A CORTEZÃ VIRGEM -Cap- XIV

A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. XIV

Jaade subiu, e com um leve toque na porta anunciou a chegada de Rogério.

- Diga que já vou descer, por favor! Quando Jessika desceu, e chegou à sala Jaade ia saindo. Então Jessika perguntou: - Aonde vai, Jaade, por que me deixar sozinha aqui a mercê deste aqui?

- O que a senhorita falou? Perguntou Jaade meio assustada.

- Você confia deixar-me sozinha com ele? E a sua responsabilidade de proteger-me?

- Eu não estou entendendo, Jessika, você está falando umas coisas estranhas. Se me permite eu vou para o meu quarto!

- Permito sim, se é isso que você deseja!

- Sabe Jessika, eu não estou sabendo como me comportar aqui na sua casa. Hoje de manhã você era uma pessoa. Depois que fomos á casa de madama Dez; e você acertou a minha vinda para cá, você é outra pessoa. Eu não estou sabendo me colocar. Se como uma simples empregada, uma amiga, ou sei lá o que!

- Jaade; vamos mudar de assunto. Eu já disse que depois conversaremos.

- Rogério, eu gostaria de pedir uma opinião de vocês! Onde está Zuleica? Chame-a!

Gostaria de fazer uma mudança no comportamento da casa.

Nos tipos de reuniões. Em fim, uma mudança geral. O que vocês acham? Primeiro você Jaade!

- Não sei Jessika. Seria melhor que você dissesse o que pretende fazer. Então nós poderemos dar a nossa opinião!

- Realmente; Jaade tem razão disse Zuleica! Apenas não estou entendendo esta atitude tão formal disse Rogério!

- Por que quero que cada um faça o seu serviço melhor que poder, para ter direito de reivindicação!

Jessika, eu a aconselhava uns dias de descanso. Você está nervosa. Não só nervosa, como perturbada, e por que não dizer, revoltada! Se você não se controlar vai ter outra crise como aquela que teve!

- Crise? Que crise, Rogério?

- Olha Jessika, você está com os nervos á flor da pele, e isso não é bom para o seu estado de saúde.

Por que você não me conta exatamente o que aconteceu naquele dia. Precioso saber dos detalhes!

- Ora Rogério, você está vendo fantasma! Não existe nada de anormal comigo. E depois eu não estou nervosa. Que mania de vocês dizerem que eu estou nervosa!

- Quem disse que você está nervosa?

- Vocês. Todos vocês!

Bem, a reunião está terminada. Até amanhã Rogério!

- Jessika, ouça uma coisa: “Eu não sou seu empregado”. Sou o seu médico. Se você não está satisfeita com o meu serviço, apenas diga que deixo sua casa agora, e você pode procurar outro médico!

Jessika levantou-se como ia tomar uma decisão. Mas Jaade levantou com ela, pegou no seu braço, e disse: - Jessika tem razão, a reunião terminou. Quase que a arrastou para cima, antes que ela fizesse alguma coisa, da qual viesse se arrepender amargamente! Rogério antes de ser seu médico, é seu amigo, pensou!

Jaade fez com que ela deitasse um pouco, mas apenas recostou na cabeceira da cama, e ficou ali sem dar uma palavra, sem mover um músculo.

Jaade desceu e foi falar com Rogério: - Meu Deus, Rogério, o que está acontecendo com ela, e com você? Não percebe que ela não está bem? Por que brigar logo agora que Jessika está precisando de nós!

Mas eu não estava brigando; apenas estava dando um chacoalhão para acordá-la. Despertar desta alucinação que ainda está sobre o efeito!

- Alucinação? Que tipo de alucinação, Rogério? Será que é com o que ela viu no lago? Se ela viu alguma coisa mesmo, não será como você disse; alucinação!

- Não sei Jaade, apenas teremos que ter muita calma! Pobre amiga!

Quanto á reforma que deseja, acredito que amanhã ou mais tarde, ela vai pensar mais!

- Jaade, eu vou lhe confiar uma coisa muito séria!

- Você está me assustando, Rogério; o que é?

- Quando nós estamos com fome, enquanto não vemos a comida é fácil controlá-la. Se estivermos com muita sede, e vemos alguém beber, é muito difícil, mesmo tentando controlar a sede. Poderemos ficar até violentos, dependendo do lugar!

