A CORTEÃ VIRGEM Cap. XXI

A CORTEZÃ VIRGEM – Cap.XXI

- Com queira, Magda, mas agora vamos naquele barzinho, estou sufocada!

- Vamos então!

As duas moças saíram. Cada uma parecia esperar que a outra iniciasse a conversa!

- Diga-me Magda, você trabalha? O que me parece á cidade é muito pobre, e não tem espaço principalmente para mulher!

- Realmente, aqui é uma calamidade, não há trabalho nem para os homens. E as mulheres não podem disputar com eles os trabalhos que existem aqui!

- Mas você disse que trabalha!

- Eu trabalho sim! Eu faço companhia para uma senhora muito doente, e não tem ninguém da família por aqui!

- E onde está sua família?

- Não sei! O que sei é que á mais ou menos dois anos, ela veio morar aqui. Comprou uma casa muito grande, e mora sozinha. Então eu lhe faço companhia, e os cuidados mais íntimos. Ela me paga muito bem!

- Ela nunca recebe visita da família?

- Não, nunca! Nem sei se ela as tem! Apenas um médico vem vê-la.

- Vem de onde?

- Não sei! Parece de São Paulo, ou do Rio. Nunca me interessou perguntar-lhe!

- Como é o seu nome?

- Joana Mascarenhas!

- Joana! É um nome simples! Eu gostaria de conhecê-la!

- Eu acho que seria impossível. Ela não recebe visitas, nem de conhecidos!

Bem, ela não tem nenhum conhecido aqui, a não ser o Dr. Roberto, que é o seu médico particular, á atende na sua residência.

Ela é muito estranha, mas é uma ótima pessoa. Eu gosto muito dela, e é por isso que não quero que você a visite, principalmente com a minha ajuda!

Você entende, eu preciso muito deste emprego, não posso arriscar!

- Não, Magda, não se preocupe, é que sou muito curiosa, depois me pareceu estranho uma pessoa vir morar numa cidade, sem nenhum parente, sem amigos! Isso me fascina. Eu sou jornalista, apesar de não exercer. Estas coisas sempre impressionam os leitores!

- Por favor, Jaade, não comente com ninguém, esta sua estranha vida. Mesmo por que isso não foi notado pelo povo daqui. Eles não se interessam muito por coisas assim. Então ela não é importunada por ninguém. Todos a respeita, e não a perturba!

Ela leva uma vida ignorada pela população! É muito caridosa. Dar bons donativos para a igreja, e para as casas de caridade da cidade!

-Ah! Então ela dá donativos para a igreja? Então o padre Jonathas a conhece!

- Não sei se ele a conhece bem. Ninguém a conhece bem!

- O padre Jonathas é novo na paróquia, como padre, é claro, e ainda não se ordenou. Será este ano. Vai ter uma grande festa.

- Ele é filho daqui mesmo da cidade! Quando ele foi para o seminário...

- Quando ele foi para o seminário...

- O que aconteceu, Magda? - Quando eles se gostavam, ele e Jessika!

- Um! Então a Jessika, sua irmã, era namorada do Jonathas que hoje é padre!

- Ainda não é, só no fim do ano. Mas é considerado como. Ele toma conta da paróquia, e faz o que um seminarista pode fazer!

- E onde está sua irmã Jessika?

- Está em Salvador!

- Ah! É verdade, eu já ouvi qualquer coisa a este respeito!

- E eu não gostaria de falar sobre este assunto!

- Não quer falar sobre sua irmã, ela é má?

- Não má. Mas se desviou do caminho da virtude, e nos deixou. Papai sofre muito por isso!

- E você o que pensa sobre ela? O seu pai tem razão?

- Claro que tem. Ela saiu daqui dizendo que ia ganhar a vida na prostituição. Seria rica e famosa, mesmo que para isso tivesse que vender seu próprio corpo e sua alma!

- É uma moça de coragem, você não acha?

Por que nem sempre quando dizemos o que vamos fazer uma coisa, principalmente tendo princípios morais e religiosos que somos obrigados a fazer, não é mesmo?

- Bem, isso é verdade. Mas Jessika hoje é muito rica.

- E você acha que foi prostituindo que ela ficou rica em tão pouco tempo? A maioria das mulheres; passam a vida toda na prostituição, morrem e não fazem seu pé de meia. E muitas vezes na miséria, pela doença, os maus tratos e humilhações. Terminam ás vezes pior do que começaram por que a velhice chega e as oportunidades vão embora. Então elas se acabam muito sedo!

