A CORTEZÃ VIRGEM Cap-XXII

A CORTEZÃ VIRGEM Cap. XXII

Jaade perguntou a Magda, se ele tinha conseguido a entrevista com a Dona Ana. Ela disse que não teve coragem de falar, mesmo por que ela estava muito irritada, por que estava esperando a visita do seu médico, que vinha examiná-la uma vez por mês, e saber do Dr. Roberto, o seu estado de saúde, logo que ele acompanhava de perto o seu tratamento.

- Quem é este médico, Magda? - Não sei. Apenas sei que ele vem da capital, uma vez por mês!

- Mas este médico que vem de fora; é de São Paulo, do Rio, ou de outro estado?

- Não sei Jaade, a senhora faz questão que ninguém saiba!

- Está bem, se for o que desconfio que seja logo este mistério vai ser revelado!

- Eu não posso imaginar por que você está interessada nesta senhora!

- Sabe Magda, foi até bom que você não tenha falado com ela, sobre este meu interesse em vê-la!

- Você não quer entrevistá-la mais?

- Não. Não pelo seu intermédio. Prefiro até que você não demonstre que me conhece, se por acaso me encontrar lá!

- Você é mesmo misteriosa. Eu não consigo entendê-la!

- Olha aqui, Magda, depois nós voltaremos a conversar.

- Está bem...Mas eu queria lhe fazer uma pergunta; responda se quiser!

- Faça. Prometo, se eu souber, mesmo que...

- Eu disse que você responderá se quiser, está bem?

Você teve alguma participação naquela cilada que fizeram para Jessika?

- Não, Jaade, eu nem sei, que cilada é esta que você está falando.

- Está bem, eu acredito, e depois mais tarde, eu vou lhe dizer por que acredito!

- Eta menina que sabe complicar a cabeça da gente!

- Não faça caso do que falo. Ás vezes eu complico mesmo, mas depois você saberá por que!

Sabe Magda, eu quero sua amizade agora muito mais de que imagina. Eu posso contar com ela?

- Posso responder com outra pergunta? Você vai confiar em mim depois de tudo?

- Com certeza! - Obrigada. Você não imagina como vou precisar de você, da sua confiança!

Naquele dia Jaade jantou com a família de Jessika. O senhor Juventino ficou muito contente em tê-la como convidada para um jantar tão simples, e ela que parecia uma pessoa tão fina!

Ele gostou dela desde o início, mesmo antes dela propor-lhe ajuda!

Naquela noite, depois do jantar, que não foi muito tarde, ao sair dali, Jaade e Jonathas foram á casa da senhora misteriosa!

Jonathas pediu que o anunciasse á senhora Ana. O que ela o recebeu com muita satisfação!

- Boa noite padre, que bom o senhor vir me fazer esta visita, Estava mesmo precisando conversar com alguém!

- Quem é a mocinha?

- Desculpe-me tê-la trazido. Ela é minha hóspede, e não quis deixá-la sozinha, logo que não conhece ninguém na cidade!

- Não se preocupe padre, se é sua amiga, deve ser gente boa.

- Venha até aqui, menina, vejo que não é da região!

- Não senhora; sou de Salvador!

- Salvador?!

Quando Jaade se aproximou da senhora, ela estremeceu, por que lhe pareceu conhecida. Então Jaade se adiantou, e desviou o assunto, não a deixando falar!

- A senhora conhece Salvador?

- Conheço, é uma bela cidade!

- Realmente! É muito linda!

Jonathas falou o motivo da sua visita. Queria agradecer os donativos. Se não o fez ainda foi por falta de oportunidade, e receio.

- Receio padre, pôr que?

- Eu sei que a senhora não gosta muito de visitas! Desculpe-me, é o que soube o que pode não ser verdade!

- Venha sempre que quiser padre. As portas estarão sempre abertas para o senhor, e creia que será uma honra!

- Então a senhora perguntou Jaade:

- Você está hospedada na casa do padre Jonathas?

- Estou hospedada na pensão da família dele!

Eu tive uma idéia, disse a senhora: - “Por que você não fica aqui comigo? Ficar numa pensão quando aqui tenho tanta acomodação, e com tão pouca gente para conversar! E depois estou com saudades de Salvador. Gostaria que você me contasse com vai aquela querida cidade!”

- A senhora gosta de Salvador?

- Muito! Vivi muitos anos lá!

- Não diga, disse Jonathas, desconfiado das duas!

- Então, não gostaria de ficar aqui comigo, Jaade?

- Claro, se a senhora quiser!

- Eu quero. Vou providenciar que mandem sua bagagem para cá. Você já pode ficar aqui se quiser!

- Está bem, mas tenho umas coisas a fazer aqui na cidade. Umas reportagens!

- Reportagem? Você é repórter?

