JESSIKA A CORTEZÃ VIRGEM- cap. XIX
A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. XIX
Dias depois, ele me falou que estava muito comprometido com a sua fé, e que ia para o seminário. Então entendi a sua reação daquele dia.
- Você estava disposta a se entregar?
- Estava sim. Quando se é jovem, a paixão sega impedindo o raciocínio!
Eu estava apaixonada, e isso justificava o ato!
- Realmente!
- Não foi por causa dele que eu vim para cá. Foi uma cilada preparada pela Joice e pela madame Dez.
- Não entendi Jessika, o que tem a Dez com isso?
- Olha Jaade, é melhor não falarmos mais nisso. Eu sei que vai nos magoar, nós duas!
- Me magoar? Por que isso pode me atingir?
- Por que nós duas fomos apenas cobaia para elas.
Quando cheguei, você já estava aqui. Então ela não teve outro jeito, a não ser ceder-me para Joice.
- Eu não estou entendendo nada. Nunca pensei que tomava parte assim da sua vida!
- Mas foi isso. Eu vim para ficar com a Dez. Mas você foi enviada para ela, e quando eu cheguei...
- Já sei. Eu tinha preenchido o lugar! E foi quando Joice se interessou por você, e a troca foi feita!
- Bandida!
- Foi por isso que fiz questão de conseguir que ela deixasse você ficar comigo depois que Joice se foi!
- A que preço, Jessika! Qual foi o preço que você pagou por mim?
- Deixa de bobagem, minha querida. Isso não importa. Não houve compra, apenas uma transação. Eu precisava de alguém que me fizesse companhia, e que eu confiasse, então convenci a Dez...
Não minta Jessika, eu lhe pertenço.
Que asneira menina. O que importa agora a maneira? Eu a tenho agora. Você é minha amiga, minha irmã, minha companheira. Eu a amo muito mais de que minha irmã... Olha se tivesse mesmo que comprá-la; eu faria por qualquer dinheiro, por que você é muito importante para mim.
- Eu não sei se Magda faria por mim o que você já fez! E eu quero que você saiba de uma coisa. Você é livre para ir embora quando quiser. Quando não me suportar mais. Quero que você entenda isso, e nunca se esqueça. Você não me pertence. Você é minha sim! É uma das mais importantes criaturas da minha vida. E sabe por quê? Porque você é maravilhosa! Boa, honesta, e sobre tudo sincera. E tem mais uma coisa ainda mais importante: Você gosta de mim. Eu sinto isso, por que eu também gosto muito de você. “Nós nos amamos”!
Por isso minha querida, nunca mais pense que você me pertence, por que eu tenha feito um negócio com a Dez. E não foi dinheiro, acredite!
Mas como já disse: “Você é livre, pode ficar se for de sua vontade, e pode ir se for também de sua vontade!”
-Você sabe que eu não a deixaria, a não ser que você me mandasse embora! Mas lembre-se de uma coisa; apesar deste amor que tenho por você: mas não me peça para poupá-la, quando pensar da maneira que estava pensando, se sentindo!
As duas moças se abraçaram e choraram juntas. Então Jessika disse: - Olha, nunca mais falemos neste assunto, está bem?
Depois de alguns minutos, Jaade falou: - Não adianta Jessika, eu não me esqueci do nosso assunto. Eu não quero de maneira nenhuma influenciá-la, mas eu não me conformo com a sua desistência. Nem mesmo saber se ele se ordenou ou não!
- Isso não importa mais! Quando eu saí da minha cidade, eu disse para quem quisesse ouvir; principalmente para ele, o que eu ia fazer! Nesta altura, sabe Deus o que ele pensa de mim, e todos da cidade!
- Eu disse que vinha para aqui fazer fortuna, não me importava a que preço. Que seria famosa até uma...Como eles pensavam que eu era em São Paulo... O que a Dez e a Joice os fizeram pensarem.
Agora eu sou rica, posso dar aos meus pais uma vida confortável. Mas eles não querem saber de mim. Não querem minha ajuda. Eles acham que meu dinheiro é sujo. Ganho com meios escusos!
Como posso ser feliz, Jaade? Como posso pensar em reconquistar o homem que amei; se ele pensa tal coisa de mim. E como provar o contrário? Por isso, minha salvação era casar com o Alvaro e ele seria a melhor testemunha que eu não sou o que eles pensam que sou!
- E você acredita mesmo que este seria o caminho certo? E o seu amor, sua vida, sua felicidade, não conta?
