A CORTEZÃ VOTGEM- Cap XVIII

A CORTEZÃ VIRGEM- Cap XVIII

Eu sei que isso lhe parecerá sacrifício. Mas sempre são assim os meus inúmeros amantes! E o pior é que o senhor vive as minhas custas, embora rico!

- Diz-me o nome de um só dos infames que se ocupam com a minha vida!

- O nome? São todos! A sociedade, a gente que não perdoa que sofre de desprezo pela própria sociedade. Vai tomar satisfação com todos?

- Você ouviu de alguém!

- Sim de alguém que ouviu de alguém, que também ouviu de outro, e o outro de mais um. É procurar uma agulha no palheiro; ou procurar no próprio palheiro a palha que oculta o escorpião que o picou!

Neste momento ouviu-se a vós do Sulista que exigia a presença de Jessika.

- Então minha cara; estamos esperando a surpresa que naturalmente reservaste para mim; para os nossos convidados; naturalmente!

Jessika, ruborizada começou dançar com requebros e trejeitos que na verdade nunca fora do seu feitio. Os convidados batiam palmas e gritavam a cada movimento exótico que fazia.

Todas as peças do vestuário foram tiradas pelo ilustre convidado, e deixando as últimas peças, as mais íntimas para o Alvaro tirar! Com os olhos em fogo, lábios trêmulos, mãos crispadas, Alvaro deixou o salão, e correu para fora, e todos deram risada. Ela estava realmente irreconhecível!

Jaade saiu ao encontro do Alvaro e passando pelo lado Norte da casa, que dava para os aposentos de Jessika. Levou o Alvaro para lá e tentou acalmá-lo!

- O que está acontecendo com ela Jaade? Ou todos estão me engambelando? Ou será que ela costuma dar estes espetáculos?

- Não, Alvaro, acredite que não! Deve haver uma explicação para isso.

- O que o senhor conversou com ela antes?

- Nada que levasse a tal absurdo!

Felizmente já era tarde, e seu convidado já bem alto se despediu. Jessika aniquilada correu para os seus aposentos cobrindo ainda a sua seme nudez, é claro.

Ao entrar deparou-se com o Alvaro que ainda muito irritado, pedia-lhe explicações!

- Explicação?! O senhor quer explicação?

- É o mínimo que poderia fazer. Não pelo fato de ter-se despido. Este é o seu ofício. Mas por que fui convidado! Você queria dar-me a resposta. Confirmar o que falam ao seu respeito, e aproveitar para me humilhar! Por que você mesma disse que sou seu amante. Então você quis me mostrar como trata os seus amantes! Entre tanto, devo lhe dizer que quero hoje a recompensa por esta humilhação!

- E por que não?

Jessika se pôs embaixo das cobertas, e não deixando que Álvaro, a visse despida!

Como é, a cortesã que se despiu friamente, aos olhos de desconhecidos, brilhante claridade do salão, agora não quer se entregar senão oculta nas cobertas? Por acaso estas cobertas podem ocultar indignidade de uma pessoa que fere os próprios brios, se é que isso figure nos princípios morais de uma mulher. Que pode até aviltar-se, se isso é a sua profissão. Entretanto, despir-se desarvergonhadamente por vaidade, é realmente aviltante!

- Pôr que? O que o senhor espera de uma mulher como eu? O que está esperando? Aqui estou, prove deste amor que o senhor chama de aviltante, degradante, ou sei lá o que pensa!

- Realmente, é o que vou fazer! É o que uma mulher como você merece. Não um ato de amor, mas um coito, e o desprezo!

- Então o que espera se é isso que o senhor pensa?

- Como eu penso?! Como todos seus amigos têm certeza do que na realidade é!

Eu só não entendo uma coisa Jessika: - Por que eu fui o escolhido para esta humilhação? O que fiz de tão ruim para você?

- Mas eu não quis humilhá-lo!

- Não mesmo? Então me diga por que o convite? Você precisava de alguém para ser sua vítima. Então este pobre pernambucano serve. Assim nós mostramos a ele o seu lugar!

- Alvaro, por favor, não! Eu não tive este pensamento, acredite, eu não pensei em fazer tal coisa!

- Então, pôr que?

Desculpe-me Jessika, eu tenho pena de você, por que você é realmente digna de pena! Adeus...

Alvaro foi embora, e Jessika caiu num pranto desesperador. Rogerio foi chamado ás pressas, mas nada pode fazer, a não ser dar-lhe um calmante!

Jaade dispensou os convidados, acusando indisposição da Jessika, e a conselho do médico que ela ficasse de repouso absoluto!

