A CORTEZÃ VIRGEM Cap. XI.
A CORTEZÃ VIRGEM – Cap. XI
viu. Nós sabíamos que íamos ferir os seus sentimentos. Nós controlávamos tudo até o momento da renúncia dele, e creia que não foi fácil, por que ele estava gostando de você, e aí estava o perigo de perdermos o controle da situação, dos sentimentos dele. Mas conseguimos, felizmente!
- Então não preciso contar-lhe mais nada por que você já sabe tudo!
Não minha cara, tem uma ponta aí solta! Você disse que amava alguém em Serrania, quem é?
- Eu não escondi isso de você. Eu já lhe disse quem era!
Não me recordo! Quem é?
- O Jonathas!
- Jonathas?! O padre?
- Ele ainda não é padre, apenas seminarista!
- E isso lhe dar esperança!
- Talvez! Mas ele se ordena ainda este ano!
- Então você tem razão, deixe o Jonathas em paz!
- Jonathas!... Padre... Como você sabe disso, Joice?
- Você não disse que já havia me dito?
- Não importa agora, o melhor é passar uma borracha no passado. Em tudo. Até mesmo no caso Helhinho!
- Isso mesmo, até o caso Helhinho!...
Você sabe que eu conheço toda a história entre você e ele. Apenas não conhecia detalhes. Desculpe; afinal não foi o fim do mundo! Foi apenas um episódio da vida de alguém. E este alguém infelizmente foi você. Mas creia que episódios como este acontecem todos os dias, e com graves conseqüências, e sem um final feliz! Depende apenas de você. Por isso meu amor; seja feliz, e me faça feliz também! E pelo amor que tenho por você, tente esquecer tudo aquilo que eu a fiz sofrer; se isso for possível. Mas não estou lhe dizendo para não lutar pelo seu amor, se ele for muito importante para você, lute até com este grande rival que é “Deus”. Ele a compreenderá!
- Não Joice, a minha vida agora é aqui, e tudo que possa me acontecer de bom ou de mal. É como você mesma disse; passar uma borracha no passado, e viver o presente; e colocar o futuro nas mãos de Deus. E é isso que estou fazendo porque a ele o futuro pertence.
- Jessika, é isso mesmo que você quer? Pense! Isso não terá volta!
- É isso que quero, e não quero falar mais no assunto. Desculpe-me, Joice, mas eu realmente quero esquecer!
- Está bem se é assim que...
- É assim, atalhou Jessika!
Naquele dia as duas não conversaram mais. Joice havia marcado uma reunião, para comunicar aos seus amigos, que a casa deveria passar por uma reforma, e não podia receber ninguém!
Naquela reunião, Jessika compareceu, por que Jaade também compareceu, e fez questão da presença dela, logo que aquela seria a última reunião.
Foi um verdadeiro sucesso: O Alberto como sempre indiscreto que é, comentou: - Veja, temos uma companhia nova. Joice estava guardando para um dia especial. Vai nos contar o que é Joice? O que tem de especial para nos contar, ou apresentar?
Guarde sua curiosidade meu caro, na hora certa você saberá!
- Então, temos novidade mesmo!
- Não tenham dúvidas!
A noite estava linda; a lua brincava de esconde, esconde entre as ramagens das árvores que rodeavam o jardim.
Uma suave brisa arrepiava as copas das árvores. Jessika distraidamente passeava entre as plantas bem cuidadas do jardim; rodeado por um lago, com as bordas de pedras que pareciam semipreciosas! Mas era apenas a aparência. Não passava de pedras apanhadas na beira do rio. Eram lisas, pelo roçar das águas que as arrastavam beira a baixo!
Os finos dedos de Jessika brincavam com as pequenas folhas que desprendiam das plantas e caíam na água formando círculos. Uns, após outros, embelezando mais com o brilho da luz da lua.
Quando aqueles círculos terminavam, e a água parava, aparecia á lua ainda mais maravilhosa. Esplendorosa! No lago brilhava todo o céu pontilhado de estrelas como num mundo encantado!
Jessika curvou-se para apanhar uma florzinha que acabara de cair no lago, e viu a sua imagem tremulante dentro d’água.
Ela ficou parada, olhando e admirando a beleza da lua.