- Mais ou menos. Não sou formada mais gosto de documentar os acontecimentos e novidades dos lugares que passo!

- Jaade, eu providencio que mande sua bagagem, disse o padre.

- Obrigada padre Jonathas. Obrigada por tudo; depois eu passo por lá, para continuarmos aquele assunto!

- Está bem, até amanhã!

- Até amanhã; não esqueça a resposta daquela ligação. Por favor, me avise é muito importante!

- Quando o padre saiu, as duas se abraçaram, e quase chorando. Joice disse: Era a última pessoa que eu esperava que viesse aqui.

Você sabia de alguma coisa?

Não. Mas eu sempre tive um palpite que você não tinha morrido, e quando Magda me disse que trabalhava para uma senhora desconhecida; da cidade, não sei por que você veio no meu pensamento!

Jaade se soltou bruscamente daquele abraço, e disse: - “Como você teve coragem de fazer isso com Jessika, coitada! Você não sabe, nem pode imaginar o sofrimento dela? Tentou até o suicídio naquele lago!”

- Eu sei que ela sofreu muito com a minha suposta morte, mas eu a deixei bem de vida, como a minha herdeira universal!

- E você pensa que isso é tudo!

- Não Jaade, eu sei que não é, mas pelo menos é alguma coisa, e eu não tinha outro recurso! Posso imaginar mesmo o seu sofrimento!

- Como tem sido difícil para ela continuar com aquela casa! E ela continuou fazendo a casa funcionar só por que você pediu que continuasse. E o que ela não faria por você. Seu pedido era uma ordem!

- Eu imagino! Como está ela? Continua bonita como antes?

- Mais velha! E sem objetivo nenhum de vida. Muito triste!

- Triste?! Pôr que?

- Por que ela não é igual a nós. E nunca será! Você pode imaginar uma moça virgem tocar aquela casa?

- Eu sei que é muito difícil mesmo!

- Sabe, Joice, você recebeu esta notícia que Jessika ainda é virgem com muita naturalidade! Você sabia?

- Sabia!

- Sabia? E como você sabia depois de quase três anos?

- Bem, não precisa me dizer, “Rogerio”! Eu sempre desconfiei!...

- Por favor, Jaade, não o condene, foi um pedido meu. E eu assumi toda responsabilidade!

- Agora você vai me contar tudo o que aconteceu com você! A sua morte, este enterro aqui, a trasladação do corpo, o velório; tudo!

- O Dr. Rogerio é um dos diretores da fundação, e não foi difícil conseguir um cadáver de um indigente para por no meu cachão.

- Ela foi enterrada com o seu nome!

- Não. Se você se lembrar, eu fui cremada.

- Ou melhor, a pessoa foi cremada, o que era o meu desejo. Para não deixar pista!

- Por que você fez isso, Joice?

- Meu bem; olha para mim. Eu tenho apenas trinta e dois anos! Qual é a minha aparência, é de menos de 50 ou de 60 anos? E depois daqui para frente, o meu penar vai ser muito grande...

- Eu não tenho mais esperança de cura. Não há cura! Eu estou consciente disso!

Sabe Jaade, foi muito bom vê-la. Pode falar sobre Jessika, sobre você, sobre tudo. Eu não tinha ninguém para partilhar este meu tormento, a não ser Rogerio com quem me comunico de vez em quando. Não é sempre possível ele se ausentar para vir aqui me ver, e eu tenho que me contentar com isso. Creia minha querida, é muito triste!

- Eu imagino Joice! E por que logo aqui? Você sabe o que estou fazendo aqui?

- Não. Apenas desconfio. É com respeito á família dela, não é?

- É verdade. Eu vim sem que Jessika soubesse, ela não me permitiria fazê-lo. Tinha medo de uma decepção. Então eu disse que ia visitar minha família, e vim ver como está passando a família dela. E por sinal, está muito mal!

- O pai dela está muito doente, e sem recurso para se tratar. Então eu o convenci levá-lo para uns exames numa clínica em Salvador!...Fundação “Joice!”, você a conhece?

- Eu sei que Jessika realizou o seu grande sonho. Esta menina é fabulosa!

- É. Realmente ela é muito mais do que isso!

- Você os convenceu levá-los! Que bom!

- E você sabe quem vem buscá-lo de ambulância? Nada menos de que Rogerio!

- E Jessika sabe disso?

- Não. Ainda não. Estou como lhe disse, fazendo esta loucura sem consultar com ninguém, apenas eu disse ao Rogerio o que ia fazer!

- E ele concordou?

- Eu não dei tempo dele protestar. Pedi que viesse com urgência, que se tratava de uma pessoa que precisava da fundação! Eu assumi a responsabilidade totalmente!

- Você fez muito bem, conte com o meu apoio, desde que Jessika não saiba do meu paradeiro.

