Conto

"A lua cheia estava a pino quando Jessie abriu cuidadosamente a porta do quarto azul-bebê onde o mais novo membro da família dormia serenamente. A escuridão da noite atravessava as cortinas cor de creme, porém não lhe impedia a visão. Ainda parada na soleira da porta a garota tombou levemente a cabeça para poder melhor observar a criança deitada no berço cor de neve. Um sorriso malicioso surgiu em seu rosto. Ergueu-se novamente e voltou a andar calmamente e silenciosamente em direção ao garoto. Sendo extremamente cuidadosa para que não pisa-se em nenhum dos diversos brinquedo esparramados pelo tapete que cobria a madeira gélida que recobria o solo do comado. Tudo milimetricamente calculado para que nada desse errado. Quando notou-se próxima demais ao berço moveu-se dando um passo atrás e hesitando por alguns segundos. Segurou-se na borda do berço e novamente observara o garoto com seu olhar negro e vazio que lhe dava um ar misterioso, perigoso. A mente perturbada não calara por um só instante. Estava completamente fora de sua sanidade - se é que convinha achar que Jessie ainda pudesse ter momentos de sanidade. - Era como se algo gritasse, esbravejasse, mandasse-a executar tal ato. Pensara em inúmeras maneiras de como faria aquilo e já estava certa a dias, só lhe faltava tempo, pois coragem e frieza para assassinar uma pobre e inocente criança de apenas um ano e meio a mesma tinha em demasia. Inclinou-se sobre o corpo do garotinho que trazia um sorriso no rosto enquanto sonhava, sem hesitar suas mãos fecharam-se sobre o frágil pescocinho do mesmo e usava mais de sua força a cada segundo, Kyler ofegava, lutando contra a morte, mas fora em vão, Jessie quebrara o pescoço do garoto como se faz com um palito de picolé. O sorriso de malicioso recheado de satisfação foi lapidando naquele instante uma cena de terror e pessimismo.Em poucos instantes as cortinas cor de creme do quarto de Kyler tingiram-se por um respingo de sangue.Mas eis que um imprevisto acontece:em alguns segundos o sorriso malicioso de Jessie deu lugar a uma expressão assustada,inquietante.Soltou o pequeno corpo no berço.Virou-se diante o minúsculo ser que estava quase sem folego e chorou.Sim,Jessie chorou apavorada,um choro alto que ecoava sobre a paisagem descampada.Deplorou-se,chorou novamente.Seus pés estavam frios e seu corpo foi tomado por uma arrepio lento e caloroso.Arregalou os olhos e caiu lentamente sobre a parede almejando a morte.Com um olhar depressivo,viu um objeto estranho abaixo do berço e foi ao seu encontro.Era um álbum de fotografias.Os olhos de jessie acalmaram ao ver imagens de sua família.Fotos estampadas com um colorido e elas tinham um belo sorriso no rosto.Em uma das fotos ela estava ali:longas tranças,trajes joviais e delicados,algumas jóias,porem algo mais valioso:seu sorriso.Na mesma foto o céu estava azul,e o sol quase a impedia de abrir os olhos.Recordações antigas,já quase esquecida por sua memória.Jessie suspirou levemente e sua garganta foi tomada por um ar puro e fresco,como se o oxigênio da foto houvesse vindo até seu pulmão.Ao virar a página,uma foto de Kyler tirada provavelmente após seu nascimento.Emocionada,levantou-se como num pulo do chão e foi direto a ele.Estava vivo.Os olhos de Kyler brilhavam abertos como se suplicassem socorro.Ela o colocou em seus braços e cantou uma canção de ninar.Ele deu um pequeno suspiro fechando os olhos e ao mesmo tempo sua boca assemelhava um sorriso. Jessie chamou alguns médicos,que logo vieram as pressas.Um deles olhou para ela e sem temor algum constatou de que não estava vivo.Desesperada,ela foi tomada por uma energia amarga e uma expressão como de um doente hipocondríaco. Ao ver os médicos saindo com o corpo de Kyler, Jessie pegou algumas tintas que estavam sobre uma mesa(das quais ele usava para colorir papéis),jogou-as no chão.As tintas derramaram ,formando assim,os mais tristes traços possíveis."