a cortezã virgem - Cap XV
A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. XV
Eu acho que você tem razão, Jaade. Eu realmente não estava preparada para isso. Eu vim par cá, apenas para trabalhar. Não sabia o que ia fazer, nem para quem ia trabalhar.
Fui recomendada por alguém, e este alguém era a pessoa que tramara a minha vinda para aqui. O meu destino estava traçado, mas o que elas não sabiam era que eu era virgem!
- E agora Jessika, o que você vai fazer? Como vai se portar diante dos seus amigos freqüentadores? Vai continuar como está? - Não acredito que você consiga manter-se...
- Conseguirei sim. Ou melhor, de uma coisa você esteja certa, ás coisa vão mudar!
- Eu temo por isso!
- Não se preocupe minha amiga, apenas me ajude!
- Você sabe que pode sempre contar comigo!
A partir daquele dia as coisas mudaram realmente! Jessika resolveu assumir a vida que a levou a sair da sua cidade.
Uma tarde Jessika estava á fresca da tarde no largo da Piedade. Ao longe alguém a observava com extrema curiosidade, mas não se atreveu abordá-la, dado o seu estado meditativo.
Uma coisa que o chamou a atenção, foi o luxo que ostentava. Admirava aquela fisionomia doce e calma. O olhar límpido e sereno. Via o gesto quase infantil. O sorriso meigo e a atitude singela e modesta.
O seu pensamento impregnado de desejos lascivos arrastava-o para junto dela.
Só depois de algum tempo, percebeu que ela não estava só, e lembrou-se já tê-la visto na festa da Piedade, e que foram ligeiramente apresentados.
Então conseguiu recompor alguns fragmentos daquele pequeno diálogo que tivera com ela.
Eu estava muito preocupado! Havia chegado naquele dia do Rio de Janeiro, pensou ele: “Então ela perguntou-me: - Há muito tempo que está na Bahia? De uma vez que o senhor não é daqui!”
- Há pouco mais de um mês. Cheguei justamente no dia que a vi pela primeira vez!
- Dava para ver. O senhor estava justamente como eu!
- Não entendi, o que a senhorita disse; como eu! Foi neste momento que Joice pediu-a que a acompanhasse e eles não se viram mais. Mas no pensamento deles ficou a lembrança daquele encontro, e agora eles estavam um diante do outro, e poderiam terminar a conversa que estavam tendo naquele dia.
Quando ela olhou para ele o reconheceu, temeu que ele a abordasse justamente naquele momento que estava tão perturbada.
Então Jaade chamou-lhe a atenção para o cavalheiro que a olhava insistentemente, e perguntou-lhe: Lembra-se dele Jessika?
- Lembro-me! Fomos apresentados na festa da Piedade!
- Bonito, não acha?
- Realmente, é um belo rapaz! É filho de Pernambuco!
- Um! Que memória!...
- Não nego que ele me impressionou naquele dia, mas foi cortada violentamente aquela aproximação. Depois não o vi mais. E com os acontecimentos, tudo ficou no esquecimento. Não esperava encontrá-lo mais, mesmo por que ele estava de passagem pela Bahia.
Jessika, ele se aproxima, disse Jaade! O que eu faço, saio ou fico aqui perto de você?
- Não se atreva a me deixar sozinha!
O rapaz se aproximou, e perguntou-lhe: Permite-me uma palavrinha senhorita?
Jessika olhou para o rapaz, meio desconfiada, mas com curiosidade pensou: “O que ele teria para lhe dizer, que pudesse lhe interessar naquele momento? Mas por educação, perguntou-lhe; O que deseja falar-me senhor?”
- A senhorita não se lembra de mim? Fomos apresentados na festa da Piedade!
- Lembro-me sim!
- Fomos interrompidos, antes mesmo de nos conhecer melhor, não é verdade?
- Realmente! Mas agora creio que não haverá nada que impeça!
- Se o senhor pensa assim, e considera tão importante! O que tem para me dizer?
- Bem, não seria exatamente algo especial. Apenas a sua imagem não me saiu do pensamento, desde aquele dia. Eu já havia perdido a esperança de revê-la, por que não tinha a menor idéia onde procurá-la!
- E por que queria procurar-me?
- Por que fomos interrompidos aquele dia tão bruscamente, como já disse, e creio que ficou algo á dizer. Como pro exemplo: Eu fiquei impressionado com a senhorita...
- Jessika!...
- Jessika? Quer lindo nome! Poético, pode dizer!
- Obrigada, senhor!
- Obrigado eu, senhorita!