Nunca na sua vida havia visto a lua tão linda, como agora. Nem na sua terra com a falta de luz. Onde o céu aparece pontilhado de estrelas, tão perto que parece podermos tocá-las. Mas não tão lindo como agora!
Era a sua alma saudosa que fazia a lua transmitir toda a sua saudade.
A lua parecia materializar-se para fazer vibrar seu coração sonhador!
Jessika atirou uma pedrinha n’água, esta fez aparecer vários círculos que desmanchavam os primeiros quando os outros os alcançavam! No meio daqueles círculos apareceu a figura de um homem, que lhe falou com uma vós muito doce!
- Sonha criança, é doce sonhar! Em que pensa a doce Jessika?
- Desculpe-me Doutor, eu estava distraída, não o vi chegar!
- Não se preocupe minha cara, eu quem deveria pedir desculpas, por que vim atrapalhar a sua meditação!
- Não, nada de importante, Dr. Apenas aproveitava este momento para ficar um pouco sozinha!
- Então é um motivo a mais para me desculpar!
- Não se agaste. Foi até muito bom. Ás vezes os sonhos se tornam pesadelos, mesmo quando os tem acordado!
- Realmente, mais é bom sonhar, não deixando que eles se tornem um pesadelo! - Bem, eu vou deixá-la sozinha!
- Não, por favor, se não se importa, fica mais um pouco. Eu precisava mesmo conversar com o senhor!
- Está bem. Apenas com uma condição!
- Qual? Diga!
- Que deixemos as formalidades. Eu sou apenas Rogério para os amigos. A não ser que não deseja ser minha amiga.
- O senhor quer que eu seja sua amiga?
- Por que, você não quer?
- Mas eu não tenho este direito de ter a amizade de uma pessoa como o senhor!
- Pôr que? Você é uma pessoa como qualquer outra. Não existe ninguém melhor do que outra, mesmo sendo ele um doutor, um Juiz, um milionário; ou pobre! Somos todos iguais aos olhos do criador; este que criou isso que abalou a sua alma nobre!
- Mas é isso que eu... Bem, doutor...
- Jessika, por que você não terminou o que ia falar?
- Desculpe! Não era nada importante, apenas eu gostaria de conquistar o meu espaço nesta vida. Não importa a maneira!
- Cuidado para não se machucar!
- Depois de tudo o que me aconteceu, doutor!
- Rogério, somente Rogério, interveio!
- Está bem, Rogério! Como disse, eu gostaria de conversar com você. Preciso de uns conselhos!
Conselhos médicos, ou de um amigo?
- Se me permite; de um amigo, pois não posso pagar a consulta!
-Nós teremos tempo para isso!
- Não, Rogério, eu preciso falar com você o mais breve possível!
Você sabe que Joice pretende viajar!
Sei. Ela precisa! Sabe que ela pretende fechar a casa, terminar com as reuniões?
- Sei!
- E o que você acha disso?
- Não sei, depende de você. Ela confia na sua capacidade de continuar com os negócios. Contudo ela não pretende obrigá-la a isso.
- Mas você acha que é possível, eu posso substituí-la? O que você sabe ao meu respeito?
- Nada! Apenas que você é uma pessoa que ela confia muito, e com muita dificuldade, cuidado e cautela; escolheu para ficar no seu lugar, com todos os direitos. Até mesmo de dona, e ainda podendo resolver se fecha a casa ou deixa aberta. A decisão será somente sua.
- Está aí uma coisa que eu não consigo entender. Por que eu, e não uma mulher daqui mesmo, do seu ambiente, com experiência?
- Eu também não sei Jessika. O importante é o que você pretende. O que tem em mente!
- Era justamente isso que eu estava pensando aqui.
Jessika ficou pensando um pouco, e depois disse ao Rogério:
- Eu tenho que dar uma resposta definitiva para ela. Como vai ficar, se a casa vai continuar como antes, ou não até ele voltar.
Realmente é uma decisão muito difícil. Joice não exige isso de mim, contudo eu sei que ela espera que eu continue o seu trabalho, enquanto ela estiver fora! Você sabe quanto tempo, Rogério?
- Sei! Não, eu imagino!