Aquela prostração durou alguns dias. Felizmente Jaade não deixou que a casa ficasse fechada. Com auxílio de Zuleica, Jaade fazia com que tudo corresse bem. Sempre dando desculpa pelo não comparecimento dela nas reuniões.

Jaade aconselhou-a que fechasse definitivamente a casa, mas Jessika não concordou. Precisava dela aberta, não por dinheiro, mas aquela casa era um ponto de honra, principalmente agora com esta situação com o Alvaro!

Ela precisava provar para ele que não pelo fato dela dirigir uma casa daquela, que fosse uma prostituta, ou algo assim!

Jaade e Rogerio não concordavam com este pensamento dela. Ela não tinha que provar nada para o Alvaro, e nem para ninguém. Mesmo por que, nem o Alvaro estava pensando nisso. Ele a amava, mas não conseguia pensar na hipótese de se casar com uma mulher que dirigia uma casa de aturação.

Uma noite, Alvaro foi á casa de Jessika para resolver aquela situação.

Jessika mandou suspender a função. Pretendia dar a ele toda sua atenção e sua hospitalidade.

Jaade estava contente. Contudo não se descuidou dela um só minuto.

Quando ia passando na sala de estar aonde Jessika e Alvaro conversavam com ânimos alterados, ela ouviu quando Jessika falou: “Venha comigo Alvaro, preciso lhe mostrar uma coisa.”

Então ela ficou intrigada! Alguma coisa ruim estava passando pela cabeça da amiga. Ela não sabia o que era, mas tinha certeza de que coisa boa não era!

Embora não sendo de seu costume ficar à porta escutando conversa dos outros, mas o que ouviu a intrigou, então ficou ouvindo!

Jaade ficou desesperada com o que ouviu!

- O que você quer provar com esta atitude? Eu não pretendo manter um relacionamento com você. Isso seria imoral. Eu pretendo me casar com você. Não me importa o que você é, ou o que foi até agora. Bem sei que não seria aceito pêlos meus pais esta união, mas estou propenso a desafiá-los! Apenas você diga que aceita o meu pedido de casamento!

- Eu não quero me casar com você, principalmente nestas condições! Condição de perdão! Não quero abusar da sua generosidade, esconder dos seus pais a minha verdadeira identidade. Sem revelar-lhe o que sou, e o que faço! Não meu amigo, eu apenas queria passar esta noite...

- Nunca! Eu nunca faria isso. Seria demais degradante!

Degradante?! O que o senhor chama de degradante? Passar á noite com uma mulher que dirige uma casa de diversão? Esta mulher que o senhor generosamente pretende perdoar; dar-lhe uma oportunidade como tantos outros já fizeram. Tiraram uma mulher da prostituição e se casou com ela. E esta lhe ficou devendo para sempre este imenso favor, por que ele perdoou o seu passado, e lhe deu um nome! Não é isso? Não é isso senhor Alvaro? O senhor quer dar-me uma oportunidade!... Que generosidade! Que ato de humanidade, ou de desprendimento! Mas eu não quero uma oportunidade! Eu não quero me casar com o senhor. Será que o senhor pode entender isso? Eu não quero uma oportunidade para um casamento com um homem de família, de estirpe, ou de linhagem vindo da corte! Ou quem sabe até de linhagem nobre, sangue azul, não é senhor Alvaro? Eu não quero me casar com um nobre, mas com um homem de nobre coração. E eu me enganei, pensando que este homem fosse o senhor! Eu não queria um homem de sentimento que chegasse até ao perdão. Sabe por que senhor, porque eu não tenho nada para ser perdoado. E agora senhor, fique sabendo que eu não me casaria com o senhor mesmo que fosse o último homem sobre a face da terra!

Então por que mandou me chamar? Para humilhar-me novamente?

Não, eu não queria humilhá-lo. Eu queria que o senhor passasse esta noite comigo. Então veria que eu não tenho nada para ser perdoado.

Você não está bem, Jessika. Eu não faria uma coisa desta com você!

E por que não? O senhor passaria a noite comigo depois do casamento, mas não antes, porque não senhor Alvaro? Seria uma indignidade passar a noite com uma rameira!

- Exatamente! Eu não me perdoaria!...

- O que é uma pena!... Agora senhor, por favor, vai embora, e nunca mais volte aqui!

- Por que Jessika? Somente por que não quero estragar uma imagem que consegui fazer de você, a despeito de tudo. Da vida que leva, do lugar que mora em fim...

- Chega senhor, interrompeu Jaade - Jessika já pediu para o senhor se retirar.

Abriu a porta e mostrou para o Alvaro!