Você vai me prometer isso, não vai Jaade?

- Não sei se conseguirei Joice. Jessika ainda sofre! Ela sofreu muito, e continua sofrendo. Ela a amava muito! Meu Deus, Joice como ela sofreu! Até hoje fala em você com muita saudade... Quando ela vai fazer uma coisa ela diz: Será que ela fazia isso assim? Será que ela gostaria que eu fizesse isso?

Você não pode imaginar por que estou hesitando não contá-la. Mas por outro lado eu não quero que ela volte sofrer tudo novamente.

- Então Jaade, por que fazê-la sofrer? Os meus dias estão contados, e desta vez é de verdade. A minha fortuna em boas mãos. Você ajudando-a, protegendo-a! Por favor, não a abandone, tenha paciência com ela.

- Jaade, não conte a ela!

Elas se abraçaram e choraram copiosamente! Quando ouviram passos, que parou perto delas, e com os olhos arregalados, sem entender nada, estava Magda!

Olá, Magda, disse Jaade: “Eu lhe disse até antecipadamente, que ia precisar da sua amizade, e poder confiar em você!”

- Mas eu não estou entendendo. Vocês se conhecem?

- Sim, Magda, nós nos conhecemos, e é por isso que queremos sua discrição, seu silêncio. E muito mais de que isso Magda, preciso que você cuide muito bem de Joice! Que não seja apenas pelo ordenado, o que vamos dobrá-lo, para que com isso você possa melhorar a vida dos seus pais e da sua família em geral.

- Você talvez não tenha pensado por que eu lhe dou um bom ordenado, e não dava mais para não despertar suspeitas. E eu ia aumentar novamente o seu ordenado, sem que você percebesse, disse Joice. Bem sei que não é fácil cuidar de uma pessoa doente. Precisa ter muita paciência. E isso nunca lhe faltou!

- Dona Ana, não precisa aumentar o meu ordenado. A senhora já me paga muito bem, para o que faço, e depois; agora eu trabalharia para a senhora até de graça, embora a senhora saiba que eu preciso. Mas creia que não será pêlo ordenado somente. Eu já havia aprendido gostar da senhora, mesmo antes de saber quem a senhora é!

- Venha aqui minha filha, eu sei que ás vezes eu sou um pouco ranzinza, mas você deve compreender que é a minha enfermidade, a dor, a solidão. Tanta coisa que me faz sofrer!

- Esqueça Dona Joana, e conte comigo, como uma filha, como á senhora me chamou agora!

- Obrigada querida!

- Obrigada, disse Jaade também!

- Eu tive uma idéia; por que você não vem morar aqui com Joice, Magda? É uma pessoa a menos na sua casa. E você poderá ajudar melhor; seus pais. Estando aqui, não precisa dizer-lhe quanto ganha. Nós vamos abrir uma conta no banco para você ajudar seus familiares!

- Mas por que vocês querem fazer isso?

Olha, Magda, nós temos uma fundação em Salvador, e escolhemos sempre uma família para dar apoio, e escolhemos a sua. Só que não queremos que seja divulgado. Você entende?

Perguntou Joice.

A partir deste momento vai tomar parte desta fundação. Você será também um membro dela, aceita?

- Se a senhora acha que posso, pode contar comigo até a morte se necessário!

- Ótimo! Então; parabéns; para mais um membro da fundação!

- Então a partir de agora você será a minha secretária particular. Aliás, eu estava precisando de uma!

Já me cansa, este negócio de contas; pagamentos; compras, e funcionários!

- Obriga Dona Ana!

- Joice a abraçou e disse: - “Obrigada eu, querida!”

A campainha tocou e Magda foi atender.

É para você Jaade. É o padre Jonathas, quer falar com você.

- Mande-o entrar, disse Joice.

Quando ele entrou quis falar em particular com Jaade; então ela disse: - Pode falar padre, agora somos todos cúmplices, diga-se de passagem!

- Olha Jaade, está tudo arranjado. Amanhã, o Dr. Rogerio estará aqui com a ambulância para levar o senhor Juventino.

- Ótimo! Vamos então preparar o paciente!

- Mas vai ser tão depressa! Você vai me deixar, queixou Joice.

- Agora eu vou ter motivo para me ausentar de Salvador. Eu gostei da cidade, e deixo amigos aqui. Então venho visitar quando sentir saudades! Como também eu fiz as pazes com a minha família!

- Obrigada Jaade, mas favor, não se esqueça; ela não pode sofrer mais por mim!

Magda ouviu aquela conversa e não entendeu nada, mas desconfiou. Fez de conta que não entendeu nada mesmo.

A CORTEZÃ VIRGEM Cap. XXIII

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 10/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4132860
Classificação de conteúdo: seguro
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