A Reticência do Que Sinto Vai Até Marte e Volta

Como é que se se apaixona?

Meu cotovelo dói na mesa.

Meu punho cerrado na têmpora direita faz com que a pele do rosto suba e crie vincos, vincos que ressaltam minhas cicatrizes.

Devo ter um olhar apalermado. Estando tão perto, estou longe daqui.

Como é que se engendra o verme da paixão dentro de nosso organismo?

Sigo tamborilando com a mão esquerda uma canção cafona cujo nome não me lembro.

Esses lábios movendo-se sem parar à minha frente, encovando mais a bochecha. Mais.

Não ouço a celeuma que me circunda e domina o lugar. O bar. Vincos no cotovelo.

Só sei que quero essa boca na minha.

Quero contar cada risco que nela tem.

Quero correr cada risco que ela dispõe.

Quero sentir a corrosão da estima cada vez que ela proferir acefalismos.

Quero sentir aquele inefável enlevo que assalta os que amam quando ela proferir disparates pueris.

Fazendo bico. Quero tudo.

Lembrei o nome da canção que tamborilo. É Fade Into You.

Essa incógnita do que eu teria a te oferecer pairando feito fumaça de cigarro sobre minha cabeça; formou-se um ponto de interrogação.

Formou-se um ponto de interrogação.

Formou-se um ponto de interrogação.

Formou-se um ponto de interrogação no seu cabelo.

Queria estender as mãos e esticá-lo, torná-lo ponto de exclamação.

Sim. Sim. "Sim", ele diria.

A reticência do que sinto vai até Marte e volta.

17/02/2013

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 17/02/2013
Reeditado em 17/02/2013
Código do texto: T4145439
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