- Eu não estou estendendo o que você está querendo me dizer!

O que tem a ver isso com Jessika?

- Ela é uma mulher, com muita saúde, e como tal, tem as suas necessidades sexuais. Foi resistente enquanto se viu a margem do sexo. Mas agora ela está tendo contato com ele quase que diretamente. Vendo, assistindo!

Como que você acha que está seu metabolismo? Como você se sentiria assistindo algo assim? Não se esqueça de que você satisfaz sua necessidade quando quiser. E ela?

- É Rogério, você tem razão. Pobre amiga! E como ela vai se arranjar?

- Não sei. Isso é um problema. Ela terá que se casar!

Por que não a pede em casamento, Rogério, o que está esperando?

- Eu? Pedi-la em casamento? Você enlouqueceu?

- Não, não enlouqueci, eu sei que vocês se gostam!

- Nós já conversamos sobre isso. É uma asneira da sua cabeça. Nós somos apenas bons amigos. Não poderia haver nada entre nós! Não? Porque não?

Por dois motivos: “Primeiro, não há amor, carinho, nada que nos identifique! Você entende isso? É capaz de entender? Por acaso você já amou alguém?... Não, minha amiga. A ferida está ainda aberta; não cicatrizou. Eu ainda estou sofrendo; doe muito sabe, e depois eu não quero me apoiar nela; mesmo que eu quisesse, eu não poderia. Por enquanto é impossível! Mesmo por que a teríamos sempre entre nós!”

Depois existe um grande detalhe que você desconhece, e vai continuar desconhecendo, por que é um grande segredo o qual não posso compartilhar com ninguém, Porque ele não é só meu!

Apenas fique sabendo que a saudades é muito grande; vai ser muito difícil esquecê-la.

E eu não quero esquecer! Eu a amava demais. Você não pode imaginar o que é amar uma pessoa como Joice! O seu serviço! Não era fácil aturar aquelas reuniões. Esperar terminar a reunião, para poder ficar um pouco as sós com ela. Depois a canseira, os aborrecimentos, por suportar aqueles amigos idiotas que vinham lhe fazer a corte!

Não minha amiga, eu já não estava mais agüentando. Estava quase para desistir. Se não fiz, foi por que num exame, eu percebi a sua doença! Tentei adverti-la, para que deixasse este serviço, e cuidasse da saúde.

Um dia ela me disse: - “Logo, logo eu vou parar. É só encontrar a pessoa certa para ficar aqui no meu lugar, e também na casa de Dez.”

Eu vou a São Paulo, e se a pessoa que tenho em vista, eu conseguir trazer, eu vou fazer aquilo que você quer, e eu também!

Mas quando Jessika chegou aqui, depois dela ter feito quase o impossível para conseguir trazê-la, já era tarde demais, ela sabia disso. Eu não sabia que ela conhecia o seu estado de saúde. “Meu Deus, Jaade, como sofri. Vocês leigos não conhecem o estado de uma pessoa, e espera que nós médicos tenhamos a obrigação de curá-los; principalmente alguém como Joice era. Bonita, aparentemente saudável, não tinha por que não a curássemos. Não passava pela cabeça de vocês que ela pudesse morrer de uma hora para outra, ou então morrer para o mundo!...”

- Morrer para o mundo? Como assim, Rogério?

Esqueça Jaade o que disse. Ela morreu para todo mundo, menos para mim!

Eu sabia que era uma perda de tempo ir para o exterior. Mas também, não podia deixar de tentar este último recurso! Mas eu sabia que ela tinha menos tempo de vida lá do que se tivesse ficado aqui! Mas Joice não queria morrer aqui junto de Jessika, e principalmente dos amigos!

- Então ela conhecia o seu estado de saúde que era muito grave?

- Sabia. Joice era uma pessoa extraordinária, corajosa, e sobre tudo muito humana!

- Sabe, Rogério, eu nunca entendi por que ela fez Jessika sua herdeira universal!

- Porque não tinha parentes; seus pais morreram passando necessidade. Então ela prometeu que faria uma família feliz.

Ampararia na velhice, o que não pode fazer pêlos seus pais. Então ela procurou encontrar na família de Jessika a sua família. E depois ela gostou muito dela. Embora ela não a conhecesse bem. Foi uma paixão a primeira vista.

