A CORTEZÃ VIRGEM - Cap. XX
A CORTEZÃ VIRGEM= Cap XX
- Angústia? Espinha atravessada? O que o senhor quer dizer com isso?
- Olha Jaade, não vamos falar mais nisso, está bem?
- Claro que vamos falar. Afinal o senhor está falando sobre a Jessika. A mulher que sofre até hoje pelo senhor! E deve talvez ao senhor também, ela ser o que é!
- Não entendi Jaade! O que você quer dizer “ser ainda o que é”?
- É o que o senhor está ouvindo. Jessika sofre muito, principalmente em pensar o que o senhor poderá pensar dela!
- Mas foi esta vida que ela escolheu, não foi?
- Não senhor, ela não escolheu esta vida. Ela queria era a vida que nunca pode ter por que todos vocês a negaram de ter.
- Vocês?!
- Sim, vocês! Principalmente o senhor. Seus pais; sua família; a madama Dez; e todos os seus carrascos!
- Eu não estou entendendo o que você está falando!
- Olha padre Jonathas, não é este o assunto que deveríamos está falando. É o que realmente me trouxe aqui! Apenas eu gostaria de uma informação sobre a família de Jessika. Como estão passando? Como posso ajudá-lo, sem que Jessika saiba, mas que seus pais fiquem sabendo que ela está arrependida de tudo o que fez e gostaria que eles soubessem que o dinheiro que ela tem, não é dinheiro sujo como tanta gente pensa que é; inclusive o senhor!
- O que você quer que nós pensemos?
- Que pense a verdade!
- E o que é a verdade na vida da Jessika?
- Agora, eu que digo: “O senhor não acreditaria”, se eu lhe dissesse que ela é ainda uma moça virgem, e sabe pôr que? Porque ama alguém, apesar de que um dia vendo-se injustiçada, desesperada, e quase perdendo a razão, ia se entregando a um homem, só por que duvidou da sua palavra!
- Só por que duvidou da sua palavra, ela ia se entregando?
- Por que soube que não adiantava mais ter esperança de se guardar para o homem que sempre amou. O único, e a desprezou. O senhor! Felizmente eu estava sempre perto, evitei que ela desgraçasse sua vida por alguém que nunca a mereceu! E esta pessoa ela espera pelo menos ajudá-la, ajudar os seus pais, mas ela não tinha coragem de procurá-los.
Jessika precisava que o senhor pudesse convencer seus pais que ela não é a pessoa que eles pensam e julgam que é!
- E como poderia fazer isso? Como convence-lo?
- Não sei padre. O senhor é quem deve saber como agir nestes casos, mas eu penso que só a verdade convence, e ninguém melhor para faz
- senão o senhor. Convencendo-lhe da verdade!
- Não sei, não sei. Vai ser muito difícil! - Mas não impossível, por que a verdade, é sempre a “verdade”!
- Mas, por favor, Jaade, me fale mais sobre ela. É claro que não me importa como homem, saber como ela vive, mas como amigo e como padre!
- Pobre padre! É por isso que a minha fé é pequena, por que não saberia mentir para mim mesma. Poderia mentir até para Deus, mas nunca para mim mesma! Por que para Deus, nós não conseguiremos mentir mesmo. Então são as duas pessoas que eu não conseguiria mentir, não é verdade padre?
- É Jaade, você tem razão. Mas eu escolhi a minha vocação, a ela!
- E se esqueceu que deixou um coração em pedaços. Não pensou que poderia arrasar uma pessoa? Nunca pensou que poderia tê-la feito compreender que preferiria seguir a sua vocação, sem feri-la como fez? Mas padre; estamos desviando do assunto, do que realmente interessa.
- Eu não sei mesmo como ajudá-la, no que diz respeito á compreensão dos pais de Jessika!
- Como já disse: Contando a verdade. Somente a verdade!
- Você espera que eles acreditem, mesmo sendo verdade?
- Mas eu a apoiei, eu acreditei nela!
- Acreditou padre?
- Pobre menina; imagino o que tem passado!
- Engana-se padre. É a pessoa mais rica que existe no mundo. E não estou falando do vil metal. É como diz! ... “Vil metal”. Deste também, ela está rica, mas não é desta riqueza que estou falando. Ela é feliz e não reconhece! Como eu a invejo, padre, como eu a invejo... Saiba de uma coisa. Eu darei a minha vida para que ela não sofra. Lutarei contra tudo e contra todos. Ai de quem a queira fazê-la sofrer. Fasê-la infeliz! E é por isso que estou aqui, e fique sabendo que é sem seu consentimento. Ela pensa que estou visitando os meus pais. Vou virar esta cidade de pernas para o ar, se não conseguir provar principalmente para seus pais que ela não é uma pessoa má, nem uma...
- Calma Jaade; vamos pensar num meio. Eu não queria de maneira nenhuma usar um trunfo que tenho para convencer os pais dela de sua inocência, mas se de todo não conseguir, terei que apelar para este recurso, o que detestaria recorrer.
