contando todos os detalhes do dia, como se ainda fossem vizinhos.
Trocaram os novos endereços para cumprir a promessa.
Dias depois, foi a vez dela partir com a família.
A realidade dos dois a partir de então foi muito diferente. Ele mudou-se para uma cidade praiana, passava os dias na praia a conversar com os amigos e paquerar as garotas. Ela mudou-se para uma cidade do interior cuja paisagem combinava com sua tristeza.
Dia após dia ela escrevia para ele, contando do seu dia. Ele também escrevia para ela, mas, aos poucos, foi diminuindo, diminuindo até que parou de escrever.
Em pouco tempo também não recebia mais as suas cartas. Talvez nem tenha percebido porque sua nova vida não permitia que ele perdesse tempo com essas bobagens.
Um ano se passou desde então. Tudo aquilo que o atraíra no começo naquela cidade começou a ficar sem graça. As pessoas eram superficiais, não entendiam a simplicidade de olhar a lua, de observar estrelas deitado na grama. Não sabiam o valor de um sorriso sincero ou de um olhar afetuoso.
Achou que era tempo de procurar de novo a amiga com quem tinha dividido os melhores momentos de sua vida. Escreveu-lhe uma carta, desculpando-se por todo aquele tempo sem notícias. Dias depois, recebeu uma caixa como resposta.
Quando a abriu, viu dezenas de cartas com a letra de sua amiga. Tinham o perfume dela. Mas, uma das cartas, a primeira, não tinha a letra dela. Ao abrir, sua alma soltou um grito silencioso de dor. A mãe dela, em poucas linhas, contou-lhe que a filha havia morrido há poucos dias de uma doença misteriosa que nenhum médico havia conseguido diagnosticar.
Ao arrumar as coisas da filha para doação havia encontrado essa caixa com as cartas que ela escrevera para ele todos os dias daquele ano, mas não tinha enviado. Ia jogar no lixo, mas quando recebeu a carta dele, decidiu mandar-lhe pelo correio.
Afinal, pertenciam a ele.