- É, deve ser isso mesmo! Pobre Jessika!

- Não querida; não lamente a vida dela!

- Até parece que você a conhece bem!

- Não, não a conheço, mas como você disse que está rica, e em tão pouco tempo de prostituição!

- Mas não é sobre sua irmã que vamos conversar; isso se você quiser!

Eu nem a conheço. Mas lhe prometo; quando chegar a Salvador vou procurá-la!

- Você acha conveniente?

- E por que não?

- Então Jaade, o que você quer de mim?

- Não muito. Eu sou uma jornalista, mas não estou aqui a trabalho, mas é sempre bom conhecer alguma coisa da cidade que a visitamos! E eu me apaixonei pela vida da sua família aqui, e como o padre Jonathas, não pode me ajudar muito, então pensei que você seria a pessoa indicada para me ajudar, mesmo porque, escolhi a sua família!

- E por que este interesse pela minha família?

- Por que o meu faro jornalístico me indicou esta direção. Primeiro o caso da Jessika!

- Então você a conhece?

- Não exatamente! Mas me interessou muito a sua história, e quando você se opôs nós vermos o seu pai hoje, pensando que se tratava de algo a respeito da sua irmã, então pensei: “Por que este medo? Por que esta menina tem interesse que nós não falemos com seus pais? Existe alguma coisa errada em tudo isso, e o meu tino jornalístico não errou, não foi?”

Por que você não me conta a história de Jessika? Parece que dar uma boa história; e eu gosto de boas histórias. Claro que não vou divulgar nome de família!

- Está bem, vou lhe contar toda história.

Magda contou tudo o que sabia a respeito de Jessika, mas da maneira que realmente ela sabia que tinha conhecimento, o que estava muito longe da verdade!

Jaade ouviu com muito cuidado, sem interrompê-la. Depois disse: “Minha cara, em primeiro lugar eu quero lhe pedir desculpas quando fui tão ríspida com você na sua casa. E sabe pôr que? Porque nós duas estávamos erradas!”

Nós duas erradas, não entendi, disse Magda.

Você vai entender. Eu por que pensei que você estava sendo injusta com sua irmã, e queria prejudicá-la propositadamente!

Eu? Prejudicá-la? Isso nunca, se ela não tivesse feito o que fez!

E aí está o segundo erro nosso. Agora, este é seu!

Meu erro? E como você pode assegurar que estou errada?

Por que não foi nada disso que aconteceu com Jessika. Ela é inocente, e eu posso provar isso!

Como, se você não mora aqui, não conhece a nossa família. Não sabem o que aconteceu aqui á uns três anos atrás.

- Realmente! Mas conheço a história toda. A verdadeira história!

- Ah! Agora estou entendendo. Você é amiga dela. Talvez uma delas!

- Cuidado com o que fala, apenas ouça, como eu a ouvi! Toda a história que aconteceu com Jessika, foi uma cilada. Isto foi bem urdida por duas pessoas. Estes dois nomes que lhe falei, e que você; não sei por que ficou tão perturbada, quando eu o mencionei!

- Bem, por que isso não tem nada a ver com Jessika!

- Isso o que Magda?

- Estas pessoas. Principalmente uma delas!

- Qual dos dois nomes?

- Joice!

- Ah! Então você a conhece? E por que pensa que ela não tem nada a ver com sua irmã?

- Por que... Olha Jaade, eu não posso falar sobre este assunto. Mesmo por que não tem nada a ver com o problema de Jessika, repito!

- Por que não falar sobre este assunto? Quem sabe um não elucida o outro?

- Não, prefiro não falar nisso!

- Por que não? Por que Joice não ia gostar, não é verdade?

- É isso mesmo. Ela não me perdoaria, por que eu sou a única pessoa que sabe realmente o seu nome, e eu não quero que ela perca a confiança em mim!

- Então você conhece Joice?

- Não, só de nome!

Jaade abraçou a Magda e rodopiou com ela fazendo uma verdadeira festa, o que Magda não entendeu nada!

- O que aconteceu, por que esta alegria?

Você ficará sabendo. Por favor, Magda; arranje uma entrevista com esta senhora.

A muito que venho farejando o seu rastro. Eu sabia. Eu sabia que á encontrava um dia!

- Desculpe-me Jaade, mas eu não posso fazer isso. Como lhe disse, eu não quero perder a confiança dela, e nem perder o meu emprego!

- Está bem, eu já sei como chegar até ela.

- Como, Jaade?

- Através do padre Jonathas! Ela não faz donativo para a igreja?