Pois fique sabendo, que a felicidade deve ser conquistada a qualquer preço. Se você acha que sua felicidade está em se casar com o Jonathas, lute por esta felicidade. É um direito que lhe assiste!
- Não, minha amiga. Eu não tenho este direito de perturbar a sua vida, a sua fé. Foi uma escolha dele!
-Será que ele ainda pensa assim?
- Não sei. E depois esta minha vida aqui!
- Que vida, Jessika? Esta vida não alterou um só fio do seu cabelo? Você deixou de ser aquela moça que veio de lá? Você está diferente, apenas por que é uma mulher rica. E não deixou de ser virgem, mesmo trabalhando nesta casa.
Trabalhando dignamente como todas as pessoas que trabalham aqui...
Por acaso é menos digna a Dona Zuleica, Janete, e todas as outras funcionárias? São por acaso elas prostitutas, mulheres de vida fácil?
Eu por exemplo: Se tivesse a felicidade de ter me conservado virgem antes de vir para aqui, eu também seria agora como você, condenada por estar trabalhando aqui? Olha minha querida, o nosso trabalho não nos faz menos digna.
O que não sei se você continuaria virgem morando lá, ou trabalhando em São Paulo, ou em outro lugar qualquer! Você me contou que quase aconteceu, e na sua cidade, e você não era o que é hoje.
Não importa minha amiga; o lugar em que vivemos; que trabalhamos. A nossa dignidade está nos nossos atos; seja onde for; e o que desejamos ser! Bem, você é maior de idade, mais velha do que eu. E tem melhor raciocínio. Sabe o que deve e o que não deve fazer!
Eu só tenho uma curiosidade: “Você estava em São Paulo, por que veio para cá?”
- Não Jaade eu saí de São Paulo por causa de um romance que tive lá!
- Como sempre, fugindo do romance. Ele a assusta tanto?
- Não, era um amor impossível! Por sinal; armação das mesmas pessoas!
- Outro? Que carma!
- Mas este foi diferente! Até que fui feliz! Mas não podia. Eu tinha pelo menos o dobro da idade dele!
- Então era uma criança?
- De todo! Era uma criança encantadora! E como eu estava me envolvendo emocionalmente com ele, tratei de fugir antes que a coisa se complicasse. Mas isso pertence ao passado!
- Sabe, Jessika, eu não me conformo com esta sua capacidade de deixar tudo para trás. E dar pouca importância ás coisas maravilhosas da vida!
Bem, este é o seu modo de pensar!...
Você acha que eu deveria continuar alimentando a esperança daquela criança, e a minha própria, de ser feliz?
E depois minha cara, eu estava me apaixonando por ele. Você já pensou no desenlace desta história?... Não Jaade, eu não compro sofrimento. E depois ele já queria tornar público o nosso romance; o que ia pensar os seus pais? Você acha que eles iam permitir um absurdo deste?
- E ele o que pensava desta diferença de idade?
- Uma coisa natural. “Apenas oito anos, dizia ele”
Um dia depois de raciocinar friamente, resolvi deixá-lo, e a melhor maneira foi saindo de São Paulo. Foi quando cheguei a minha cidade, e a coisa já estava preparada para que eu não ficasse lá. Uma trama como já lhe disse, pela Dez, e Joice.
- Mas qual o interesse que Joice tinha em trazê-la para casa da madama Dez?
- Ela precisava deixar alguém em seu lugar. Ela era a atração da casa da Dez! Mas tudo complicou com a sua chegada!
- Diga-me, Jessika, o rapaz se conformou com a sua partida de São Paulo?
- Não muito. Mas eu o convenci de que aquilo não ia dar certo. Eu pensei que tinha sido isso, mas não foi. Mas isso não importa agora.
Ele concordou por que pensava que eu não ia conseguir ficar longe de São Paulo; e era parte da armação das duas!
- Nunca mais se comunicaram?
- Não. Nunca mais!
- Você não tem saudades, não pensa nele?
-Vagamente! Eu não alimento as minhas ilusões, principalmente aquelas impossíveis e que poderá me fazer sofrer!
- Sabe quem estava me esperando na estação quando cheguei a minha cidade? Por sinal a única pessoa, incluindo a minha família? O Jonathas! Unicamente o Jonathas! E foi ele o único que me deu apoio, que acreditou em mim, na minha inocência!
- Meu Deus, Jessika, que história! Quanta maldade!
- É verdade! Eu jurei que me vingaria de todos. Mas vingar de quem, Jaade? Que culpa tinha eles coitados. Fomos vítimas de um plano diabólico. E o que restou? Uma grande catástrofe na minha família, na minha vida principalmente.
