Never Mind the Bollocks - Dor e Prazer

Never Mind the Bollocks...esse era o nome do álbum que Jack acabara de por pra rodar. A noite fora delirante e extenuante. Estava exausto. Horas antes, ele e sua turminha de amigos - alguns achariam mais adequado chamá-la de gangue - botavam o terror na pequena Amningville, sul da Escócia. Dezesseis anos, imberbe, cabelos longos e cacheados, zigomas e queixo proeminentes, Jack era o líder do GHIA, uma espécie de seita, em que rebeldes sem causa da alta burguesia local se reuniam para a prática dos mais variados delitos. Jack “The Strong” Cannon, baseado preso ao canto da boca como um charuto, risca um palito e acende o pito contraventor. Traga-o com tanta violência que a brasa que emana do cilindro fumegante clareia o quarto como se fosse um lampião. Fumaça presa aos pulmões, rosto em agonia sufocante , veias saltando aos olhos, Jack vai, aos poucos, liberando o gás alucinógeno de que tanto precisava, ao som de “God Save The Queen”. A fumaça e o semblante agonizante vão se desfazendo, conforme ganham a primeira, altura e o segundo, serenidade. Num movimento quase que acrobático, Jack desfere um pontapé em uma das ventanas, cerrando-a. Não quer que seus pais, que repousam logo acima, sintam a olência incriminatória.

Enquanto se embriagava com THC, seu cérebro começava a rodar o filme de tudo o que acontecera naquela noite trágica ou, um tanto quanto, mágica. Deitado sem camisa, mão atrás da nuca, outra no baseado, Jack Cannon vai aos poucos digerindo o que acabara de ocorrer. Começa “Anarchy in the U.K.”. Cruza as pernas, calça jeans batida, coturnos velhos que vieram de um dos saques do bando. Era pra ser uma noite como qualquer outra na rotina dos “rapazes do GHIA”, como eram chamados em Amningville. Picharam alguns muros com frases punk-anarquistas, quebraram alguns bares e beberam muito uísque. Com tacos de beisebol e socos ingleses, surraram mendigos, homossexuais e prostitutas. E foi exatamente numa dessas surras que o destino pegou Jack de surpresa.

Dragomir Sinclair, um ex-militante terrorista, refugiado da Bósnia e Herzegovina após cometer o que era pra ser um atentado político. Ao invés de matar o ditador do país, acertara a filha do infeliz e teve que fugir. Ao chegar a Londres, fez algumas operações plásticas para modificar o seu visual mas logo debandara-se para a Escócia, ao perceber que a capital inglesa estava infestada de agentes no seu encalço. Chegara a Amningville havia dois anos e, depois de várias ocupações clandestinas, firmara-se como leão-de-chácara no mais famoso bordel da região, o Real Maiden. Era justamente atrás desse bordel que a trupe de Jack Cannon surrava duas prostitutas. Ao ouvir os gritos das meretrizes, Drago, como era chamado no Maiden, 357 sempre à cintura, correu para lá.

_Larguem esses tacos, seus doentes! E sumam daqui antes que eu estraçalhe seus miolos!-urrou o assassino bósnio com a automática na mão.

Os delinquentes burgueses eram valentões mas nunca estiveram sob a mira de uma arma. Imediatamente o grupo se desfez e todos correram para o matagal que circundava o empreendimento. Menos Rick Renny, o mais insano da gangue. Totalmente bêbado e alheio ao segurança armado, ele continuava chutando uma das putas. Jack não acreditava no que via e começou a gritar da cerca de arame, onde começava a pequena floresta:

_Vamos, Rick! Ele vai te queimar!

_Que nada! Esse idiota branquelo não tem coragem!-respondeu Rick “The Intrepid” Renny, sem saber quem estava provocando e desferindo mais um pontapé na meretriz.

Ouviu-se um estampido. A fumaça que saía do cano da Magnum do ex-agente denunciava o que acabara de acontecer. Renny tombou por cima da mulher ensanguentada em que batia. Sangue dela, sangue dele, uma mistura rubra maculava os dois corpos. Desesperada, a rameira livrou-se do corpo que pendia sobre ela e fugiu para o lupanar, enquanto Drago correu em direção a Rick. No instante em que se abaixou para ver o que tinha acontecido com o rapaz, um vulto apareceu por trás dele, em meio às sombras. Antes que Drago pudesse perceber, sua cabeça fora gravemente atingida. Ele desmoronou como um saco de batatas de 140 kgs. Jack Cannon, taco de beisebol às mãos, batia, rebatia, batia novamente, todas na cabeça do fiel escudeiro do Maiden.

_Morra! Morra!-gritava insanamente o líder do GHIA. E só parou quando viu o crânio do polaco rachar. Ele ainda não sabia mas acabava de dar cabo de um procurado internacional.

Ofegante, trêmulo, taco ensanguentado às mãos, Jack foi ver como estava o amigo. Rick, o intrépido, já não mais respirava. Uma lágrima vazia e tênue percorreu-lhe o rosto e atingiu-lhe a boca, fazendo-o sentir pela primeira vez o gosto salso da morte. Quando a polícia chegou e encontrou os corpos de Drago e Rick lado a lado, junto a dois tacos de beisebol.

A brasa tostando seus dedos e o som de "Problems" trouxeram Jack de volta.

_O que será de mim agora? O que o futuro me trará? - pensou ele, livrando-se do que restara do "beck". Um mar de insanidades invadia-lhe o pensamento, quando a faixa “Seventeen” o fez lembrar de seu aniversário, que faria dali a 10 dias. Como conviveria com aquilo? Sabia que não poderia se abater. Fizera a coisa certa.“No Feelings” só veio confirmar o que estava sentindo. Sua vida, a verdadeira, tinha acabado de começar! Afinal, a morte lhe fora apresentada duas vezes naquela noite. Uma miscelânia de dor e prazer infestara-lhe a alma.

_NEVER MIND THE BOLLOCKS! HERE´S THE GHIA!

**********************Continua*************************

Jack Cannon
Enviado por Jack Cannon em 20/02/2013
Reeditado em 06/10/2013
Código do texto: T4150545
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