Foi numa viagem que fez e a conheceu. Ficou sabendo da luta que ela tinha em São Paulo para ajudar sua família. Então a procurou, e de uma forma até muito estranha, conseguiu trazê-la para cá. O que ela não contava é que a menina fosse virgem. Ela precisava de alguém que a substituísse na casa de madama Dez, por que queria sair de lá.

Joice gostava muito de Dez, e não queria deixá-la em falta. Mas quando Jessika chegou você já tinha vindo. Então ela propôs a Dez, leva-la para sua casa. O que ela não contava era que Jessika não podia substituí-la, ajudá-la por ser virgem, mas Jessika disse que a casa não iria sofrer sanção de continuidade, que deveria continuar funcionando como antes, mesmo não tomando parte diretamente! Então encontramos uma maneira de manter afastados os indesejáveis, fingindo um relacionamento entre eu e Jessika!

- Ah! Então foi isso? Eu desconfiava, não entendia como você havia esquecido tão rápido aquele amor que tinha pela Joice!

- Você pensa que foi fácil para mim? Não, minha querida, não foi nada fácil aceitar esta situação; amando-a como eu a amava!

Situação? Qual situação?

- Bem... Esta simulação! Mas devo ir embora; não quero conversar com Jessika, ela neste estado!

Realmente, é melhor deixar para outra hora. Mas por favor, não a deixe, ela precisa de você neste momento!

Depois que o Rogério foi embora, Jaade ficou sem saber o que fazer. Não tinha coragem de procurá-la. Jessika estava muito nervosa, e poderia maltratá-la.

Zuleica disse-lhe: “Jessika está chamando”. Jaade ficou pensando ainda um pouco, o que ela queria! Precisava se revestir de calma por que não sabia como seria recebida. Precisava se conter, mesmo que ala a maltratasse.

Bateu na porta levemente com as pontas dos dedos: esperou que ela mandasse entrar!

Entre, Jaade disse: Por favor, me ajude a trocar de roupa! Disse logo que a viu entrar no quarto!

- Você pretende sair? Não seria melhor deixar para amanhã? Você está tão nervosa!

- É por isso mesmo que preciso sair!

- Aonde você pretende ir?

- Aonde nós vamos!

Jaade não falou mais nada a ajudou trocar de roupa.

- Agora vai trocar de roupa também. Vamos dar um passeio!

Quando Jaade voltou, ela estava recostada novamente na cama com roupa de dormir!

- O que aconteceu Jessika, desistiu do passeio?

- Desisti, não vou sair. Se você quiser pode ir.

- Não, eu não quero sair... Jessika, o que está se passando com você? Por que está agindo assim, não está se sentindo bem?

- Estou bem, não se preocupe! Sente-se aqui, por favor. Estou precisando conversar com alguém que possa me entender!

- Está bem, minha amiga. Desculpe-me, eu não sei se ainda posso chamá-la de amiga por que você é...

- Eu ia ficar muito triste se não a tivesse mais como minha amiga! Mas por favor, tenha um pouco de paciência comigo por que eu estou muito mal, depois destes acontecimentos!

- Saudades da Joice, não é?

Não, não é a saudades! Como posso ter saudades dela, se a vejo quando quero!

- Você a vê?

- Sim, eu a vejo. Mas você não acredita!

Sabe Jessika, eu acredito que você esteja sentindo falta dela. Eu entendo por que você não pode imaginar como estou sentindo a sua falta! Não sei como iria sentir ficando longe de você agora. Desculpe-me Jessika, mas eu aprendi amá-la. É imprescindível para mim a sua amizade agora! Eu não tenho ninguém aqui que eu possa repartir meus momentos de dor, e de alegria. Encontrei em você quando tinha o mesmo destino que eu; então estávamos na mesma situação. Mas agora é diferente, você agora é...

A mesma pessoa de antes, minha querida, apenas passando por um momento muito difícil e precisando muito, muito de uma amiga como você que está sofrendo na carne o mesmo que eu sofro apesar de ser rica agora. Mas esta riqueza não me pertence. Mas isso é outro problema! O que importa agora é recuperar a coisa mais importante que eu tinha; a amizade de vocês, principalmente a sua. Por isso mais uma vez eu lhe peço um pouco de paciência comigo!

Você sabe querida, que pode confiar em mim. Na minha amizade e lealdade. E digo-lhe ainda; de todos que moram e trabalham nesta casa.

