Viagens pelo Ceará I

IDEIAS AVENTUREIRAS, MUSICAIS, LITERÁRIAS, MÍTICO-CURANDEIRAS, ENXADRÍSTICAS, TEATROLOGAS E INSANAS... DE MORADORES DO VALE JAGUARIBANO, NUM ANO DE ESTIO.

FORTIM

Saí de Fortaleza bem cedo, o sol ainda não tinha aparecido no horizonte. Era uma quarta feira, dia dez de outubro de 2012. O carro estava com todos os equipamentos necessários para a jornada. Eu havia verificado tudo desde a semana passada. Escolhi por puro prazer e aventura fazer esse trajeto por parte do litoral e depois entrar pelo sertão do Ceará. A ideia era antiga e, foi se formatando no meu pensamento devido aos lugares que mais frequento na capital cearense. É que conheci entre a praça da sé e a praça da estação, dois moradores do vale Jaguaribano e por conta de nossas conversas, reforcei minha vontade de iniciar essa boa e inusitada aventura.

Seriam duas viagens, a primeira na estação de estio e a outra depois, passando pelos mesmos lugares da primeira, que seria quando terminasse a estação chuvosa de início de ano. É que eu queria registrar as diferenças no visual da natureza e se possível no espírito das pessoas com quem ia conversar.

No mapa rodoviário de papel, marquei as cidades que iria passar, mas eu mesmo poderia me dar ao luxo de mudar esse rumo caso quisesse. Poderia ficar o tempo que achasse necessário em cada vilarejo ou cidade.

E ali estava eu, com o carro na estrada. Comecei a trafegar pela litorânea. Fotografei pontos da Prainha, Jacaúna, Caponga, Barra Nova e Morro Branco. Em Beberibe fui até à praia das fontes onde fotografei mar e embarcações, conversei com pescadores e almocei peixe com pirão. Na parte da tarde segui viagem, entrei em Sucatinga e fui até à praia da barra. O vento e o tempo estavam bons naquele final de ano, e alguma vegetação ainda se achava verde, apesar da dura estiagem de ano bissexto.

Segui caminho quando já eram umas quatro da tarde, vi coqueirais plantados e muita vegetação nativa. A estrada se achava bem conservada e parte dela ainda estava sendo duplicada.

Meu destino naquele dia era o Fortim, por lá ia tentar encontrar o A. Carlos. Esse camarada era militar da reserva da Marinha e um fascinado por pescarias. Eu o havia conhecido num local perto da praça da estação onde se vende tarrafas, anzóis e outros utensílios de pesca. E foi assim: eu ia passando pelo local e como gosto muito de ver de perto equipamentos rústicos que enfeitam a alma dos aventureiros, resolvi parar. Um homem estava verificando as malhas de uma tarrafa para camarão, e eu puxei conversa. Disse que eu também gostava de pescar de tarrafa, mas que ainda me faltava prática no jogo daquela armadilha. Ele foi me dizendo que também não tinha lá grandes habilidades, algumas vezes abria bem a rede e outras não. Perguntei se ele era pescador do Mucuripe, disse-me que morava no Fortim. Perguntei como eram as pescarias por lá e ele disse que não conhecia lugar mais agradável para frequentar. Era aquilo, tinha dia que era da pesca e dia que era do pescador. Quando não pegava nada, desfrutava do banho e do prazer de ficar à margem do Jaguaribe, curtinho a paisagem das águas, sentindo a brisa fazer murmúrios nos mangues. Não conhecia lugar melhor nem mais convidativo para se tomar uma caninha.

Gostei da descrição do militar-pescador que, pelo jeito de falar até parecia um poeta.

Falei que eu era meio aventureiro e estava com a ideia de fazer uma viagem fotografando paisagens e ouvindo relatos de pessoas. Conversamos um pouco mais e ele me disse que se chamava A. Carlos e me disse que eu procurasse pelo Fortim caso um dia eu passasse por lá.

E ali estava eu entrando na cidade dele, decidido a pernoitar e fazer fotos nas margens do rio no dia seguinte.

Na pousada onde aluguei uma vaga, a moça da recepção me informou que havia os catamarãs que faziam passeios pelo rio até a boca da barra.

Depois, dirigi-me à praça da igreja onde encontrei moradores conversando. Procurei saber de alguns deles se conheciam o A. Carlos que era um aposentado da Marinha. Todo mundo conhecia “o da reserva”. Era ele que quase todo dia ia pescar no rio e era quem mais se interessava por passear, conversar com turistas e contar suas aventuras de quando viveu pelo Rio de Janeiro e pelo mundo.

Era bem capaz de estar naquele momento na rampa do frigorífico - me informaram.

Obs:Tenho publicado somente no recanto das letras uma auto-biografia, meu primeiro livro, cujo nome é “Fascinado por chuvas”. Já este texto é parte do meu segundo volume, cujo título e subtítulo pode se lê acima.

Agamenon violeiro
Enviado por Agamenon violeiro em 15/03/2013
Reeditado em 08/04/2013
Código do texto: T4189764
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