- Bem, podemos resolver este problema visitando-me!
- Posso?
- Sim, sim. Está ótimo! Apenas não sei aonde mora?
- Realmente! Havia me esquecido que o senhor desconhece o meu endereço!
O endereço foi dado ao rapaz que cheio de alegria, afastou-se da moça pensando no que seu amigo havia falado ao seu respeito. Ele não podia acreditar que aquela figura angelical; poderia esconder uma vida irregular como havia dito o seu amigo.
Ele começou a se lembrar da conversa que teve com seu amigo: - Você a conhece, perguntou ao amigo?
- Intimamente!
- Tem certeza de que ela é mesmo o que me disse?
- Duvida, vai vê-la na sua casa!
- Mas como posso ir até ela?
- Pensei que ela fosse uma destas moças que precisasse fazer a corte!
- O tempo necessário para abrir a carteira, ou mostrar-lhe o seu saldo bancário!
- Você não está sendo muito duro, ao analisá-la? Pois ela me pareceu muito diferente!
- Engana-se meu amigo! Estas borboletas são todas iguais. Dando-lhe azas, elas fazer-se de difíceis da apanhá-las!“
Enquanto se aprontava para o encontro, Álvaro pensava nas palavras duras que o amigo havia dito!
E se ele tiver razão? Se ela for mesmo uma destas moças caça dotes?
As horas passavam, e ele continuava pensando o que fazer... Se descobrir que a sua Jessika fosse uma mulher fácil, uma cortesã!
Aquela lembrança da conversa que teve com seu amigo o desagradou por que o fez ridículo! Tinha uma vaga desconfiança pelo tom do convite que Jessika o fizera para ir a sua casa!
Á noite, na hora marcada, Alvaro se fez anunciar. Foi a Jaade que o recebeu. Procurou deixá-lo á vontade, enquanto Jessika se aprontava para recebê-lo.
Foi uma noite agradável. Falaram de família, de tudo. Nenhuma palavra, gesto que pusesse dúvida!
Depois de um par de horas, Alvaro pediu licença para se retirar.
- Já vai, perguntou Jessika!
- Não posso me demorar muito, mas se me permite volta outro dia.
- Gostei muito da sua visita!
- Então até amanhã!
Alvaro apertou-lhe a mão suavemente!
O rapaz foi embora, e Jessika permaneceu ali pensando!
O que foi Jessika, perguntou Jaade. Não está se sentindo bem?
- Estou muito bem! Apenas desconfiada que este rapaz tenha algo muito importante para me falar ou perguntar! Algo o preocupava você não notou? - Sinceramente, não! O achei muito gentil, e educado!
- Sem dúvida! Alguma coisa não estava bem para ele!
- Talvez seja impressão sua!
- Veremos, veremos!
- No dia seguinte, Alvaro voltou. Jessika dedilhava um pequeno bandolim!
- Não para minha cara disse Alvaro. Continue!
- Ora, eu não quero ferir-lhe os ouvidos com estas notas desafinadas.
Esta é uma velha canção que meu pai gostava de tocar no violão. Eu sempre tento tira-la no bandolim, mas de ouvido, pois não conheço uma só nota musical.
- Não conhece uma nota musical, mas conhece umas notas amarelinhas, garanto que conhece muito bem. Quando tem que cobrar as noitadas de algum otário, pensou Alvaro. Que imediatamente se envergonhou de ter pensado uma coisa desta da sua amada!
Teve ímpeto de voltar imediatamente, sem mesmo trocar uma palavra com ela. Não se perdoava de sua estúrdia ingenuidade!
Mas se ela for mesmo uma moça daquelas, o que tenho a perder!
Como passou de ontem? Já que a minha segunda visita não demorou acontecer!
- Eu gostei que fosse assim. Compensa a pouca demora da primeira!
- Pensa assim realmente?
- Não costumo mentir, meu caro. É uma virtude que ainda preservo da minha infância! Meu pai nunca permitia a mentira!
- Fala sempre a verdade, quando inquirida, Jessika?
- O que deseja saber? Pergunte, eu lhe falarei sempre a verdade. - Obrigado, minha amiga!
- Obrigada de que Alvaro?
- Da sua sinceridade!
- Mas peço-lhe desculpas!
- Desculpas de que?
- Por ter fingido não o ter reconhecido ontem!
- Reconheceu-me então?
- Logo que o vi. O reconheceria em qualquer lugar, e em qualquer tempo.
- E por que fingiu não me reconhecer?
- Tive medo!
- Medo?! De mim?
- De mim! Não me esqueci do nosso primeiro encontro!