- Você sabe, ou não, Rogério? Não me esconda nada, por favor! Eu tenho a impressão de que existe um motivo, e muito sério, do qual ela está me escondendo. Não sei por que; eu poderia tentar ajudá-la, e seria até mais fácil, para a minha decisão! Se ela precisar de mim, eu farei qualquer coisa para ajudá-la!
Jessika, se quiser aceitar um conselho: “Se estiver mesmo disposta ajudá-la, não espere que ela peça para você, por que ela jamais fará isso!”
- Por que Rogério, se ela disse que é minha amiga, e que confia em mim?
Por que não me contar tudo? Eu não sou mais uma criança!
- Jessika, lembre-se de que não é fácil para Joice pedir para você uma coisa desta. Você sabe qual é o seu negócio. E você há de convir de que não se pode exigir de uma amiga, principalmente na sua condição, para...
- Para o que Rogério?
- Para este trabalho!
- Por que sou virgem, não é?
- Exatamente!
- Você acha que eu não conseguiria manter a casa aberta, nas minhas condições?
- Não acredito que consiga. É quase impossível!
- Você disse bem. “Quase impossível”. Mas não é. O que poderá acontecer comigo?
- Você sabe deixar de ser o que é!
- Rogério, com sua ajuda, eu consigo!
- Com minha ajuda, por que, Jessika?
- Eu não poderia tocar a casa sozinha!
- Você terá a ajuda e orientação do advogado de Joice! Ele cuidará de tudo. Você terá apenas que assinar. Ela vai deixar uma procuração com plenos direitos!
- Uma procuração?! Rogério, você não vê que isso não da certo? Que existe alguma coisa estranha? Uma procuração com plenos direitos, eu posso fazer o que bem quiser. Fazer e desfazer de tudo, até dizimar a sua fortuna, com negócio mal feito, ou de má fé!
- Você será dona de tudo, com a falta dela!
- Não meu amigo, eu não posso. Por favor, diga que estou certa!
- Sabe, Jessika, em parte você tem razão, mas na atual circunstância, você não poderá negar. Do contrário ela terá que adiar muito sua viagem, e retardar também o tratamento, o qual já deveria ter feito há muito tempo, antes de chegar ao ponto que está!
Tratamento?! Que tratamento, Rogério? Ela está doente? E é muito grave? Ela me falou de um descanso no exterior, um pequeno tratamento.
Mas não nesta gravidade! Não pensei que fosse tão grave!
É sim Jessika, é muito grave, e quanto mais ela demorar, pior será. E poderá até não salvar! E é por isso que ela deverá viajar com muita tranqüilidade. E se você concordar, o seu aprendizado poderá demorar menos tempo!
- Rogério; tenho duas perguntas a lhe fazer!
- Faça...
- Você acha que eu devo aceitar? E eu posso contar com sua ajuda, sua orientação?
- Com minha ajuda você pode, mas se você quer saber sobre a minha opinião, se deve aceitar, não sei! É muito difícil opinar, mas eu acho que se você acredita, por alguma razão, que conseguirá aceite! Eu a ajudarei em tudo o que for possível!
- Obrigada Rogério. Eu sei que poderei contar com você, para afastar o perigo de mim!
- Perigo? Que perigo, Jessika?
- Dos famintos da carne de uma pobre jovem! Se não o comprometer, poderemos fingir que somos namorados ou temos um caso!
- Prejudicar-me? Isso será um prazer!
- Então selemos um pacto de amizade. Isso até que não prejudique a nem um dos dois, concorda?
- Concordo, minha...
- Minha; o que Rogério?
- Cúmplice!... Os dois foram procurar Joice, para dizer-lhe sobre a sua decisão!
Joice não estava na sala, então Jessika foi aos seus aposentos. Ela estava recostada na cama, retorcendo em dores! Então Jessika se apavorou, e foi chamar Rogério.
- Eu já esperava isso disse o médico preocupado, depois de examiná-la, e dar-lhe um sedativo.
Desceu ainda muito preocupado, e disse para Jessika. O estado dela se agravou muito. Acho melhor remove-la para o hospital imediatamente! Enquanto isso; vou providenciar a viagem. Joice precisa recuperar as forças para a viagem, e o melhor será no hospital!
- Então providencia imediatamente Rogério. Não perca tempo!
