Pássaros

Quinta-feira, 14 de março de 2013, aproximadamente 15hrs da tarde.

Marcelo foi parado na rua por um amigo não muito próximo. Chamava-se Ricardo. Este fez a pergunta fundamental para a sucessão de acontecimentos futuros, ou talvez a falta deles, em sua vida. “Qual é a graça disso tudo?”, perguntou Ricardo. “Isso tudo o quê?”, indagou Marcelo. “Da vida.” “Ué, e desde quando era para ser engraçado?”. Marcelo foi-se para casa e seguiu sua rotina normalmente até momentos antes de ir deitar-se para trabalhar no outro dia. A pergunta de Ricardo ficou em sua cabeça e foi dormir com ela. Pensou em tudo o que já havia vivido e como aproveitou estas coisas. Lembrou-se de sua infância e dos bons dias que perdeu por causa de pirraças e manias infantis adquiridas com o tempo. Voltou-se a adolescência e descobriu que, de lá, nada havia sido aproveitado. Lamentou todas as oportunidades perdidas. Olhou para o presente e deteve-se. Nada estava bom, tudo era tão óbvio que chegou a rir de sua própria mediocridade. Cresceu e formou-se para ser apenas mais um. Sua vida era uma droga. Chorou.

Chorou por horas. Chorou por que se lembrou das boas amizades perdidas, das que não teve também. Chorou por que no passado o medo o fez não aproveitar os momentos que talvez seriam os melhores de toda sua vida. Logo depois dormiu novamente por que tinha de acordar cedo no outro dia para poder trabalhar. Quando seu corpo já estava descansado ele descobriu que sua mente estava exausta. E não foi por pensar demais durante a noite, mas sim por que não pensou durante todos os anos anteriores. Na verdade pensou, mas foi tão pouco e tão pequeno que chegou a gritar consigo mesmo na frente do espelho do banheiro. Foi trabalhar e seguiu sua rotina. Não podia mudar as coisas, não sabia como. Agora pelo menos ele pensava, tinha a certeza de que nunca havia vivido e teria que, uma hora ou outra, dar um jeito nisso tudo. “Eu vou ser feliz”, dizia ele.

O tempo foi passando e com ele o seu ânimo também. Foram-se dias, semanas e meses. Mudaram-se as estações e os anos também, mas a vida de Marcelo continuava a mesma coisa. Sabia que estava fazendo tudo errado, mas tinha medo de largar tudo e arriscar em algo que não era bem certo. Sentia dor todos os dias. Uma dor tão grande que agora ele andava meio avoado, olhando o céu e ficando de boca aberta com a liberdade dos pássaros. Não via mais sentido na vida, não encontrou a tal da graça. Marcelo teve muitos amigos, mas os perdeu com o passar dos anos. Ele ficou monótono demais para eles. Enforcou-se na entrada de seu quarto em uma noite fria do mês de março. Todos ficaram chocados. Meia-hora depois haviam esquecido. Menos Ricardo que havia parado para pensar.

Walter Frank
Enviado por Walter Frank em 15/03/2013
Reeditado em 12/07/2018
Código do texto: T4189336
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.