- Mas eu queria...

- O senhor disse bem! Não quer nada. Por favor, retire-se!

Jessika ficou olhando para eles atônita. Não sabia o que falar.

Mesmo tentando ainda se desculpar, mas não conseguiu, por que Jaade não permitiu.

Quando voltou depois de ter acompanhado o rapaz até a porta, e reforçou o pedido para que ele não voltasse mais na casa, encontrou Jessika em prantos. Então perguntou: Por que Jaade?

Por que meu Deus? Ele não podia ser assim. Ele não podia pensar uma coisa desta de mim!

E por que não, Jessika? O que você espera que ele, e todos os freqüentadores desta casa; pense sobre você, de nós? Que somos umas noviças? Que esta casa é um convento, e que os nossos convidados, e amigos; vem aqui rezar? O que você espera, amiga? E principalmente, um forasteiro que foi convidado para se divertir nesta casa. E por acaso, ele foi aquele que a conheceu na festa da Piedade, e gostou de você; felizmente ou infelizmente você se apaixonou por ele. Mas nunca pensou no que poderia passar na sua cabeça. Estava apenas como todos querendo se divertir! Por que não conquistar a confiança da dona mesmo não sendo você a mais bonita, mas é a dona! Apesar de que só você não se ache bonita, ao contrário de que todos pensam!

Mas de qualquer forma você há de convir que seja agradável aos olhos, e um bom partido, mesmo que seja para status, ou ser invejado por ter conquistado a dona da casa, e gozar de alguns privilégios.

- Basta Jaade, você não percebe que está me torturando, que está sendo dura demais comigo?

- Você acha? O que espera que eu fale? Que minta que a engane para lhe agradar?

- Não minha amiga, eu não vou ser hipócrita... Eu não sou hipócrita, e você sabe disso; se você confiou em mim, foi exatamente por que reconheceu que eu era a pessoa que podia ser-lhe útil, e sobre tudo, podia confiar em mim. Talvez por estas características!

Se você quiser me despedir; quando quiser, mas fique sabendo que sempre lhe direi a verdade, mesmo que isso magoe a você ou a mim, por que é para isso que sou paga, para lhe proteger, e contar com a sua proteção, por que sei que nós nos amamos mais até de que duas irmãs, por que sofremos na pele o mesmo; e o destino nos uniu, e você sempre vai me ouvir...

- Não Jaade, não agora!

- Não minha querida, é agora. Já disse: - Você terá que me despedir, do contrário vai ouvir o que tenho para lhe falar por que é muito sério, e não posso perder esta oportunidade. Posso perder a coragem!

- Mas você não está vendo que estou sofrendo?

- E você pensa que estou sofrendo muito menos de que você?

- Mas agora basta de ter pena de você mesma, e nem deixar que ninguém a tenha!

- Por que você não me poupa pelo menos enquanto esta ferida sangra tanto!

-Ferida?! Não seja boba menina. O que você está chamando de ferida, não passa de um pequeno arranhão que a vida nos faz, e como se pessoas como você se abata tanto!

- Jessika, você sabe que este rapaz não tem todo este significado na sua vida, como você está querendo deixar transparecer!

Você está querendo se auto-penitenciar, eu não sei por que. Não seria por covardia?

- Covardia? Por que covardia?

- Por não ter lutado pelo seu grande amor!

- Meu grande amor?!... Que asneira você está dizendo?

- Você sabe que não é mentira, Jessika. Você...

- Você não sabe o que está falando. Isso é um disparate!

- Até pode ser um disparate, quando se enterra um grande amor; quando sofremos por alguém, e quando começa a cicatrizar a ferida, um pequeno arranhão reabre e se torna um ferimento ainda maior do que era. Isso é querida; reflexo daquilo que está sufocando o seu coração; este amor que um dia você considerou impossível e por “covardia” quem sabe, desistiu de lutar!

- Jaade, você está delirando!...Só pode!

- Eu não sei quem lhe pôs na cabeça que existe algo entre eu e Rogério, mas...

- Rogério?! Quem falou em Rogéro?... Estou falando do seu grande amor, minha querida, e da sua covardia por não ter lutado contra tudo e contra todos. Até mesmo contra “ele”!

- Jaade, seja mais explícita. Você está me deixando nervosa. Muito mais de que estava!

- Por que eu preciso ser mais explícita, minha cara? Você sabe de quem estou falando!

- Não, não sei. E ainda acho que você está delirando! - Então vou refrescar sua memória:- Falo de um tal; de “Jonathas”! Por acaso este nome lembra alguém?