De que vale todo este dinheiro, se perdi a minha família, se não posso ajudá-los? De que serve este império que tenho aqui, se perdi o homem que eu amava?
Meus pais devem estar precisando muito mais de ajuda agora, de que antes. Por que meu pai está muito mal, e a ajuda que eu dava era pouca, mas pelo menos para os remédios dava, e agora nem isso.
Você me entende agora, Jaade, por que eu arrenego esta fortuna? Por que o casamento com o Alvaro seria a salvação?
- Não, não entendo. Agora que conheço a verdade; este casamento não poderia acontecer, e não vai, isso eu lhe prometo!...
- Sabe, Jaade, eu queria pedir ao Rogerio que fosse lá, e tentasse fazer alguma coisa por eles, mas não sei se adianta!
Sabe, a única pessoa que podia fazer alguma coisa, eu não tenho coragem de pedir, mesmo por que, eu não sei o que ele está pensando de mim agora!
- Por que não tentar? Quem sabe!...
- Não. Isso não. Eu não quero. Eu não necessito de piedade de ninguém.
Eu não quero ser perdoada, por que não tenho nada a ser perdoada, minha amiga!
Eu sei Jessika, agora vamos parar com isso. Por favor, não chora, você não merece isso. A vida tem sido madrasta para você, mas não perca a esperança. Você vai ser muito feliz, eu tenho certeza disso.
Obrigado minha amiga, o que seria de mim agora se não contasse com a sua amizade.
- Você sempre poderá contar com a minha dedicação. Mas agora eu quero lhe pedir uma coisa.
- Diga, Já está concedido!
- Eu preciso me ausentar uns dias. Mas volto o mais breve possível!
- Vai viajar?
Vou ver minha mãe. Posso então
- Claro que pode. Quando pretende viajar?
- Amanhã, ou depois se possível!
- Eu vou providenciar a sua viagem. - Não é necessário, Jessika, eu não preciso de nada, eu tenho as minhas economias!
- Está bem, mas quero que você leve um presente meu para sua mãe!
- Obrigada, mas não se preocupe!
- Jaade conversou com o Rogerio, e lhe comunicou a sua intenção de ir á casa de Jessika, e ver como estava passando sua família, e se podia fazer alguma coisa por eles; e se podia contar com ajuda do tal Jonathas!
A reação dele foi inesperada para Jaade!
- Você não pode fazer isso, disse Rogerio. Sua fisionomia se transformou. Ficou branco e furioso! Eu lhe proíbo que faça tal coisa!
- Rogério, o que você está falando? Eu pensei que pudesse contar com a sua ajuda, sem que Jessika soubesse aonde eu ia realmente!
- Mas agora você vai me dizer por que não posso tentar ajudar a família dela?
- Desculpe-me Jaade, eu sei que Jessika não gosta que faça qualquer coisa sem a sua autorização!
- Mas ela tem medo de tentar, embora esteja desesperada, e com vontade de saber o que se passa com a sua família. Pensou até procurar o Jonathas!
- Está bem Jaade, seja o que Deus quiser!
- Rogerio, o que você está me escondendo? Aconteceu alguma coisa com os pais dela?
- Não Jaade, que idéia!
Rogério concordou, mesmo temendo os acontecimentos!
- Está bem, Jaade, conte comigo. Você precisa de alguma coisa?
- De uma coisa apenas!
- Diga!
- Me explique por que esta reação? Existe alguma coisa que eu precise tomar cuidado?
- Não. Para você não vai ser difícil, espero!...Sabe, vale á pena tentar!
Foi difícil convencer Jessika não mandar um presente para sua mãe, por que ela não ia para sua casa. Mas com a insistência dela, teria que alterar seus planos, por que teria que demorar mais do que pretendia. E depois detestaria ir a sua casa principalmente neste momento, mas o que fazer!
Rogerio disse que ela deveria aproveitar e ver seus pais! Esquecer o passado, e ignorar o desejo de represália. Tentar perdoá-los, mesmo por que eles tinham razão. Mas isso é um problema seu não compete a mim julgá-la!
No dia seguinte, Jaade viajou para Serrania! Não foi difícil para ela passar por uma desconhecida, por que na verdade era o que ela era. Mas numa cidade pequena, qualquer pessoa que chega, é logo notada. Mas como ela era apenas uma linda moça; somente foi notada pelos rapazes! E não poderia ser de outra maneira, por que Jaade é realmente bonita, e não podia passar despercebida pelos jovens da cidade!
Os rapazes; para tentar conquistá-la; e as moças para proteger os seus namorados.
