DEJÀ-VU

Naquele frio chão de Julho, ele tremia, agonizava. Sabia que seu fim seria o fim. Ferido, seu olhar fixo transparecia a angústia de uma breve vida. O ar já não lhe tomava os pulmões e mal podia balbuciar palavras. Para ele, no entanto, parecia uma morte perfeita. Ao lado da amada, pôde lhe dizer, ainda que em um último suspiro:

-- Eu te amo.

E lá ficaram abraçados, até um distante amanhecer. Com o nascer do sol que o casal não veria mais, quem ali passava não poderia deixar de reparar a inconformável cena: ela, que havia adormecido no peito do noivo pela última vez segurava o pálido braço do amado, e não parecia esconder a consciência que o predestinado futuro não existira mais, que sua vida via-se diante de uma mudança.

Acorda, então, com o arranho das sirenes. O mundo não tinha mais cor, as árvores não davam mais frutos, os pássaros pareciam se negar a cantar. Não era mais preciso viver. Subiu, então, no lugar mais alto que pode encontrar, largou seu corpo. Na busca de encontrar seu amado, algo lhe segurava. Um sentimento doentio, capaz de superar qualquer dor. A parte de bondade que lhe restava morrera junto do seu noivo, e agora era hábil de matar e morrer, sangrar e sofrer, até que a vingança (de mãos dadas com a cega justiça) a preenchesse de satisfação.