- E qual é este meio, padre?
- Você saberá se for necessário! Por enquanto vamos visitar o senhor Juventino e tentar convencê-lo que estávamos errados a respeito de Jessika. Que fora uma cilada que armaram contra ela.
Quando eles chegaram á casa do senhor Juventino, foram recebidos pela Magda que já desconfiou de que se tratava da Jessika.
Que procurou evitar imediatamente que eles fossem recebidos pêlos pais!
- O que deseja, padre, o senhor sabe o que o meu pai pensa a respeito da...
- De Jessika, disse Jaade. Ele terá que nos dizer pessoalmente o que pensa!
- Mas ele não quer recebê-los!
- Como você sabe que ele não quer nos receber, se ele nem sabe que estamos aqui?
- Mas eu estou aqui; pelo cheiro de gente como ela, percebo que se trata daquela desavergonhada!
- Calma menina, veja como fala da Jessika!
- Cale-se você. E quem é você para se intrometer em assunto de família?
- Mas que família? Você é toda a família de Jessika? Eu quero falar com o senhor Juventino, e agora. E não será você que vai me impedir de falar com ele. - Se for necessário, e passo por cima de você como um trator. Por isso lhe dou dez segundos para chamar seu pai e sua mãe. E não pense que eu sou igual á Jessika que ficou ouvindo de vocês, principalmente de você todo tipo de acusações mentirosas e não se defendeu! Comigo a coisa é diferente. Se for necessário eu enquadro você como perjura, e esqueço você na cadeia, até se comportar como gente.
- Quem é você para...
- Não queira saber, para o seu próprio bem!
- Eu vou...
- Você não vai fazer nada, Magda, disse Jonathas. E agora vai chamar o senhor Juventino!
- Isso não vai ficar assim menina, você não sabe o que faremos com forasteiro. Principalmente com aqueles que se intromete com problemas da nossa cidade!
- Fazem o que fizeram com Jessika, não é? Pois fique sabendo que eu não sou a Jessika. Eu viro esta cidade de pernas par o ar se for necessário, e eu sei que nem toda gente desta cidade é igual a você.
- Você não me conhece, como pode falar assim?
- Estou conhecendo-a agora, e começo a entender o que passou aqui a pobre Jessika. Não querendo se defender, para não contrariar seu pai. Mas eu não sou filha dele, não estou ligando se ele piore ou não o seu estado de saúde, por não querer saber a verdade!
- Olha aqui menina, abaixe este nariz, você está falando do meu pai!
- O que você não se importa de aliviar o seu sofrimento!
- Sofrimento?! Ele sofre sim. E quem o deixou neste estado foi ela!
- Você tem certeza disso? Quem me garante que não foi você a verdadeira culpada de tudo o que aconteceu aqui?
- Diga-me: “O nome Joice lhe diz alguma coisa?
- Quem? Joice? Eu não conheço ninguém com este nome!
E a madama Dez, também não?
Olha menina, o seu tempo já esgotou. Vai chamar o seu pai, por favor!
Magda olhou para Jonathas assustada, e depois disse: Esperem um pouco; Vou ver se ele está bem! Quando Magda saiu, Jonathas sem compreender, e assustado com a maneira de Jaade agir, perguntou: O que você quis dizer com estes nomes, Joice e Dez?
- O senhor saberá se for necessário!
Jonathas percebeu que estava pagando na mesma moeda!
- E agora o que vamos fazer, perguntou Jonathas!
- Eu acho que deveremos conversar com ele, e com a esposa, as sós, se for possível!
Uma porta se abriu, e apareceu uma senhora que era conhecida do Jonathas, e o olhou com simpatia; mas desconfiada!
- Olá padre Jonathas!
- Boa noite dona Lucrecia, como vai passando?
- Como Deus quer e é servido. Penando com a doença do Juventino!
E ele como vai da bronquite?
- Não teve mais crise de bronquite, mas é teimoso, não quer fazer os exames que o Dr. Roberto pediu. Então está cada vez pior das costas!
- Por que ele não procura um especialista em São Paulo, ou no Rio?
- Bem, seria o ideal, mas você sabe que não temos condições para isso. Bem que ele queria.
Sabe, quando não se tem confiança num médico que nos trata, não adianta remédio!
- Vocês querem entrar para vê-los? Ele não está bem!
Quem é a mocinha?
- É uma conhecida minha de Salvador. Está me visitando.
- Muito bonita menina, muito bonita!
Eu tenho uma filha assim em Salvador... Quem sabe você a conheça!
- Talvez!
Dona Lucrecia, depois eu volto aqui para falarmos sobre a sua filha, se me permite. Talvez eu até conheça mesmo!
- Duvido minha filha, mas volte quando quiser. Será um prazer!
Eu não sei se a senhora terá este prazer, mamãe, depois que...
- Depois de que Magda?