Alvaro quis abraçá-la, mas Jessika furtou o corpo do seu abraço.
- Eu também não me esqueci um só momento de você!
- Então diga como me vestia!
- Como poderiam esquecer-me, se era a mais linda entre todas!
Exceto daquela que a levou de mim!
- Não gostei! Tinha alguém mais bonita de que eu para você!
Jessika disse isso com um trejeito de gata manhosa, mas brincando é claro.
- Você tem razão, Alvaro. Não existia ninguém que superasse sua beleza e classe!
Jaade apanha o chapéu do senhor Alvaro, ele está de saída! Por favor, o acompanhe até a porta!
- Jessika!
- Boa noite; senhor!
E sem mais uma palavra, deixando o rapaz atônito, parado no meio da sala.
Jaade entregou o chapéu ao rapaz, com suas desculpas!
- Senhor Alvaro o senhor tocou num ponto muito delicado. “A Joice”!
- Joice? E quem é Joice?
- Por favor, poupe-nos desta explicação!
- Duvido muito senhor, mas aguarde algum comunicado.
Uma semana se passou, e Alvaro não teve notícia dela. A casa foi fechada para qualquer tipo de reunião, ou atividade!
Uma noite, depois do jantar, Jessika foi ao lago. Era ali aonde encontrava um pouco de paz.
Mas que paz ela precisava? O que passava ainda pela sua mente? Será que o desaparecimento de Joice tenha abalado tanto sua vida, que ela não consegue se erguer, nem mesmo encontrando um homem como o Alvaro? Qualquer mulher ficaria feliz em encontrar alguém como ele; principalmente demonstrado que a amava!
Era isso que Jaade estava pensando enquanto ia ao seu encontro no lago. Ela tinha medo de deixá-la sozinha naquele lugar, que apesar de ser maravilhoso, tinha algo de sinistro!
Aquela água mansa na superfície, e embaixo uma correnteza terrível.
Não se sabe aonde vai desembocar. É um mistério, que ainda não se conseguiu uma resposta certa, a não ser o que afirmou o geólogo!
Mas por que será que ele fascina tanto a Jessika? Será que ela tem intenção de descobrir, com apenas um subterfúgio para pôr fim na vida? Será que esta tentação tem alguma coisa a ver com a Joice?
Meu Deus, se assim é, ela corre perigo de vida!
Jaade assentou-se na grama perto de uma luz que iluminava o jardim, e ficou observando Jessika, que em pé, com os lhos pregados no lago, não mexia um só músculo.
De repente ela notou que parecia que ala se preparara para entrar no lago, mas como se estivesse sonâmbula. Era como se conversasse com alguém, e atendesse o seu chamado! Então Jaade a chamou como se estivesse chegando naquele momento: - Jessika, você vai entrar no lago há esta hora? Mas ela não a ouvia. Parecia que estava hipnotizada, ou sabe lá o que!
Então Jaade correu e pegou no seu braço e sem falar nada puxou para traz e novamente perguntou: - Você ia entrar no lago há esta hora?
- Não, Jaade, eu ia apenas molhar o pé!
Molhar o pé, calçada? Pensou Jaade!
- Jessika, eu preciso de um conselho seu. Eu vou encontrar o Alvaro. Eu precisava que você me aconselhasse; o que devo vestir!
- Você vai encontrar o Alvaro? Por quê?
- Ele pediu que eu o encontrasse hoje ás oito horas na Piedade!
- Você pretende ir sozinha, não acha um pouco inconveniente, querida?
- Não. O Alvaro me pareceu um rapaz muito respeitador, e responsável! Você não achou isso?
- Realmente, uma ótima pessoa!
- Você não quer ir comigo, Jessika. Agora que você falou, fico pensando se não é imprudência minha!
- Bem Jaade; não sei se devo atrapalhar o seu encontro com o rapaz!
- De maneira nenhuma, você vai atrapalhar, eu ficaria mais segura! Não por ele, mas encontrá-lo as sós, creio que não ficaria bem para mim!
- Está bem, se você faz questão!
- Eu faço questão, e não a perdoaria se me deixasse ir sozinha. Afinal, você não é minha protetora?
- Protetora, eu? Eu não protejo nem a mim mesma! Você sim, que é meu anjo da guarda humano!
- Anjo da guarda! Está bem, então aproveitemos e compremos um par de asas. Aonde se viu um anjo sair por aí andando. Ele tem que voar. - Então Jaade, diga o que você quer de mim. Você quer me distrair, não é mesmo?