- Não; Jessika. Vamos deixar que ela acorde. Dei-lhe um sedativo forte, e ela deverá dormir algumas horas.
Eu vou ao hospital resolver uns assuntos com respeito á internação! Ou a internarei na fundação mesmo. Lá poderemos cuidar melhor dela.
Eu sei que ela não vai querer viajar sem antes deixar resolvida esta situação!
- Deixa estar Rogério, quando ela acordar; conversaremos e tudo ficará bem. Pode providenciar a viagem!
- Muito bem, já está tomando resolução!...
- Vou dizer-lhe que você vai me ajudar, enquanto ela estiver fora, que poderá viajar descansada!
- Obrigado Jessika!
- Obrigada eu. Você gosta muito dela, não é Rogério?
- Como não pode imaginar!
- Ela ficará boa, você verá!
- Deus a ouça minha cara, Deus a ouça!...
Rogério foi ao hospital providenciar a internação; e Jessika ficou velando o seu sono, atenta a qualquer movimento dela.
De repente, Joice acordou como se viesse de um longo sono!
Meu Deus, como é tarde! Eu dormi muito, Jessika?... O que você está fazendo aqui no meu quarto? Aconteceu alguma coisa? - Onde está o Rogério?
- Joice, você sofreu um mal estar repentino, e Rogério a atendeu, e a medicou. Eu creio que ele foi providenciar sua internação!
- Internação?! Ele está louco? Eu tenho muita coisa para fazer antes de viajar!
- Você não tem nada a fazer, Joice. Você está proibida de fazer qualquer coisa. Tudo o que tiver para fazer, estará por minha conta. A não ser que você não confia em mim, ou aquela procuração não vale nada!
- E verdade? Você resolveu aceitar?
- Sim, Joice, eu conversei com o Dr. Rogério, e ele me disse que você precisa de um tratamento, e terá que se ausentar do país, e se não foi ainda por que não tinha substituta!
- Agora tem, pode viajar descansada!
- Mas você não pode ficar aqui sem...
- Acalme-se minha amiga. Você vai para o hospital agora se recuperar para fazer sua viagem. Esqueça os problemas!
- Mas não é justo você se sacrificar por mim, você é...
- Virgem? Nada tem a ver com isso. Eu lhe disse para esquecer os problemas. Eu saberei me cuidar. Depois eu já combinei com o Dr. Rogerio.
A partir deste momento ele será meu namorado. Ele me protegerá, tenho certeza!
- Você e o Rogério?!
- Não se preocupe minha amiga, será apenas na aparência, para minha proteção, para afastar as aves de rapina!
- Mas seria muito bom que vocês se acertassem mesmo. Ele é uma ótima pessoa, eu ia ficar muito feliz!
- Muito feliz quem vai ficar é eu quando você voltar, e tiver o seu Rogério!
- Jessika!
- Eu sei querida, e ele está sofrendo muito!
- Eu não tenho nenhuma esperança! Mas eu ficaria muito feliz se soubesse que você e ele...
- Está bem, está bem! Agora procura descansar até o Dr. Rogério chegar!
Joice recostou novamente e a sua fisionomia agora estava calma, e logo adormeceu!
Quando Rogério chegou, ela estava dormindo profundamente, e muito calma.
- Como está ela, perguntou preocupado!
- Bem. Acordou muito nervosa, mas conversamos, e ela se acalmou. Eu disse que você havia ido providenciar internação para ela.
- O que ela falou?
- De princípio não aceitou, mas depois contei o que conversamos. Então ela ficou muito feliz, e disse-lhe que você a amava!
- Você disse o que?!
- Que você a amava. Não é verdade?
- Ela sabe que sim, mas o seu estado de saúde nos afasta. Ou melhor, ela afasta qualquer possibilidade!
- Mas quando ela voltar, você estará a sua espera não é?... Não é Doutor?
- Sim, estarei a sua espera!
- Por que você abaixou a vista? O que você está me escondendo? O estado dela não é tão ruim assim, é?
- É sim, Jessika. Muito ruim! Pouca esperança lhe resta!
- Mas afinal, o que ela tem? Que doença é esta que nem nos países adiantado lhe garante a cura?
Rogério colocou o dedo nos lábios com um sinal de silêncio, e chamou Jessika para fora dos aposentos dela.