Um Romance no Deserto : Cena 1

Já não chovia à muito tempo. A terra estava seca e rachada,meus pés tropeçavam a todo momento nas infinitas fendas no chão. Aquele sol enorme e vermelho parecia me castigar por tudo de errado que fiz durante toda a vida e, a julgar pela sua escaldancia,me castigava também por pecados futuros. Caminhei durante semanas,parando apenas a noite para dormir(se conseguisse)por algumas horas. Não havia nada naquela imensa porção de terra que se fazia perder no horizonte distorcido pela minha visão cansada e maltrateda pelo sol.

Havia uma única razão para eu enfrentar tamanha jornada,provido de uns poucos viveres,uma viola e um chapéu de cowboy. A razão que me fez atravessar um estado inteiro sem eira nem beira,contando apenas com a sorte tinha um belo sorriso e um nome difícil de esquecer...Madalena!

Avistei sua pequena casinha ao longe,ela ja estava a me esperar na porta. Sempre com aquele seu velho vestido surrado até os joelhos. As botas vermelhas empoeiradas que eu havia lhe dado de presente quando ganhei um dinheiro no poker. Na verdade,nunca fui bom no poker,mas se você é bom em trapaças,não precisa saber jogar. Quando os caras perceberam que foram tapeados eu já estava fugindo, o que fez eles virem no meu encalço, e é por isso que resolvi vir buscar Madalena e ir embora deste lugar sem vida e esperanças...para mim,pelo menos!

Não tivemos tempo nem de matar a saldade,peguei em sua mão pequena e suave e denovo parti,não sozinho como antes,agora a alegria sorria para mim de novo,assim como os olhos verdes de Madalena. Corremos por um tempo,não carregáva-mos malas e assim era mais fácil. A noite veio rápido,encontramos uma velha cabana abandonada e,sem parar para pensar,entramos. Dei minha viola num pedaço de pão,um esconderijo e uma água ardente,havia um velho homem que morava na casa,fizemos o acordo com ele para passar a noite ali e de manhã cedo,retomaria-mos a viajem em busca de nova vida ao lado de minha pequena.

Ela parecia não ter medo de nada. Quando olhava para mim,parecia ver a verdade,via o sentimento e a minha promessa de glória muito brevemente. Era só o que eu precisava.

Naquela manhã seguimos viagem. Tanto tempo andando debaixo do sol me fez ter delírios. Quando eu olhava para trás,via os homens que enganei no poker a galope bem atrás de mim. Comecei a andar com mais pressa,me escondendo sempre que possível entre as imensas rochas desformes do cenário morto ao meu redor. Depois de algum tempo, avistamos uma fazenda grande,quase uma vila, e ali decidimos parar. Havia uma pequena capela e o dono da fazenda nos hospedou por alguns dias. No domingo de manhã, o padre rezou uma prece muito antiga. Ficamos lá no fundo,quietos, apenas ouvindo e trocando olhares. Quando o padre terminou,falamos com ele,pedimos umildemente para que ele,um sérvo de Deus,nos unisse em matrimônio ali mesmo. Era nossa maior vontade naquele momento.