- Você entende Jessika. É isso mesmo. Eu não suporto mais esta sua vida. Esta sua desilusão. “Meu Deus, Jessika, você tem que arranca de dentro de você esta obsessão. Minha querida, a Joice morreu. Entenda isso. Você nada mais pode fazer por ela, a não ser; ser feliz!”
Sabe o que penso? Você que me desculpe ou me castigue se quiser, mas você está sendo ingrata com ela, Não fazendo aquilo que ela mais desejava e pediu para você fazer. Ser feliz!
Por que você acha que ela deixou toda sua fortuna para você, com apenas um pedido, ou quase uma exigência? Não foi o seu último pedido até mesmo depois de morta, segundo suas palavras, para você “Ser feliz?” Ela não pediu que você fizesse nada. Construísse. “Apenas fosse feliz! Por que isso? Por que ela só pensava na sua felicidade. Ela vai viver em você. Mas feliz, porque infeliz ela já o foi bastante enquanto viveu. Você deve isso a ela seu último pedido. Pense bem!”
- Nós já discutimos isso uma vez. Agora, querida, esqueça a Joice e viva. “Sabe Jessika eu não estou pedindo que você a esqueça. Não! Porque seria quase impossível. É claro que você não pode esquecê-la! Deve sim se lembrar dela sempre; mas da maneira certa: Lembrando nas suas orações e principalmente atendendo o seu pedido. Aquilo que ela mais desejou tanto na vida como depois de morta. Que você fosse feliz”! Por que ela só será feliz onde ela estiver se você for também”
Agora me desculpe, mas não é justo o que você está fazendo com aquele pobre rapaz. Não viu que ele a ama? Não sabe que ele está passando por uma situação difícil diante da sociedade?
Você talvez não tenha avaliado a nossa posição diante da sociedade. Esta sociedade podre, e que nos uma retidão de caráter, quando eles mesmos os desconhecem.
Eles vêm aqui se divertir. Mas nos ignora, e nos repudia, e se necessário, ameaçados, nos condena!
Mas você, Jessika, ainda é tempo de se redimir, de fechar a casa, casar-se, e até ser um deles! Você tem tudo para isso: “Dinheiro” posição social, que pode ser comprada.
Você é uma moça melhor do que muitas que se passam por donzelas respeitáveis, quando no fundo, só Deus sabe o que são! E nós também sabemos das vidas de muitas delas, e tripudiam em cima de nós.
- Mas eu conheço todos os lados desta sociedade. Já estive do outro lado. Creia querida, eu não troco por nada este lado, por que nós somos autênticas. Não nos escondemos atrás de uma fachada!
- Agora é você que me assusta, Jaade! Quanta revolta no seu coração, minha amiga!
- Não. Não é revolta, Jessika. É uma constatação de um fato. Apenas, quero que você pense antes de fazer qualquer asneira. Lembre-se de que esta vida, não é a maravilha que pensamos que ela é. Basta sermos atingidas pela fatalidade de nos apaixonar por alguém do outro lado!
E este rapaz, é do outro lado, e você pode passar para o lado dele se quiser. Mas se tiver coragem pode trazê-lo para o lado de cá. E se isso acontecer, é por que ele realmente a ama. E para quem ama, não existe lado oposto. O lado é aquele do qual nos encontramos, e lá está aquele que realmente escolhemos para ser nossa metade. Pode até esta metade ter alguns pedaços estragados; mais não podre. Mas esta é a nossa metade!
Até podemos nos arrepender de não ter tentado escolher uma metade sem defeito, ou então renunciarmos a tudo com coragem de não nos arrepender da escolha que fizemos!
Eu escolhi este lado, e creia que; embora possa ter escolhido mal, não me arrependo, principalmente depois de ter conhecido a Joice e você! Duas situações diferentes, mas sinceras, por opção!
- Por que a Joice?
- Pela sua fibra! Fez com que aqueles que tanto a desprezava, se arrastassem aos seus pés, e não escolheu a nenhum deles, dando preferência a alguém que os desprezavam também, e os consideravam “Túmulos caiados”! Por isso minha amiga, não tenha compaixão de quem não lhe dá o devido valor. Mas por favor, não tente se vingar, ou prejudicar alguém; que pode fazê-la feliz, mesmo com certas exigências.
A felicidade é algo muito caro, e não se adquire sem conquista, e até com sofrimento!
- Por que você está falando tudo isso Jaade? - Por quê?! Para que você não deixe escapar a felicidade pelo meio dos dedos. E creia que ela não está no fundo daquele lago... Disto, você pode está certa, minha amiga!