Destroyed

Olhos pesados, uma vontade latente de vomitar, o aroma do café que tranqüiliza porém não muito: estou bêbado e bêbado de cansaço logo nas primeiras horas do dia, a cabeça pendendo no balcão de padaria que divido com velhos lendo jornais e boêmios entediados. "É preciso viver sozinho. É só então que a gente realmente chega perto de outra pessoa". Sei lá por que diabos essa frase fica se repetindo na minha cabeça como um mantra. Não consigo me lembrar de quem é. Repete, repete, repete, como um mantra. Pergunto-me como se construiu minha decadência: não encontro respostas. Meus olhos estão ficando cada vez mais miúdos, ardidos. Tudo isso por causa de um (des)amor mal-resolvido. Sequer sei dar nome ao que me faz sofrer. Deve ser frescura. Pois me apaixono por cada uma que passa me ignorando pelo corredor. Aquela de cabelo cacheado ali, de olhos verdes. A ruivinha sardenta, magrinha, da bundinha empinada. A mulata atriz. Já a vi peladinha numa peça cujo nome não faço ideia. Não consigo te esquecer. Não consigo te esquecer. Não consigo conceber a idéia de te deletar da minha cabeça, da minha boca, do meu septo, da minha vida. Que nojo de mim, piegas desse jeito. Não aguento mais beber café. Meu bolso não aguenta mais pagar três merréis numa porcaria de xícarazinha de um café que parece ter sido extraído de um lodaçal. Tô que não me aguento. Ancorado nesse lugar, esperando você chegar, com uma carta se esfarelando de tanto ser dobrada e desdobrada entre os dedos. Espera vã, idiota; outra manhã desperdiçada. Porque sei que haverá aquela retração de sempre quando meus olhos buscarem os seus e encontrarem um vácuo inescrutável ou uma parede dura e fria. Mandalas más, as tuas. Estou um fiasco. Mas vou te esperar. O missivista piegas vai te esperar. Porque você precisa saber. Porque você precisa sab...

(?)

20/02/2013 - 00h23m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 20/02/2013
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