A Árvore de Natal.

Uma casa pobre, muito simples, cheia de esperança. Uma família que parecia satisfeita com a pobreza. Oito filhos compondo quatro pares de cristãos praticantes.

Agatângelo, o mais novo e sonhador de todos, acordou-se cedinho, cuidou em cortar um galho seco de um pequeno arbusto que morava no fundo do quintal. Enrolou seus galhos menores e os cobriu com papel prateado, colocou algodão sobre eles e pronto; estava confeccionada a sua árvore de Natal. Enfiou-a numa caqueira e a colocou na sala de estar.

O dia vinte e quatro foi longo. Quando a noite caiu, foi contemplar sua árvore que parecia ter vida. De cócoras, pôs-se a admirá-la contente. Seu Natal tinha razão de existir.

_Meu filho levante-se daí. Deixe de ser tão tolo! Ficar admirando esse galho seco de mato? Por quê? Vou por a nossa comida.

_Peru, mãe?

_Ah!..., quem nos dera tê-lo à mesa...

_É caro, não é?

_Muito caro!

A família reunida provou e comeu da sopa rala e dos pães. Ninguém reclamou de nada. João, o mais velho deles, saiu de casa em busca das aventuras da noite. Elza, a segunda, foi visitada pelo namorado. Os outros foram dormir cedo e sós. Agatângelo permaneceu acordado até altas horas da noite, diante da pequenina árvore que havia feito.

Passava das onze e meia da noite. O sino da igrejinha da cidade chamava os fiéis para a missa do galo. Dona Hilda levantou-se da cama e foi até a rede amarela onde o seu caçula costumava dormir. Não o encontrando, pôs-se a procurá-lo. Foi-lhe fácil achá-lo. A casa era pequenina, três cômodos apenas. Estava diante de sua árvore, pensativo e esperançoso.

_Meu filho..., ainda aí?

_Vou dormir aqui, mãe.

_Não!

_Eu quero ver Papai Noel.

_Ele não existe, meu filho. Isso é uma lenda antiga. Ninguém nunca o vê. É uma fantasia.

_Mãe, eu já o vi. Foi no Natal passado.

_Está mentindo, filho?

_Não. Eu vi!

_Isso é sono. Vá dormir.

_A senhora prestou atenção que eu não tenho mais asma?

_É verdade..., e daí?

_Foi Papai Noel quem me curou.

_Papai Noel? Deixe de falar besteira, meu filho. Vamos dormir.

Ela se foi e o garoto conseguiu driblar a ordem e permaneceu lá, até quase uma da madrugada. À meia noite quando o sino da matriz assustava as andorinhas do seu teto, ele chegou à frente do garoto.

_Valeu ter-me esperado, Agatângelo. Promessa é debito, por isso eu vim vê-lo outra vez.

_Obrigado, Papai Noel. Estou muito feliz.

_O que vai me pedir hoje de presente?

_Nada. Eu estou de barriga cheia, não tenho mais asma e já o vi. Não quero mais nada.

_E seus brinquedos, onde estão?

_Na árvore.

_Sua roupa nova?

_Na árvore.

_E algum dinheiro?

_Na árvore.

_Mas Agatângelo, e você contenta-se com tão pouco?

_Mas, senhor, é muito. As outras crianças não o têm.

_Você tem certeza que não quer me pedir nada?

_Tenho!

_Eu não posso acreditar no que estou ouvindo de você, tão pequenino...

_Papai Noel, a única coisa que eu gostaria de pedir-lhe, jamais o faria.

_E o que seria, filho?

_Gostaria muito de ir-me com o senhor, de trenó, para lá onde moram os anjinhos.

_Quer que eu o leve?

_Não..., senão não poderia sonhar mais com esta árvore.

_Mas lá há outras melhores.

_Não há, Papai Noel. Essa lhe trouxe até mim. É-me muito especial.

_As de lá são mais especiais ainda.

_Será? Meus sonhos aqui acabam enquanto eu durmo. Lá, tenho que viver um sonho sem nunca poder acordar-me. Minha mãe, meus irmãos, minhas dificuldades, tudo isso está dependurado na árvore que fiz. Vivo-a em todo o Natal. Espero o senhor todos os anos. E lá, a árvore dos meus sonhos de esperança não terá o valor da bela metáfora que resolvi pôr neste pequenino galho seco de um arbusto inominado. Ah! Papai Noel..., a infância é como um bom sono, sempre dependerá da força dos sonhos que vivermos dentro deles. Feliz Natal e volte sempre a me ver. Não pus meus sapatinhos na janela porque não os tenho hoje: quem sabe se não os porei no ano que vem?