- Não custa ir pessoalmente agradecer, e fazer uma visitinha, e como sou sua hóspede, podemos dizer assim. Ela me levou para conhecer uma colaboradora das obras da igreja!

Não deixa de ser um meio muito lícito, mas válido, disse Magda admirando da perspicácia de Jaade!

- Muito bem, Magda, agora outro assunto que está aqui atravessado na minha garganta me incomodando, é o que ouvi na sua casa. Sua mãe não tem recurso para mandar seu pai se tratar na capital.

Eu tenho um recurso adquirido pêlos meus serviços prestados a comunidade social de onde moro, e sei que poderia internar seu pai para fazer todos os exames necessários; numa clínica muito boa! Pelo menos uma das melhores de Salvador.

Só preciso que você me ajude a convencê-lo. Eu sei que seu pai gostou muito de mim. E poderá confiar também. Disse que eu poderia voltar visitá-lo quando quisesse!

Eu acho que eu; você, o Jonathas; e uma ajuda de sua mãe; o convenceremos ir.- Meu Deus, Jaade, isso seria muito bom. Mas teríamos que enfrentar muitas despesas; e isso é impossível. Meu pai ganha pouco de aposentadoria, e a sua doença acaba com o pouco que ganha!

- Mas eu consigo isso com os meus amigos. Ele não vai gastar nada. Esta fundação é beneficente, e eu controlo tudo.

Sabe? Eu posso até mandar vir um médico da fundação examiná-lo, e encaminhá-lo diretamente para a clínica!

- Você conseguiria isso Jaade?

- Claro; Magda! Poderemos conversar com seu pai; se ele concordar, amanhã mesmo pedirei que o médico venha vê-lo. Ele providenciará tudo. Vamos falar com o padre Jonathas. Ele poderá ajudar o senhor Juventino a se decidir.

Jaade cheia de esperança de fazer isso pelo pai da Jessika foi falar com o padre, e este sem entender ainda qual era o plano da Jaade, disse: - Eu concordo. Será muito bom para ele.

- Mas ele ficar sozinho, disse Magda. Ele não vai!

- Nós poderemos levar dona Lucrecia para ficar com ele. Ela poderá ficar na própria fundação. E quando terminar os exames poderá ficar fazendo o tratamento!

E aproveitamos para que Dona Lucrecia faça alguns exames de rotina.

- Mas isso vai ser um grande incômodo para vocês, disse o senhor Juventino, quando lhe expuseram a idéia da Jaade.

- Nada de incômodo, senhor, esta é a nossa missão... A fundação e beneficente, pode bancar isso. E eu sempre me dediquei a ela, e nunca a usei.

Eles me devem isso. E depois a sua fundadora maior ganhou uma grande fortuna!

- É? Perguntou o senhor Juventino. E o que ela ganhou?

- Encontrou uma pessoa querida, que lhe é muito cara!

- E quem é ela?

- A diretora, ou melhor: a fundadora da fundação!

- Então senhor, aceita? Perguntou Jaade cheia de esperança!

- Não sei minha filha. Deixa discutir o assunto com a família. Mais tarde eu dou a resposta. Embora seja a melhor coisa que poderá acontecer. Por que, realmente eu estou precisando deste tratamento, mas não só eu! Minha pobre velha também está de pé, por que ela coitada, não pode deitar! Quem iria cuidar de mim?

- Imagina, Juventino, eu estou bem; disse dona Lucrécia!

- Mas não faz mal nenhum; dona Lucrecia, a senhora fazer também uns exames, disse Jaade!

- Está, bem, eu aceito e que Deus a abençoe!

- Ótimo. Agora mesmo vou telefonar para o médico, e pedir que providencie a clínica e sua remoção!

Jaade saiu dali com Jonathas, que até aquele momento não tinha entendido nada sobre o plano dela. Então Jaade disse:

- Padre, a coisa saiu até melhor do que eu esperava.

O senhor já imaginou a alegria de Jessika, poder fazer isso pêlos pais?

- Você é diabólica, menina, que Deus a abençoe!

- Agora; padre; precisamos falar de um assunto muito sério, muito importante e demais delicado!

- Nossa Senhora, Jaade, você me assusta!... Depois o padre tomou uma atitude meio austera, e disse: Se você vai falar do meu caso com Jessika, eu vou lhe adiantar uma coisa. Eu amo a minha vocação, e não a deixaria por nada. Depois eu não a amo mais!

- Isso é muito louvável padre. Mas falaremos nisso depois!

Nós temos muitos problemas dos outros agora para pensarmos nos nossos!