Aquele início de discussão terminou com o chamado do senhor Juventino que perguntou: - Lucrecia, quem está aí, e que discussão é esta?
- Nada meu velho, nós temos visitas?
- Que visita nada, senhor Juventino, disse Jonathas. Eu não sou visita, e quando me considerarem assim, eu não venho mais aqui, e não perdoou os pecados de vocês!
- Padre Jonathas, como é bom vê-lo. Veio me trazer extrema unção?
- Qual nada meu amigo. O senhor ainda tem muito que tocar sua sanfona, animando as nossas quermesses. Precisa é se levantar desta cama!
- É meu amigo o meu tempo passou esta velha carcaça não agüenta mais.
Quem é esta mocinha bonita?
- É uma amiga da capital. Está nos visitando.
- Esteja á vontade minha filha!
- Nós estávamos passando, então resolvi fazer-lhe uma visitinha, já que o senhor não tem ido á igreja.
Então, eu quis apresentar para vocês esta minha amiga!
- Obrigado Jonathas!
Jaade deu um sinal para o Jonathas, para se retirarem. O que Jonathas compreendeu!
Despediram do senhor Juventino, acusando que ainda tinha muito que mostrar para sua visita, os encantos da nossa cidade.
- Quando eles iam saindo, o senhor Juventino disse: Seja bem vinda minha filha!
- Obrigada; senhor, permita-me apenas poder voltar a visitá-lo!
- Quando quiser minha filha!
Quando saíram do quarto; na sala estava Magda como sempre disposta a recomeçar uma briga!
Mas antes que ela falasse qualquer coisa, Jaade disse: “Eu estou hospedada na pensão Conceição, espero que você vá me visitar. Ainda hoje se possível!”
- Eu não posso...
- Eu a espero Magda. Você foi muito simpática! Não falte, por favor!
Cada vez o padre Jonathas compreendia menos, as atitudes de Jaade. Então perguntou: - Jaade, o que está se passando, o que você tem em mente convidando Magda para ir a pensão falar com você?
- É apenas um palpite, padre, e se estiver certa, achamos o fio da meada!
- Eu continuo não entendendo. Por favor, explique!
- Na hora certa, meu caro padre, na hora certa!
Posso lhe fazer uma pergunta padre, Inocente, ou por ignorância?
- Pode fazer quantas quiser!
- O senhor não é padre ainda, é?
- Não! Mas vou ser ordenado este ano! Mas tomo conta desta paróquia por falta de padre!
- Por que esta pergunta?
- Nada. Apenas por que o senhor não usa batina!
- Uso sim, No seminário! Desculpe-me a pergunta.
- Sabe, Jade, eu nunca vi alguém tão misteriosa! E; diga-se de passagem; com muita coragem de falar assim desta maneira com Magda, quando nem a conhece!
- Como disse: é apenas palpite, depois da visita da Magda conversaremos!
- Tem certeza que ela irá?
- Ela irá!
Os dois continuaram o passeio pela cidade, então Jaade disse: -
Vamos voltar para a pensão, não quero fazer a nossa amiga esperar muito!
- Eu não sei aonde você encontrou tanta certeza desta visita!
- Veremos meu caro, veremos!
Mal Jaade e o padre chegaram, e Jaade foi para o seu quarto; a dona da pensão bateu na porta anunciando que a Magda queria falar com ela!
- Por favor, peça que venha até aqui, pediu Jaade!
Magda entrou então Jaade falou: - Por favor, Magda espere um pouco, já estou terminando de me vestir. Saí do banho agora, está muito quente não é?
Talvez Jaade tenha feito de propósito, para acalmar um pouco os nervos de Magda, ou irritá-la ainda mais.
Uns dez minutos mais ou menos se passaram. Então Jaade apareceu vestida ricamente num “Penoar” de cetim de cor lilás, com aplicação azul anil. Cabelos ainda molhados, secando com uma linda toalha felpuda também lilás.
Com muita calma e familiaridade, ela perguntou. Por que não se assenta, Magda? Eu já termino de secar este cabelo. Eu sabia que não era hora de lavá-lo, mas a viagem! Você sabe que os nossos cabelos são quem mais sofrem com a poeira e o vento! Aquilo não tinha nada a ver com o que elas deveriam conversar ou discutir.
- Sente-se Magda. Infelizmente eu não tenho nada para beber, a não ser que eu peça um café, um chá!
- Não se preocupe comigo. Apenas eu quero saber o que quer falar comigo!
- Calma menina. Você está com pressa? Se tiver poderemos deixar para depois!
- Não! Mas não gosto deste modo que você me trata, de menina. É um modo muito cínico!
- Cínico?! Não pense mal, pois não quero o seu mal, ao contrário, eu quero é a sua amizade, sua ajuda!
- Minha ajuda? E o que posso fazer por você? Afinal o que você deseja aqui na nossa cidade?
- Olha Magda, para mim, eu não quero nada. Mas para seu pai. Ou melhor. Para os seus pais, e por vocês, em fim!