Conto real
Um amigo achou impressionante este caso e resolveu contá-lo a um outro amigo em comum, que me despertou a vontade de registrá-lo, por ser belo e real.
Na época da ditadura, havia sempre o medo, a insegurança nas pessoas. Mesmo as que nada faziam de errado, vivam sobressaltadas com o que sabiam de companheiros que foram levados para interrogatórios e nunca mais voltaram. A história nos mostrou tantos fatos como estes e tantos outros sem explicação!
Era noite, quando um sindicalista bateu forte na casa do sr. Manoel (*) e a sua esposa a abriu, receosa. Viu o senhor chamá-lo para uma viagem urgente. Deveria acompanhá-lo, às pressas. Viu ele juntando algumas peças de roupas e a beijou, já de saída, sumindo na escuridão.
Desde aquele dia, não teve mais notícias dele. Procurou-o de todas as maneiras, junto aos amigos, no trabalho, nos hospitais e nada! O tempo passou rapidamente. Nenhuma notícia! Os filhos casaram-se, deram-lhe netos.
Após, mais ou menos trinta anos do ocorrido, conseguiu provar que estava viúva, que era preciso um atestado de óbito. De posse do documento, pode tentar "desconstruir" as cenas da volta de Manoel, que sempre vinham no seu pensamento.
Alguns anos depois, um dos seus filhos foi pescar em Magé - RJ. Era domingo, um dia ensolarado, fazia muito calor. A sede "apertou"...o jeito era bater à porta de algum casebre, mesmo distante dali, mas que acabasse com aquela sede que o estava quase matando. Andou um bom pedaço, até que avistou uma casinha isolada. Chegou até lá, bateu na porta e aguardou. A porta foi aberta e ele fez o pedido. Foi bem atendido. Sentou-se na varandinha junto àquele senhor.
A tarde estava bonita. Comentou a respeito, agradeceu pela água, mas algo o tocou. Então, perguntou ao bondoso anfitrião como se chamava e como vivia ali, desde quando etc.
Seus olhos lentamente se enchiam de lágrimas a cada resposta recebida. Via semelhanças com algumas fotos antigas que sua mãe o mostrava, com feições familiares. Aquele senhor não se lembrava muito, apenas que chegou ali ajudado por pessoas amigas, permaneceu ali trancado por muito tempo, não tinha noção quantos anos se passaram, mas não havia esquecido o seu nome: Manoel.
Recebeu um abraço forte. Seu filho lhe contou sobre o sofrimento da mãe, com seu sumiço, todo esse tempo, mas também sobre os seus filhos e netos, alegria que a sustentava...e que sua vida seria outra a contar daquele dia.
Agora, com a volta do sr. Manoel, só falta a anulação da certidão de óbito, é óbvio!
A felicidade voltou à casa do sr. Manoel.
Um resgate do tempo perdido, uma nova vida a ser vivida!
Só quem acredita, sabe que Ele mostra o caminho.
Na Verdade, ELE é o caminho!
(*) Manoel é pseudônimo, mas esta linda história é real.