Naquele dia, Jessika não saiu mais do quarto. Tinha uma reunião á noite. Vinha uma visita muito importante, vinda do Sul. Então Jaade perguntou-lhe: - Você se esqueceu da reunião?

Não, eu não a esqueci.

Você vai descer?

- Não Jaade, eu tenho um compromisso muito importante esta noite.

- Visita, hoje á noite?

- É sim!

- Mas você estará ocupada com aquele visitante!

- Você fará as honras da casa. Não será capaz?

- Claro. Mas o que vou dizer a ele, que você está doente? Pedir para ele vir outro dia?

- Não Jaade, você será a anfitriã.

- Está bem, está bem! Quem não está bem é você. Eu não estou lhe entendendo. Você não me falou desta visita inesperada. Quem é tão importante? O Rogério sabe?

- Não. Ele não sabe. Está bem, eu vou me preparar para receber o nosso visitante do Sul! - Isso mesmo, ele precisa ser bem recebido. Peça para o Rogério ajudá-la esta noite, e peça desculpas para o senhor Borges. Ele é muito importante para os nossos negócios!

Jaade desceu preocupada. Pediu a Dona Zuleica para mandar chamar Rogério, e não deixar Jessika sozinha.

Quando Rogério chegou, Jaade contou-lhe tudo o que havia conversado com Jessika, e falou do seu comportamento, o que preocupou muito Rogério!

- Eu vou falar com ela. Mas não deu tempo, pois ela desceu e o encontrou no pé da escada!

- Ia me visitar como médico, ou como amigo?

- Depende. É de se preocupar; nos aposentos uma hora desta do dia.

- Eu precisava meditar um pouco!

- Isso é muito bom, mas eu não posso ficar muito tempo, tenho uma visita de urgência agora, eu volto depois. Vai precisar de mim?

- Eu não, mas a Jaade sim! Conversa com ela!...

Não parece aquela que estava a pouco no quarto, pensou Jaade.

Alguma coisa está acontecendo! E é grave!

Diga-me uma coisa Jessika, você vai ao encontro desta pessoa naquele lugar? Minha querida, não se zangue comigo, mas aquilo que você viu na água foi apenas uma alucinação. Uma visão, ou mais ainda; o enorme desejo de vê-la; nada mais de que isso! E fique sabendo de uma coisa. Você nunca mais a verá!

- Foi o que ela me disse! “Nunca mais você me verá. Eu estou bem, Viva feliz” Foram estas as últimas palavras dela!

- Ela lhe disse isso? Você não quer me contar o que mais conversaram. Como foi exatamente este encontro?

- Se você não acredita, por que falar neste assunto? Mas é bom falar aquilo que acreditamos que vimos, e o que ouvimos!

- Está bem Jaade: “Foi naquela noite que ficamos conversando nos meus aposentos e adormecemos. Mas tarde acordei, e como você estava dormindo tranqüilamente, não quis acordá-la. O sono não vinha; apesar de ser muito tarde, levantei-me e fui para o jardim.”

Estava muito quente como todas as noites nesta época aqui na Bahia. Mas você sabe que no jardim sempre se consegue tomar a fresca da noite. O lago parecia um mundo encantado! As estrelas que pontilhavam o céu; pareciam que podiam ser tocadas com minhas mãos. A lua tremulava entre os ramos que também vinham enfeitar aquele mundo encantado!

Não sei por quanto tempo fiquei ali parada, admirando aquela maravilha. Pendia um ramo para o lago, e nela uma flor, dava um toque encantador. Era como um mundo encantado! Tudo falava a minha alma. “Poesia e versos de amor”. Eu não podia ficar longe daquela maravilha. Eu queria tomar parte, ser também uma peça de encantamento daquele mundo. Eu precisava entrar lá... Foi quando daquela flor, uma pétala se desprendeu e caiu no lago.

- Já sei, disse Jessika: “Formou um círculo, e dentro dele apareceu uma figura de uma mulher que você a identificou, parecendo a Joice!”

- Não Jaade, não parecia. Era ela mesma. Falou comigo! Disse coisas maravilhosas. Disse que estava muito feliz, mas quando eu pedi que me levasse com ela, disse-me que não. Ela falou também que eu nunca mais ia vê-la, mas que estaria sempre no lago. Ali era agora a sua morada!

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 04/02/2013
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