- Jaade, que você sabe sobre isso? E quem lhe falou sobre ele?

- Você mesma!

- Enlouqueceu! Ou então eu quem está tendo um pesadelo. Isso que estou ouvindo não é real! Eu não me recordo de ter-lhe falado a este respeito

Agora; sente-se aqui e me conte toda esta história! Como ficou sabendo? Eu tenho certeza de que não falei aqui a ninguém sobre o Jonathas! Mesmo por que; ele par mim está morto. Já o bani do meu pensamento há muito tempo!

- Você pode me dizer por quê?

- Se você sabe algo a respeito dele, sabe também que é impossível existir qualquer esperança, a menor possível!... Ele morreu minha querida. Ele morreu para o mundo, e principalmente para mim!

- Por que ele é seminarista? Será que já fez sua escolha definitivamente? Por acaso você procurou saber se é isso mesmo que ele deseja? Não, você não lhe deu esta chance!

Posso lhe fazer uma pergunta indiscreta?

Eu aprendi que as perguntas indiscretas podem ficar sem respostas. Não se esqueça disso por que eu nunca esqueci. Mas não se ofenda se esta for uma delas!

- Não sobrou nada do romance que existiu?

- Não houve romance!

- Não acredito! Então o que existiu? Por que chegaram até onde...

- Pare Jaade, não lhe dou o direito de você tocar num assunto que só a mim diz respeito!

- Jessika, é como disse no início da nossa conversa. Você tem o direito de me mandar calar, mas não de me obrigar a calar. E se eu perder este emprego que tanto gosto, e necessito dele; mas não me importo, por que fiz o que deveria ter feito; não deixar você se entregar a alguém que não mereça este seu sacrifício.

Somente para provar o que é a quem?! - Não, minha amiga, eu não vou deixar. Não vou permitir tal absurdo. Você ama o Jonathas, e enquanto ele não se ordenar, eu vou está lhe aborrecendo para que lute por ele, contra quem quer que seja, até contra Deus!

- Jaade, este meu rival é muito forte. E se ele escolheu este caminho, é por que foi chamado por ele que é tudo, pode tudo, sabe tudo. Até que Jonathas não é a minha outra metade. A minha outra metade, já está preparada para mim, é só esperar. E eu confio nele, por que sei que ele me ama!

- Você conhece uma coisa que se chama perdão? Então peça perdão a ele por que você vai lutar, vai tentar mudar as coisas, conquistar alguém que ambos escolheram para si. Tenho certeza de que ele vai entender perfeitamente!

- Você faz as coisas fácil demais. Para você a vida é uma fantasia; são como os contos da carochinha!

- É aí que você se engana. Eu encaro a vida como na realidade ela é! Sem fantasia, e sem medo!

- Eu não tenho a sua coragem! Eu sou muito frágil! Talvez por ser sempre muito pobre, e medrosa. Nunca tive coragem de enfrentar a vida de frente com desafio. Sempre tive muito medo de me arriscar!

Sabe? Eu sempre trabalhei para ajudar meus pais. Nós sempre passamos necessidade. Não a falta de que comer, mas necessidade do essencial para viver uma vida de pobre! O mínimo para ter uma vida digna, com um pequeno conforto.

Nunca pensamos em grandes coisas, mas o suficiente para viver. Depois que meu pai ficou doente, impossibilitado de trabalhar, eu fui para a cidade tentar ganhar o sustento deles, principalmente ganhar dinheiro para seus remédios. Mas as coisas não melhoraram muito, a ajuda que eu dava, era pouca; por que nunca tive um bom emprego!

Foi quando aconteceu!... Bem, isso não tem importância agora!

- O que aconteceu, Jessika, por favor, conte-me tudo, quem sabe eu posso ajudá-la. Pelo menos servirá para você desabafar!

- Não querida, eu não quero falar neste assunto!

- Por que não, foi tão ruim assim?

- Eu não sei se foi ruim. Até que em alguns momentos fui feliz!

- E o que fez você desistir desta felicidade? O Jonathas? Pelo que sei você foi muito feliz ao lado dele. Até chegou avançar na intimidade, mais do que devia!

- Jaade, quem lhe contou isso?

- Não importa quem me contou. Mas foi verdade, não foi?

- Realmente, um dia nós exageramos um pouco!

- Um pouco?

- Bem, quase ultrapassamos os limites. E não fui eu quem evitou que tudo acontecesse, foi ele.

- Não diga?!

- Foi então que desconfiei que existisse algo muito mais forte, mais importante na vida dele do que eu. E não estava enganada.

A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. XIX

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 08/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4129495
Classificação de conteúdo: seguro
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