Depois de se instalar numa pequena pensão, que por sinal, a única que existia, a não ser o pequeno hotel.
As pensões geralmente são mais familiares, mais simples, e melhores para se relacionar, e obter informações que deseja.
Por coincidência a pensão pertencia aos parentes do Jonathas. De um tio longe, mas tio. Isso ia facilitar o trabalho de Jaade, por uma parte, mas a sua beleza e pêlos modos finos, ela teria dificuldades de se manter incógnita, por mais que tentasse. Depois de tomar um banho, e descansar um pouco, foi Jantar. Assentou-se a uma mesa quase no fundo do refeitório, e ficou observando as pessoas discretamente.
Jaade estava quase terminando o jantar quando ouviu uma vós que perguntou: - “Posso me sentar?”
- Pôr que? Eu deveria?
- Por educação talvez! E isso eu sei que você tem!
- Obrigada pelo elogio!
- Obrigado eu pela oportunidade da companhia de tão bela moça!
- Hum! Disse Jaade. Já percebi que gentilezas é o forte desta cidade!
Desculpe a minha falta. Eu não me apresentei!
- Meu nome é Jonathas! Padre Jonathas!
- Padre Jonathas?! Você disse...
- Não precisa ficar constrangida. Ninguém vai censurá-la por estar conversando comigo. Com o padre. Este é meu costume, principalmente aqui, pois esta pensão é de meus tios, e eu ás vezes faço as honras da casa.
- Meu nome é... Ia dizendo Jaade, estendendo a mão.
- Jaade, disse Jonathas!
- Como o senhor sabe o meu nome?
- Simplesmente por que assinou o livro, não se lembra?
- É verdade. Havia me esquecido. O senhor é relação pública da pensão.
- Não chega a isso! Mas acreditaria se lhe dissesse que não foi por que li no livro o seu nome?
- Realmente, não! Por que não conheço esta cidade, nunca estive aqui, e faz apenas uma hora que cheguei à cidade!
O seu nome não é Jaade F. Santamaría?
- Ei! Como o senhor sabe o meu nome? Eu não me confessei ainda com o senhor!
Olha Jaade, penso que este não é o lugar adequado. Poderemos conversar sobre sua vinda aqui em outro lugar, e o melhor seria na minha igreja mais tarde, depois da reza. Seria mais aconselhável!
Como queira padre!
- Jonathas, por favor!
Depois do jantar ela saiu para dar uma volta na cidade, principalmente para descobrir aonde era o endereço que Rogerio havia lhe dado! Mas depois ela pensou: “É claro que não preciso me preocupar com isso. O padre Jonathas sabe melhor de que ninguém!”
E por certo me dará as informações que necessito.
Jaade esperou assentada num banco do jardim que ficava defronte a igreja e pensava: Como é que este padre me conhece?
“Meu Deus que coincidência encontrar justamente o Jonathas!” Eu não sei se gostaria de conhecê-lo, não era esta a minha intenção, embora tivesse curiosidade de vê-lo.
Realmente Jessika tem razão de se apaixonar por ele. Perdoe-me “O senhor”, mas ele é um belo homem!
As badaladas do sino da igreja; tirou Jaade de sua meditação ou divagação. Estava anunciando o início da reza. Então ela resolveu rezar um pouco!
Não foi muito longa a reza. Era um dia comum, não era missa, então não demorou muito!
Quando toda aquela gente saiu, Jaade continuou rezando. Então ela ouviu aquela mesma vós que ouvira na pensão.
- Está rezando? Ás vezes é muito bom!
- Ás vezes? Ouvindo isso de um padre, quase que me surpreende apesar dos tempos!
- Não brinque com a nossa fé!
- É verdade! Para quem tem, é muito importante!
- Por que, você não tem fé?
- Não sei padre. Ás vezes eu penso que tenho... Mas vamos ao que interessa: Quem começa? Eu naturalmente, disse Jaade: “Quero saber como, e de onde o senhor me conhece!”
- Você não acreditaria!
- Por que não tenta me dizer como. Quem sabe lhe surpreenda acreditando!
- Em primeiro lugar é que estive em Salvador. Conversei com você, mas lógico que não dei a conhecer. Nem mesmo Jessika. Eu não tive coragem!
- O senhor esteve na nossa casa? Fazendo o que?
- Curiosidade! Saudades! Felizmente houve uma confusão, então aproveitei atravessada para me retirar, sem ser reconhecido!
Sabe? Foi bom ter ido. Desfez uma angústia, uma espinha que estava na