- Então de que se trata?

- Eu gostaria que o senhor arranjasse uma entrevista para mim com a Dona Ana Mascarenhas!

- Ana Mascarenhas?! Você enlouqueceu? E por que você quer entrevista-la? Ela não concederá, tenho certeza disso! Ela não recebe visitas. Faz as suas doações em dinheiro para a igreja, mas não a freqüenta, e não tenho tanta

intimidade com ela para lhe pedir uma entrevista com uma jornalista. Esqueça!

- Mas o senhor poderia visitá-la, agradecer a doação. Depois ninguém pode fechar as portas para um sacerdote, que quer fazer uma visita a uma paroquiana!

Não sei Jaade. Acho isso muito arriscado a perder minha doação, e a paroquiana, por falta de confiança no pastor. Desista desta idéia!

O senhor poderia pelo menos tentar. Podia dizer que viu um médico entrar na sua casa, e então pensou que pudesse ser-lhe útil se fosse algum caso grave de doença!

- E por que este interesse por uma pessoa que não conhece?

Padre Jonathas; se for o que penso; o senhor estará fazendo um grande favor para muita gente, principalmente para Jessika! E o senhor há de convir de que deve isso a ela!

Para Jessika?... Jaade, o que você está aprontando, e o que Jessika tem a ver com esta senhora?

- Não, ela não tem nada a ver com isso, apenas eu desconfio que esta senhora seja a pessoa que daria muito prazer para nós encontrá-la. Aliás, eu sempre tive muita esperança de encontrá-la. E se as minhas suspeitas se confirmarem, o senhor irá conhecer a maior história, a mais fantástica...

- Você me assusta! Ou melhor, seus métodos me assustam.

Está bem, amanhã nós iremos vê-la! Seja lá o que Deus quiser!

- Muito bem. Agora eu preciso encontrar um telefone, aonde possa conversar com alguém em Salvador, e muito secretamente.

O senhor sabe aonde posso dar este telefonema?

- Já sei! Você quer usar o telefone da igreja.

- Entendeu muito bem. Menino inteligente!

Jaade ligou para a casa do Dr. Rogério em Salvador!

Expôs tudo o que estava acontecendo, e pediu que ele providenciasse a remoção de um paciente com uma ambulância, e providenciasse a internação! E que ele próprio viesse fazer a remoção!

- Você está doida, Jaade, você acha que eu posso me ausentar de Salvador, para fazer uma remoção de um paciente? Você enlouqueceu?

- Não, não enlouqueci. Estou esperando amanhã, ou depois. E o nosso segredo deverá continuar. Jessika não poderá saber que você se ausentou de Salvador. Por isso deverá fazer com a maior brevidade, e com muito cuidado para ela não notar a sua ausência. Diga-lhe que tem uma operação muito complicada que necessita de cuidado especial. Mas deverá ser logo. Amanhã se possível!

Quando você chegar aqui, vai ter grandes novidades!

- O que você está arrumando aí Jaade, tome cuidado!

- Está bem. Quando estiver tudo preparado, telefone para este número, avisando que já está vindo.

- Está bem, sua louca! Queira Deus que não esteja arrumando uma grande encrenca, disse Rogerio intrigado!

- Quando ela desligou o telefone, o padre estava atrás do móvel.

- Então ela disse: - Pode vir padre, é feio ouvir a conversa dos outros, sabe?

- Eu sei, mas não confio em você. Agora menina, você vai me explicar toda esta loucura!

- Por onde o senhor quer que eu comece padre.

Pelo princípio, se possível. Sabe? Eu já começo me arrepender de ter conhecido você, sabe? Mas depois que Jaade lhe colocou a par do seu plano, ele disse: - Você não acha que é muito arriscado, levar o senhor Juventino enganado?

- O senhor sabe de uma maneira melhor de ajudá-los? E conhece alguém que ficará mais feliz e agradecida por tudo o que estamos fazendo pêlos seus pais? Como também pode imaginar, ou desejar uma oportunidade de tentar uma reconciliação entre eles de que esta?

- Mas ele irá aceitar depois que souber o que fizemos. Enganando-o?

- Depois se explica tudo! Sabe padre, será o maior sonho da vida de Jessika, poder ajudar os pais. E fazê-los entender que apesar da vida aparente que leva, ela continua uma pessoa digna. Coisa que não se encontra nem aqui, nem em lugar nenhum do mundo!

- Está bem, Jaade, vamos colocar nas mãos de Deus!

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 09/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4131405
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